Animais 31/08/2022 08:00

Seu cão não enxerga mais e passa o dia triste pelos cantos? Conheça a coleira inteligente

A engenheira de computação Luana Wandecy, 32, e a administradora Natália Dantas, 32, sentiram esse problema na pele. Ou melhor, Princesa e Sherlock, os poodles de cada uma, passaram por essa situação.

Quem já teve um cachorrinho que ficou cego, pela idade ou por alguma doença, sabe quão sofrido é ver o animal colidindo com objetos e portas, e não conseguir fazer nada a respeito.

A engenheira de computação Luana Wandecy, 32, e a administradora Natália Dantas, 32, sentiram esse problema na pele. Ou melhor, Princesa e Sherlock, os poodles de cada uma, passaram por essa situação.

Depois de se conhecerem em uma maratona empreendedora e descobrirem que viviam a mesma dor, as duas decidiram criar uma solução tecnológica para minimizar os transtornos trazidos para cães e suas “famílias humanas” com a perda da visão do animal.

Nascia assim, no final de 2015, a BlinDog, uma startup potiguar com a missão de produzir coleiras inteligentes. Por meio de uma vibração, o acessório ajuda o cãozinho com a visão debilitada, dando mais autonomia para andar com tranquilidade pela casa e sair para passear.

O problema não é pontual, de acordo com pesquisas feitas pelas sócias. Luana, CEO, afirma:

“Cruzando dados do IBGE sobre o número de cães em lares brasileiros com uma pesquisa canadense, descobrimos que somente a diabetes e o glaucoma deixaram mais de 6 milhões de cães cegos no Brasil”

Há quatro anos no mercado, a coleira da BlinDog já foi vendida para mais de 3000 tutores (ou seja, “donos” de pets) em todos os estados brasileiros — e também de fora do país, como Canadá, Colômbia e Portugal.

Agora a startup pretende usar a tecnologia para solucionar outras questões do mundo animal.

AS DUAS SÓCIAS SE CONHECERAM NUMA EDIÇÃO POTIGUAR DO STARTUP WEEKEND

Um dos eventos mais conhecidos globalmente no universo startupeiro é o Startup Weekend, desafio em que os participantes precisam validar uma ideia de negócio em um fim de semana, com apoio de mentores, especialistas e investidores.

O interessado se inscreve citando sua especialidade; durante o evento são formadas equipes. Foi assim que Luana e Natália se conheceram e descobriram que passavam pelo mesmo problema com cachorros que haviam perdido a visão pela catarata.

A cachorrinha de Luana tinha 17 anos na época; os choques contra portas e objetos trouxeram outras consequências, como conta a CEO:

“As batidas eram tão fortes que chegaram a causar problemas neurológicos em Princesa, mesmo colocando almofadas e tapetes pela casa para evitar as colisões”

Sherlock, cachorro de Natália, tinha 15 anos quando as sócias se conheceram. Foi o primeiro usuário do protótipo da coleira, criado pela dupla naquele fim de semana.

Antes de ser chegar ao mercado, o dispositivo foi testado em outros 50 “usuários beta” — cachorros de diferentes portes e raças de amigos e conhecidos das sócias.

COMO A COLEIRA DA BLINDOG AVISA O CACHORRO SOBRE OBSTÁCULOS NO CAMINHO

Para criar a coleira e lançar a startup, as sócias realizaram investimento próprio.

Luana já tinha experiência profissional em projetos de hardware. Por isso, ficou responsável pelo desenvolvimento do dispositivo, que funciona por meio de um sensor ultrassônico.

As ondas emanadas pelo hardware batem em um obstáculo e retornam à coleira, que emite alertas vibratórios pulsados para avisar o animal sobre um objeto em seu caminho.

  1. 2. As vibrações emitidas pela coleira da BlinDog ajudam o cachorro cego a entender que há um obstáculo à frente.

Com 3 centímetros de altura por 5 cm de largura e peso de 50 gramas, tem uma distância mínima de vibração, que varia de acordo com o tamanho do focinho do cachorro e se intensifica à medida que o animal se aproxima do obstáculo.

“Hoje temos quatro modelos de coleira (PP, P, M e G), que se baseiam na distância entre o pescoço e a ponta do focinho do cão, e não no porte do animal. Um Boxer, por exemplo, vai ter essa medida parecida com a de um Schnauzer. Um Labrador terá a medida similar à de um ‘salsichinha’ [Dachshund]”, diz Luana.

Atentar a essa especificação na hora de comprar a coleira é importante, diz a empreendedora. Assim, evita-se que o dispositivo vibre a distâncias muito curtas, quando o cão for tomar água ou se alimentar, por exemplo. No geral, a coleira começa a vibrar a dois palmos de distância de uma barreira.

