A queda de braço entre os bancos e a Americanas deverá ser longa. De um lado, uma empresa que anunciou, pouco mais de 10 dias atrás, ter identificado uma inconsistência contábil de R$ 20 bilhões em seu balanço. Do outro lado, instituições financeiras que descobriram que a dívida real da Americanas era o dobro do que a varejista informava até então.
Para construir uma fortuna de mais de R$ 180 bilhões, o trio conduziu os negócios com mão de ferro. É difícil esperar, portanto, uma postura diferente à mesa de negociação.
“Conhecendo os três (Lemann, Sicupira e Telles), posso dizer que, se os bancos exigirem uma capitalização de mais ou menos R$ 15 bilhões, eles vão deixar a Americanas falir”, prevê Luiz Cezar Fernandes, empresário de 78 anos que foi sócio do trio no antigo banco Garantia.
Sociedade com Lemann, Sicupira, Telles e… André Esteves
Fernandes recebeu a reportagem do Metrópoles em sua casa, em São Paulo, na tarde da última terça-feira (24/1). Afastado do trio bilionário há anos, em razão de desentendimentos amplamente conhecidos no mercado e que levaram ao fim da sociedade no Garantia, o empresário também foi sócio de outra figura importante do atual imbróglio.
Quando se desentendeu com os sócios do Garantia, Fernandes saiu da sociedade e montou o Pactual. Entre seus “pupilos” no banco de investimento, estava André Esteves. Hoje, Esteves é sócio do BTG Pactual, o maior banco de investimentos da América Latina, e está na trincheira oposta à de Lemann, Sicupira e Telles.
Além de valores depositados em contas da Americanas, o banco teria também bloqueado aplicações financeiras dos sócios, algo que aumentou a temperatura da briga.
“O que o BTG fez foi correto, diante do que sabemos do balanço da Americanas. É papel do banco fazer isso: afinal, ele administra o dinheiro de terceiros. Um bom banqueiro ‘mete a mão’ primeiro e depois discute”, defende Fernandes.
ReproduçãoLuiz Cezar Fernandes, ex-sócio dos bancos Garantia e Pactual
“Beto mandava em tudo”
Quando ainda estava no Garantia, Fernandes acompanhou a aquisição da Americanas pelo trio, em 1982. Na época, a operação saiu por US$ 27 milhões – “quase de graça”, como classifica o ex-sócio. Ele conta que, um ano depois da aquisição, a Americanas distribuiu mais de US$ 27 milhões em lucro para os sócios e, assim, a operação se pagou.
“Desde o princípio, o Jorge (Lemann) e o Marcel (Telles) entregaram ao Beto (Sicupira) o comando da Americanas. Era ele quem mandava em tudo e ditava as cartas por lá. Foi assim nos últimos 40 anos”, afirma o empresário.
Fernandes conta que Sicupira concentrou todo o poder de decisão na Americanas, inclusive sobre a nomeação do presidente e demais executivos.
“Se o Beto falasse: ‘vamos pintar essa parede de verde’, aquela era a última palavra. Mesmo que não fosse a melhor decisão, quem questionasse era demitido”, diz.