Pessoa segurando celular com símbolos gráficos de coração

CRÉDITO,GETTY IMAGES Uso de emojis de coração foi um dos padrões encontrados pelos especialistas

Os próximos passos

Agora que as primeiras versões do modelo de inteligência artificial do SetembroBR já foram criadas, o grupo de especialistas da Each-USP começa a planejar os próximos passos do projeto.

Uma das metas é ampliar a base de dados que será avaliada e refinar as técnicas de aprendizado profundo, para que os resultados melhorem e as análises se tornem mais precisas.

Questionado pela BBC News Brasil se a meta é fazer com que essa ferramenta seja capaz de diagnosticar casos de ansiedade e depressão no futuro, Paraboni pede cuidado.

“Essa é uma das áreas mais perigosas quando pensamos no uso dessas novas tecnologias”, pondera.

“Ninguém quer ser diagnosticado erroneamente ou, pelo contrário, ver um quadro como depressão ou ansiedade passar despercebido.”

“Eu prefiro ver essas bases de dados mais como um complemento, um auxílio, ou um primeiro indicativo de que a pessoa pode estar com alguma questão de saúde mental.”

O cientista da computação antevê que o trabalho possa servir, daqui a alguns anos, para alertar os pais quando o filho estiver enfrentando algum problema.

“Quem sabe isso não possa virar uma ferramenta que analise as redes sociais de crianças e adolescentes e ajude a indicar alguma questão comportamental que mereça atenção e a avaliação de um profissional da saúde?”, especula.

A junção de inteligência artificial, redes sociais e saúde mental não poderia vir num momento mais oportuno.

Primeiro, nunca se falou tanto sobre aprendizado de máquinas quanto agora, momento em que ferramentas como o Chat GPT chegam ao público e provocam grandes discussões na sociedade.

Segundo, o uso das mídias sociais segue em alta — e o Brasil é o terceiro país com o maior número de usuários ativos dessas plataformas em todo o mundo, atrás apenas de Índia e Indonésia.

De acordo com um levantamento publicado em março pela Comscore, os brasileiros mantêm 131 milhões de contas ativas nas redes sociais e passam 46 horas (ou quase dois dias inteiros) do mês mexendo em YouTube, Instagram, Twitter, TikTok e afins.

Para completar, os transtornos psiquiátricos também estão em ascensão. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a depressão afeta 3,8% da população (ou 280 milhões de pessoas).

A entidade também aponta que esses números cresceram ainda mais nos últimos anos: houve um aumento de 25% na prevalência de ansiedade e depressão desde o início da pandemia de covid-19.

Deu em BBC