Política 24/04/2023 07:30

Histórico recomenda precaução a Lula com a CPI do 8 de janeiro

Comissões recentes mostraram que as investigações às vezes ganham vida própria, fogem do controle dos governistas e provocam estragos

Em resposta à demissão do general Gonçalves Dias do cargo de chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), ministros e parlamentares governistas passaram a defender a instalação da CPI do 8 de Janeiro, que foi proposta pela oposição com o objetivo de vender a tese de que Lula e o PT se omitiram diante dos radicais a fim de desgastar a imagem de Jair Bolsonaro e lucrar politicamente.

A mudança de postura do governo deve levar à leitura do requerimento de criação da comissão na próxima semana.

No Palácio do Planalto, dá-se como certo que a investigação reforçará os laços de Bolsonaro com os radicais que invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes.

Há a convicção de que a versão oficial, de tentativa de golpe, prevalecerá. Pode até ser que isso ocorra, mas esse raciocínio desconsidera um dado importante da realidade: nem sempre é possível controlar uma CPI.

O PT sabe bem disso. No auge do escândalo do mensalão, o partido escolheu o novato senador Delcídio Amaral para o papel de relator da CPI dos Correios.

Ele até participou de negociações para livrar o então presidente Lula de constrangimentos no relatório final, mas não poupou outros petistas estrelados, como José Dirceu e José Genoino.

Já em 2012, o PT viu no escândalo do bicheiro Carlinhos Cachoeira uma oportunidade de fustigar adversários políticos do PSDB e do DEM e de constranger o procurador-geral da República responsável pela denúncia do mensalão, processo que seria julgado naquele ano. O partido, então, patrocinou uma CPI para tratar do caso do bicheiro, convicto de que assim desgastaria os rivais e intimidaria o procurador.

Nem tudo saiu como o planejado. A investigação esbarrou num monumental esquema de corrupção, o mesmo que seria descoberto dois anos depois pela Lava-Jato, e foi encerrada às pressas por pressão do próprio PT sobre o relator da comissão, que era um deputado petista.

Jair Bolsonaro também enfrentou dificuldades com a CPI da Pandemia.

O relatório final da comissão não rendeu implicações na Justiça para o ex-presidente, mas foi determinante para desgastar a imagem dele.

É exatamente isso que os oposicionistas querem agora: desgastar Lula — com bons argumentos ou teses furadas, não importa. Nesse projeto, eles contam, além do histórico das CPIs, com o fato de o novo governo ainda não ter uma base organizada no Congresso.

Deu em Veja

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista