Cristo é retratado na parede oposta. Sua mão direita é mostrada em um gesto de bênção, e na esquerda ele segura um livro, que está parcialmente preservado.
As obras estão acompanhadas por inscrições atualmente estudadas pela especialista Agata Deptuła. Uma leitura preliminar dos textos em grego levou à sua identificação como escritos da Liturgia dos Dons Pré-Santificados. Já uma inscrição em núbio antigo que acompanha uma cena principal foi considerada extremamente difícil de decifrar.
Uma leitura preliminar do pesquisador Vincent van Gerven Oei mostrou haver ainda várias menções do rei Davi e um apelo a Deus pela proteção da cidade de Dongola, que foi a capital de Makuria, um dos estados africanos medievais mais proeminentes.
Por razões desconhecidas, o rei Davi atacou o Egito, que retaliou invadindo a Núbia e, como resultado, Dongola foi saqueada pela primeira vez em sua história. Talvez a pintura tenha sido criada quando o exército mameluco se aproximava da cidade ou quando já a cercava.
Restauração das pinturas descobertas na Velha Dongola, no Sudão — Foto: Magdalena Skarzynska
A sala com a cena pintada mostrando o rei Davi se assemelha a uma cripta, mas está 7 metros acima do nível do solo medieval. O edifício é adjacente a um local sacro identificado como a Grande Igreja de Jesus, que provavelmente foi a catedral de Dongola e a igreja mais importante do reino de Makuria.
Fontes árabes relatando o ataque do rei Davi ao Egito e a captura do porto de Aidhab e Assuã afirmam que esse ato foi instigado pela Grande Igreja de Jesus. Teria o Arcebispo de Dongola, assim como o Papa Urbano II, incitado Davi a lançar uma cruzada? Escavações posteriores podem fornecer respostas a estas e outras questões.
Imediatamente após a descoberta, conservadores começaram a trabalhar nas altas temperaturas típicas de março no Sudão para preservar as pinturas. Arqueólogos da Universidade de Varsóvia devem retornar ao local das escavações para novas investigações ainda neste ano de 2023.