MAS AFINAL: COMO OS ANIMAIS DECIFRAM O SIGNIFICADO DESSE ALERTA VIBRATÓRIO? 

Segundo Luana, o ritmo de adaptação à coleira inteligente varia de cão para cão.

“Em média, em uma semana o animalzinho está acostumado, mas tem cachorro que em 30 minutos já está desviando dos obstáculos”, diz.

O fato é que o animal aprende sozinho a entender o significado da vibração da coleira, sem que você tenha de recorrer a um adestrador.

“Num primeiro momento, o dispositivo vai vibrar e o cão não vai saber o que significa esse alerta, e acabará colidindo. Mas conforme isso se repete, ele começa a fazer essa associação, mudando o percurso”

No começo, indica Luana, é importante o tutor usar reforços positivos. “Quando o cachorro desviar, vale parabenizar, fazer um carinho ou dar um petisco. Isso ajuda o animal a entender mais rapidamente.”

A coleira funciona com uma bateria, que dura de 12 horas até dois dias; a recarga leva em média duas horas.

As sócias começaram vendendo o produto por 299,99 reais; com o tempo, viram que o preço era insustentável, devido ao custo de matéria-prima e produção. Hoje, sai por 454 reais.

  1. 3. As coleiras inteligentes custam 454 reais e podem ser compradas pelo site da BlinDog.

Por ora, a coleira é vendida (nas cores azul escuro, azul claro, branco, laranja, vermelho, preto e rosa) pelo site, pela Magazine Luiza e pelo Mercado Livre.

PARTICIPAR DO SHARK TANK IMPULSIONOU O DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS

Em setembro de 2019, cientes de que necessitavam de um aporte para expandir, Luana e Natália se inscreveram no Shark Tankreality show da Sony (transmitido também pela Bandeirantes).

Durante o programa, atraíram a atenção de João Appolinário, presidente e fundador da Polishop, e um dos “tubarões” do reality show. O empresário ofereceu 300 mil reais de investimento por 33% da BlinDog, com a condição de que as sócias desenvolvessem outros produtos tecnológicos para o setor pet, que poderiam ser vendidos na Polishop.

Luana e Natália toparam, e agora trabalham na produção de dois novos hardwares (com lançamento previsto para o primeiro semestre de 2023).

O MERCADO PET SEGUE CRESCENDO, MAS AINDA FALTAM SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS

De acordo com o Instituto Pet Brasil, o setor deve ter um incremento de 12% neste ano, com faturamento de 58,9 bilhões de reais.

O Brasil é o terceiro país no ranking mundial do segmento, atrás dos Estados Unidos e da China. Luana acredita que o mercado nacional ainda pode ser muito melhor explorado:

“Somos o único negócio do ramo com foco em animais cegos. O que vemos de [produtos de] concorrentes aqui e no exterior é uma espécie de bambolê que protege o animal e impede que ele colida. Tem muita coisa para ser desenvolvida na área tecnológica”

Ainda sobre novos produtos, as sócias planejam desenvolver uma coleira para gatos cegos; antes, precisam adaptar o design do hardware para atender as peculiaridades do exigente público felino.

“Teríamos que reduzir bastante o tamanho da coleira, porque até com medalhinhas de identificação os gatos ficam incomodados”, diz Luana. “Estamos estudando isso.”

COM TUTORES EM HOME OFFICE, A SAÚDE DO ANIMAL VEM GANHANDO MAIS ATENÇÃO

A BlinDog se posiciona como um negócio social. Figurou no TOP 10 do Startup Awards, na categoria Impacto Social; mesmo sem chegar à final, já foi um passo importante para o propósito da empresa, diz Luana.

Princesa, sua cadelinha, não teve tempo de desfrutar da coleira inteligente; Sherlock, o cãozinho da Natália, aproveitou o dispositivo por três meses antes de morrer.

Hoje, as empreendedoras convivem com outros pets: Luana se divide entre os Yorkshires Marley, Lua e Luz, enquanto Natália cuida da vira-lata Serena e dos gatos Romeu e James.

A Covid-19 impactou a demanda e o interesse do público, por conta do home office e do aumento do número de adoções (motivadas provavelmente pela solidão do isolamento social):

“Por estarem convivendo mais com seus cães, as pessoas começaram a perceber que eles colidiam com objetos porque estavam ficando cegos. Consequentemente, aumentou o interesse pela nossa solução e a demanda cresceu 40%”

Uma alegria é receber relatos dos tutores sobre a mudança de comportamento dos bichinhos.

“Com medo de andar, alguns cães permaneciam o dia todo deitados e tristes…”, diz Luana. “À medida que usam o dispositivo, eles se sentem mais seguros, voltam a passear e a brincar. É como se os tutores tivessem recuperado aquele animal.”

Fonte e fotos: Assessoria

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista