Saúde 11/02/2023 09:44

Estudo associa sintomas duradouros da Covid-19 à inatividade física

Em estudo no periódico Scientific Reports, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) apontam que pacientes com ao menos um sintoma persistente da infecção pelo coronavírus têm um risco 57% maior de serem sedentários.

O elo entre sintomas da Covid-19 e a inatividade física torna-se cada vez mais evidente.

Em estudo no periódico Scientific Reports, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) apontam que pacientes com ao menos um sintoma persistente da infecção pelo coronavírus têm um risco 57% maior de serem sedentários.

Esse número cresce para 138% entre aqueles que reportam cinco ou mais “sequelas pós-agudas do SARS-CoV-2”, como dizem os pesquisadores.

“Apesar de ser um estudo transversal, os resultados dessa investigação destacam a importância de discutirmos e estimularmos a atividade física também durante a pandemia”, afirma Hamilton Roschel, um dos coordenadores do Grupo de Pesquisa em Fisiologia Aplicada e Nutrição da USP.

O trabalho, que teve apoio da Fpesp, é um dos primeiros a avaliar o efeito da atividade física no contexto da Covid longa, quadro usualmente caracterizado pela persistência de sintomas por ao menos dois meses – e que não podem ser explicados por outros problemas que não a infecção por esse vírus.

Relatório de 2020 já dava conta de que 76% dos pacientes internados por causa do coronavírus reportaram pelo menos um sintoma persistente seis meses depois da alta.

Um estudo transversal

Os dados analisados foram coletados no âmbito do COVID-19 Study Group, que reúne pacientes internados no Hospital das Clínicas, em São Paulo. Um total de 614 pessoas com idade média de 56 anos foram incluídas na investigação, todas com diagnóstico confirmado por testes laboratoriais.

De seis a 11 meses após as hospitalizações (que ocorreram entre outubro de 2020 e abril de 2021), elas foram examinadas e responderam a diversos questionários, que abrangiam a prática de atividade física, o estilo de vida e a possível presença de dez sintomas ligados à COVID-19 – de falta de ar a problemas de memória.

A inatividade foi definida seguindo o critério da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ou seja, menos de 150 minutos de atividade física por semana. “No nosso caso, isso envolvia deslocamentos, práticas esportivas, tarefas domésticas”, completa Roschel. Os pesquisadores então cruzaram os dados envolvendo sintomas da COVID-19 com os de inatividade física para chegar aos resultados.

Mais sintomas, mais sedentarismo

Dos pacientes analisados, 60% eram inativos fisicamente – taxa maior do que os 47% observados no levantamento Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), feito pelo Ministério da Saúde em 2020, para brasileiros de faixa etária semelhante.

Eles também apresentavam uma alta taxa de comorbidades: 37% eram fumantes, 58% tinham hipertensão, 35% foram diagnosticados com diabetes e 17% eram obesos.

“Esses são fatores de risco para agravamento da COVID-19. Como todas as pessoas analisadas foram hospitalizadas, era natural que eles aparecessem de forma frequente”, argumenta Roschel. Para ter ideia, 55% necessitaram de cuidados em UTI [Unidade de Terapia Intensiva] e 37%, de ventilação mecânica.

Mesmo fazendo ajustes para evitar que esses e alguns outros fatores interferissem nos resultados, a presença de ao menos um sintoma persistente foi associada a um risco 57% maior de sedentarismo, como mencionado antes.

“E, quanto mais sintomas, maior a porcentagem de inatividade física”, complementa Roschel. A presença de cinco ou mais sintomas chegou a elevar o risco de inatividade física em 138%.

Deu em Diário do Poder
Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista