Saúde 29/08/2022 19:00

Dengue: casos e mortes disparam no Brasil; mudança climática faz vírus circular

Mosquito 'Aedes aegypti' não sobrevive por muito tempo em baixas temperaturas, mas ovos podem ficar adormecidos e se desenvolver com a chegada de dias quentes

Independentemente da estação do ano, as medidas de combate à dengue devem ser mantidas de forma contínua.

Embora o período conhecido como de maior transmissão seja entre novembro e maio, as mudanças climáticas têm ampliado os riscos de proliferação do mosquito transmissor mesmo em outras estações do ano.

Entre 2 de janeiro e 18 de junho de 2022, conforme o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, houve 1.172.882 casos de dengue no Brasil, o dobro de notificações registradas ao longo de todo o ano passado: 534.743.

Até o último balanço foram confirmadas 585 mortes — aumento superior a 130% em relação aos 246 óbitos contabilizados em 2021. Entre os estados que apresentaram o maior número estão: São Paulo (200), Santa Catarina (66), Paraná (60), Rio Grande do Sul (57) e Goiás (55).

“Os casos de dengue estão estourando. Já temos, inclusive, mais óbitos, em apenas seis meses, do que os registrados ao longo de todo o ano passado. Estamos vivenciando uma das piores epidemias da doença. E há receio de termos um cenário pior que o registrado em 2015, quando houve uma das piores epidemias da doença, com 986 mortes”, avalia o médico infectologista Alexandre Naime Barbosa, vice-presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista).

Embora o Aedes aegypti não sobreviva por muito tempo em baixas temperaturas — ao contrário do ocorre no verão, quando o ciclo de vida pode chegar a até 60 dias —, os ovos e as larvas depositados na água permanecem vivos, podendo se desenvolver e dar origem a novos mosquitos com a chegada de semanas quentes, em qualquer época do ano.

Segundo o Ministério da Saúde, o período do ano com maior transmissão ocorre nos meses mais chuvosos de cada região, geralmente de novembro a maio.

O acúmulo de água parada contribui para a proliferação do mosquito e, consequentemente, a maior disseminação da doença.

No entanto, em anos com invernos chuvosos como o de 2022, o número de casos também tende a crescer, caso medidas de controle não sejam mantidas.

“Tivemos dois fatores. A questão toda é a chuva, mas no começo do inverno, no Sudeste e Sul, por exemplo, fez muito calor. Semanas com temperaturas maiores. Ou seja, as mudanças climáticas fazem com que a temperatura mais quente e mais chuva ofereçam uma condição perfeita para a proliferação do vetor”, observa Barbosa.

O surgimento de outras doenças, como a Covid-19, tende a reduzir o número de campanhas de conscientização, assim como provocar o relaxamento de ações preventivas por parte da própria população.

“As pessoas acabam relaxando mais com relação às medidas de controle de combate à doença. Essa falta de ação contínua de conscientização por parte das autoridades e o relaxamento da população impactam o aumento de casos. Precisam ser retomadas o quanto antes. Está circulando o genótipo 2, que fazia um tempo que não circulava, que não é o mesmo da epidemia de 2015, e, dessa forma, as pessoas têm mais suscetibilidade ao vírus”, acrescenta o médico infectologista da Unesp.

Deu em R7

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista