Corrupção 25/01/2022 12:45

Índice de Percepção da Corrupção aponta mau desempenho do Brasil, que fica abaixo da média mundial e também da América Latina

Índice da Transparência Internacional coloca o país com 38 pontos, em 96º lugar, atrás de países como Etiópia, Arábia Saudita e China

O Brasil segue mal avaliado no Índice de Percepção da Corrupção (IPC) 2021, divulgado hoje pela Transparência Internacional e considerado o principal indicador de corrupção no mundo.

Em uma escala de 0 a 100, o país alcançou apenas 38 pontos, mesma nota obtida no ano anterior, mas caiu duas posições e agora ocupa a 96ª colocação entre os 180 países e territórios avaliados.

O desempenho ruim do país o coloca mais uma vez abaixo da média global, de 43 pontos, mas também abaixo da média dos BRICS (39 pontos), da média regional para a América Latina e o Caribe (41 pontos) e ainda mais distante da média dos países do G20 (54 pontos) e da OCDE (66 pontos).

As melhores notas foram atribuídas a Dinamarca, Finlândia e Nova Zelândia (os três com 88 pontos) e Noruega, Singapura e Suécia (os três com 85 pontos). No extremo oposto, os países com as piores avaliações pelo IPC foram Venezuela (14), Somália e Síria (ambos com 13) e Sudão do Sul (11).

Elaborado desde 1995, o IPC passou por alterações metodológicas em 2012, o que tornou possível a leitura dos dados em série histórica. O índice é composto por 13 pesquisas e avaliações de especialistas, produzidas por instituições reconhecidas internacionalmente.

Para desenvolver o IPC, a Transparência Internacional compila anualmente os resultados de perguntas destas pesquisas, que dizem respeito à percepção da corrupção no setor público dos países em diferentes aspectos. No caso do Brasil, o resultado teve como fonte oito destas pesquisas.

Resultado e contexto do Brasil – A nota alcançada pelo Brasil em 2021 representa o terceiro pior resultado da série histórica. Com exceção dos anos de 2012 e 2014, o país esteve abaixo da média global do IPC em todas as avaliações (confira os gráficos abaixo).

A Transparência Internacional alerta para a situação do país, que, com pequenas variações, se mantém estagnado em um patamar muito ruim em relação à percepção da corrupção no setor público.

Ações recentes do governo federal, do Congresso Nacional e do Judiciário, no entanto, levaram a retrocessos no arcabouço legal e institucional anticorrupção do país que tornam a situação ainda mais preocupante.

“O Brasil está passando por uma rápida deterioração do ambiente democrático e desmanche sem precedentes de sua capacidade de enfrentamento da corrupção. São marcos legais e institucionais que o país levou décadas para construir. Isso traz consequências ainda mais graves por ocorrer em meio à pandemia da COVID-19, quando a transparência e o controle dos recursos públicos deveriam ser priorizados para garantir seu bom uso frente à tragédia humanitária”, destaca Bruno Brandão, diretor executivo da Transparência Internacional – Brasil.

A Transparência Internacional – Brasil vem denunciando o enfraquecimento do combate à corrupção no país nos últimos anos em diversos relatórios e publicações. Paralelamente à divulgação do IPC 2021, a organização publicou o relatório Retrospectiva Brasil 2021, com uma análise dos principais acontecimentos que impactaram o sistema anticorrupção brasileiro no ano passado.

O relatório descreve um ano em que os brasileiros e o mundo assistiram a diversas investidas antidemocráticas por parte do presidente Jair Bolsonaro, além de graves interferências em instituições essenciais para o enfrentamento da grande corrupção, como a Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República.

A CPI da Covid-19 documentou extensamente os indícios de corrupção e outros crimes atribuídos a agentes do estado — entre eles o próprio presidente da República.

Apesar das gravíssimas consequências humanitárias destes crimes, há grande risco de não se alcançarem as devidas responsabilizações, graças à impunidade sistêmica de réus de colarinho branco no Brasil — agravada pelo processo de captura do estado pelo atual governo.

