Tudo isso gerou um crescimento em mais de 140% o número de procedimentos estéticos em jovens nos últimos anos e a justificativa é, justamente, as redes sociais que geram insatisfação com o corpo, distúrbio de imagem e busca pelo corpo perfeito.
Mas os riscos são inúmeros e indiscutíveis. Estudos consagrados apontam que a taxa de mortalidade para lipoaspiração, o procedimento que mais mata no Brasil, é de 19 mortes para cada 100.000 cirurgias realizadas.
Afinal, o que é a felicidade?
Segundo a fundadora do Instituto Feliciência, Carla Furtado, a felicidade “é uma experiência intrínseca, dispensa o reconhecimento de terceiros”.
Ela é um sentimento passageiro, portanto, no final das contas, não é sobre “ser feliz” e sim “ter felicidade”.
“A felicidade não é nem um pouco parecida com a ideia de felicidade mostrada em redes sociais e em programas de autoajuda, ao contrário, o conceito de felicidade é abstrato”, revelou a psicanalista Ciomara.
“Filósofos e pensadores de toda a história da humanidade têm tentado defini-la, porém o que sabemos é que ela é passageira, singular e renovável, ou seja, quando a felicidade acaba, podemos encontrá-la de novo, mas se perdermos a nossa liberdade em busca da felicidade definida por um meio externo a nós mesmos, já começamos a perdê-la de novo”, explicou Ciomara.
De acordo com a especialista, é possível se esforçar para ter felicidade e, apesar de poder ser algo duradouro, não é interminável.
“Felicidade acontece, podemos até fazer certos esforços para ser feliz, mas ela será sempre assim, dinâmica, passageira e única como experiência de cada pessoa”, disse.
Dessa forma, Ciomara aponta a positividade tóxica como algo que destrói um sentimento genuíno.
Mesmo que se vivam muitos momentos felizes, a pergunta que se deve fazer sempre que for expor esse sentimento é “de que forma e para quê desejamos nos mostrar felizes? Se precisamos ‘exibir’ a felicidade, devemos nos questionar intimamente se realmente se trata de felicidade legítima e qual a razão para isso”, avisou Carla.
Sendo assim, a vida é formada pelo equilíbrio entre sentimentos tristes e felizes. A beleza de ser mentalmente saudável é entender que permitir viver e processar os momentos ruins é algo necessário para o crescimento humano.
“Precisamos nos reconciliar com a humanidade que nos constitui, humanidade essa que vivencia diariamente diferentes valências emocionais e que vai experimentar ao longo da existência experiências de sofrimento”, relembrou Carla.
Esses momentos de tristeza são “férteis para mudanças necessárias, devem ser acolhidos e não desprezados, ficar triste e introspectivo, pode ajudar a pensar e isso é sempre bom. Claro que existem sinais que nos alertam para quadros que possam se prolongar, gerar depressão ou até mesmo paralisar a vida de uma pessoa, mas isso já é um outro momento da vida que requer ajuda, um tratamento mais específico. Mas só o fato de ficar triste, às vezes ajuda muito a fazer descobertas pessoais”, alertou Ciomara.
Sem falar que, mesmo que uma pessoa esteja feliz, existem outras milhões vivendo dias difíceis. Por isso, uma boa dose de empatia sempre cai bem.
“Nunca é demais lembrar que há sofrimento ao nosso redor, há que se ter empatia em meio a luto coletivo, crise econômica e fome atingindo a casa dos milhões de brasileiros. Felicidade é resultado do equilíbrio entre o eu e o nós. É, ainda, sobre autenticidade e congruência”, lembrou Carla.
Deu em Correio Braziliense