Empresas 27/01/2023 11:26
Americanas: indícios de fraude levam bancos cada vez mais perto de patrimônio do trio 3G
Bradesco é o primeiro a conseguir mandado para busca e apreensão de documentos e outros três bancos têm pedidos semelhantes
O banco Bradesco (BBDC4), maior credor da Americanas (AMER3) entre os bancos afetados, com R$ 4,7 bilhões a receber, não foi o único a pedir, mas é o primeiro a conseguir um mandado de busca e apreensão para a correspondência entre os administradores da companhia, relativa aos últimos dez anos.
A decisão foi proferida pela Justiça de São Paulo em razão dos indícios significativos de que houve fraude contábil na companhia, que revelou ter R$ 20 bilhões em passivos não declarados — o que culminou em um pedido de recuperação judicial pela empresa com mais de R$ 43 bilhões em dívidas assumidas.
A instituição terá acesso aos e-mails dos diretores, atuais e que estiveram no cargo durante os últimos dez anos, os conselheiros de administração, os membros do comitê de auditoria, bem como de funcionários da contabilidade e da área financeira.
O objetivo do Bradesco com a medida é o semelhante ao de todos os bancos credores: o ajuizamento de ação de desconsideração da personalidade jurídica, para poder acessar o patrimônio dos controladores, ação de responsabilização dos administradores pelos danos causados a terceiros e ação para responsabilização dos acionistas controladores em razão de danos causados por atos praticados com abuso de poder.
O decorrer dos dias deixa cada vez mais claro que o rombo de R$ 20 bilhões na Americanas não coloca em risco apenas o futuro da companhia, mas também do patrimônio dos controladores.
Juntos eles possuem uma fortuna estimada em R$ 180 bilhões, entre ações de empresas, como Ambev e sua dona AB Inbev, Kraft-Heinz e Burger King, além de outros investimentos.
A definição sobre existência de fraude é crucial para o xadrez judicial que os bancos credores já estão jogando e o tamanho da pressão que podem exercer.
A comprovação disso pode até mesmo prejudicar o direito a uma recuperação judicial e, no limite extremo, levar a companhia diretamente para falência, em um cenário em que os donos passariam a ter responsabilidade para cobrir os compromissos existentes com os mais diversos stakeholders envolvidos e poderiam até serem alvos de ações penais.
Isso tudo abre caminho para os credores pleitearem o uso do patrimônio do trio para cobrir o buraco, como ações da Ambev e outros investimentos detidos.
Na primeira semana em que o problema veio à tona, Lemann, Telles e Sicupira se dispuseram a colocar R$ 6 bilhões em dinheiro novo para capitalizar a empresa, enquanto os bancos teriam de completar esse montante pela conversão de dívida em capital, em uma operação total estimada em R$ 20 bilhões.
Os credores não querem nem ouvir falar desse modelo, uma vez que a suspeita da causa de todo problema seria a maquiagem do balanço da empresa. Entendem que isso deve ser tudo colocado em dinheiro novo e pelos sócios.
O trio é dono da empresa desde 1982. Hoje possuem apenas 31% do capital total e votante, fruto de uma reestruturação societária que uniu Lojas Americanas e B2W e levou as companhias, após a combinação, para o Novo Mercado da B3 — o segmento que supostamente é dedicado às empresas com as melhores práticas de governança corporativa.
Se a conta inicial é a necessidade de R$ 20 bilhões para salvar a companhia, não há dúvida de que o tempo só fará esse valor crescer.
A vida não está parada à espera de uma solução. Enquanto isso, fornecedores se protegem e clientes ficam receosos e não querem correr risco de comprar e não receber. A Americanas terá cada dia mais desafios para ter o que vender e para quem vender, prejudicando o fluxo de caixa rotineiro do negócio. Tanto mais tempo a solução tomar, mais deteriorada estará a situação.
O varejo é um negócio muito mais sensível nessas situações do que indústrias ou prestações de serviço. Afinal, trata-se de um intermediário entre produtores de bens e consumidores. E para que a cadeia funcione é preciso confiança no fluxo de pagamentos e entregas.
Apesar da batalha sangrenta na Justiça, a companhia ainda tenta diálogo para um plano de recuperação. A negociação desse tipo de solução tradicionalmente é demorada. Só que o tempo aqui não conta a favor nem da empresa, nem de seus controladores.
O EXAME IN apurou que existe um debate, neste momento, entre os próprios sócios da 3G Capital sobre qual o tamanho da responsabilidade e, portanto, do cheque que cada um precisa por. Sicupira é, sabidamente, o representante dos sócios que, em tese, cuidava da companhia.
“Eles estão considerando como um investimento que não deu certo. Estão acostumados a fazer acordos, mas extrajudiciais. Eles não entenderam ainda o que está em jogo aqui, para além da reputação. A responsabilidade aqui é de dono. ”
Os bancos, por enquanto, não estão atuando de forma coordenada e conjunta.
Mas nada impede que possam vir a fazê-lo no futuro. Existem diferenças de contratos e de quem bloqueou ou compensou recursos antes ou depois da medida cautelar que Americanas obteve antes mesmo da proteção judicial. Isso está trazendo nuances para as estratégias.
Ainda que haja uma tentativa de saída negocial por parte da companhia, as pressões contra o trio aumentaram.
E o correr do relógio está gastando a paciência dos credores e deteriorando o negócio.
Deu em Exame
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