A Transparência Internacional – Brasil ainda alerta para a gravidade do esquema entre governo federal e Congresso Nacional que ficou conhecido como “orçamento secreto”, através do qual emendas parlamentares sem transparência e controles regulares são moeda de troca por apoio político, e de decisões judiciais que levaram a anulações de sentenças que já tinham sido julgadas por instâncias avançadas da Justiça, provocando insegurança jurídica e percepção de impunidade em casos de grande corrupção com graves consequências sobre os direitos humanos.

O relatório traz também recomendações às autoridades competentes, com medidas específicas que podem conter novos retrocessos e avançar sobre as causas estruturais da corrupção sistêmica no Brasil.

Corrupção, Direitos Humanos e Democracia — Neste ano, o Índice de Percepção da Corrupção destaca a relação entre corrupção, abusos de direitos humanos e enfraquecimento da democracia. Na edição anterior, o IPC relacionou os riscos que a pandemia da Covid-19 poderia trazer para os níveis de corrupção globais.

No relatório lançado hoje, a Transparência Internacional destaca que a corrupção possibilita abusos de direitos humanos e, à medida que direitos e liberdades civis vão erodindo, a democracia entra em declínio e dá lugar ao autoritarismo — que possibilita níveis ainda maiores de corrupção.

A organização aponta que, dos 23 países cujo desempenho no IPC diminuiu significativamente na última década, 19 também diminuíram seus índices de preservação de liberdades civis.

O Brasil aparece em outra estatística preocupante levantada pela TI: 98% dos assassinatos de defensores de direitos humanos registrados em 2020 ocorreram em países com alta percepção de corrupção. O Brasil, com apenas 38 pontos no IPC, registrou 17 defensores de direitos humanos assassinados no período.

“A incapacidade de produzir avanços no combate à corrupção coloca em risco a garantia dos direitos humanos no Brasil. A corrupção é indutora de violações e ativa um ciclo vicioso no qual os direitos e liberdades são erodidos, a democracia perde fôlego e o autoritarismo ganha espaço. Portanto, a luta contra a corrupção não é um mero detalhe quando se fala em direitos humanos. É uma luta imperativa para garantir direitos “, destaca Nicole Verillo, gerente de Apoio e Incidência Anticorrupção da Transparência Internacional – Brasil.

No documento Retrospectiva Brasil 2021, publicado simultaneamente pelo capítulo brasileiro da Transparência Internacional, a organização aponta para a deterioração do espaço cívico no país e cita, como exemplos, a montagem de dossiês contra opositores do governo, investigações baseadas na Lei de Segurança Nacional contra jornalistas e ataques coordenados de milícias digitais incitadas pelo discurso de ódio do presidente Bolsonaro, além de episódios de violência física contra a imprensa.

A tentativa do governo federal de comprar o software de vigilância Pegasus, já utilizado por regimes autoritários ao redor do mundo contra a imprensa e opositores, e outras denúncias sobre esforços para a montagem de aparatos clandestinos de inteligência também são citados como alertas de deterioração do espaço cívico e da governança democrática no país — elementos essenciais para a luta contra a corrupção e a defesa de direitos fundamentais.

Conteúdo de apoio

Ano 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Nota do Brasil 43 42 43 38 40 37 35 35 38 38
Posição do Brasil 69 72 69 76 79 96 105 106 94 96
Quantidade de países avaliados 176 177 175 168 176 180 180 180 180 180

 

 

Para ver o relatório completo do IPC 2021 e a Retrospectiva Brasil 2021, acesse o site oficial do IPC.

Sobre a Transparência Internacional

A Transparência Internacional é um movimento global com um mesmo propósito: construir um mundo em que governos, empresas e o cotidiano das pessoas estejam livres da corrupção. Atuamos no Brasil no apoio e mobilização de grupos locais de combate à corrupção, produção de conhecimento, conscientização e comprometimento de governos, empresas e cidadãos com as melhores práticas globais de transparência e integridade, entre outras atividades.

A presença global da TI nos permite defender iniciativas e legislações contra a corrupção e que entes públicos e privados efetivamente se submetam a elas.

Nossa rede também significa colaboração e inovação, o que nos dá condições privilegiadas para desenvolver e testar novas soluções anticorrupção.

Fonte: Assessoria

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista