Vacina 04/06/2021 10:09

Covid-19: Brasil e outros 51 países encomendaram vacinas antes da aprovação de ‘Anvisas’

As tratativas para garantir as vacinas contra a covid-19 começaram muito antes do que se imagina: no dia 1° de maio de 2020, o Reino Unido anunciou que havia garantido 90 milhões de doses do imunizante AZD1222, que naquele momento estava sendo desenvolvido e estudado por AstraZeneca e Universidade de Oxford.

As tratativas para garantir as vacinas contra a covid-19 começaram muito antes do que se imagina: no dia 1° de maio de 2020, o Reino Unido anunciou que havia garantido 90 milhões de doses do imunizante AZD1222, que naquele momento estava sendo desenvolvido e estudado por AstraZeneca e Universidade de Oxford.

Começava ali uma verdadeira corrida mundial para a compra dos primeiros lotes dos produtos que protegem contra o coronavírus: ao longo dos meses seguintes, outros 51 países abriram negociações com 16 laboratórios farmacêuticos e institutos de pesquisa diferentes.

Até janeiro de 2021, esse grupo de nações já havia firmado acordos que certificaram a possível entrega de mais de 5,4 bilhões de doses das vacinas em estudo.

Esses dados fazem parte de um levantamento feito pela reportagem da BBC News Brasil, que compilou e organizou as informações disponibilizadas no site do Centro de Inovação em Saúde Global da Universidade Duke, nos Estados Unidos.

Detalhe importante: muitas dessas encomendas de vacinas foram realizadas antes mesmo da aprovação para uso pelas agências regulatórias de cada local — no Brasil, o órgão responsável por fazer essa liberação é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa.

Vale destacar que nenhum país aplicou esses produtos antes da liberação por essas entidades de saúde pública: a negociação antecipada serviu apenas para garantir os primeiros lotes fabricados.

Assim, quando os resultados de eficácia e segurança dos estudos clínicos foram publicados, muitas dessas nações puderam sair na frente e iniciaram as campanhas de imunização antes do resto do mundo.

Esses achados contradizem o discurso de alguns senadores durante a CPI da Pandemia: ao longo das sessões, parlamentares argumentaram que o Brasil não poderia ter feito acordo com a Pfizer ou outras farmacêuticas no segundo semestre de 2020, antes que a Anvisa desse sinal verde às vacinas.

Porém, como mostram os registros, o Brasil também faz parte desse grupo de 52 países que se antecipou e encomendou milhões de doses dos imunizantes antes de qualquer aval de sua agência regulatória.

Como o levantamento foi feito?

Como citado anteriormente, o Centro de Inovação em Saúde Global da Universidade Duke possui um site dedicado a registrar a compra de vacinas contra a covid-19 e a distribuição das doses pelo mundo.

De acordo com os registros, os primeiros acordos começaram a ser divulgados em maio de 2020, momento em que Reino Unido e Estados Unidos adquiriram 90 milhões e 300 milhões de doses da AZD1222, respectivamente.

Naquele estágio, esse imunizante ainda estava nas fases iniciais de pesquisa: o estudo clínico de fase 3, o último antes da aprovação pelas agências regulatórias, iria começar no dia 28 de agosto de 2020 e seus resultados preliminares só seriam divulgados cerca de três meses depois.

Ou seja: diante da crise de saúde pública, os países precisaram negociar antecipadamente, mesmo sem ter certeza absoluta se aquele produto realmente funcionaria na prevenção da covid-19.

Sabe-se que os contratos com os laboratórios produtores traziam cláusulas que vinculavam o pagamento e a entrega à comprovação de segurança e eficácia e à liberação das agências regulatórias.

Em outras palavras, os governos locais só efetivariam a compra após a aprovação das vacinas pelas agências reguladoras, mesmo se os imunizantes se mostrassem capazes de barrar a infecção pelo coronavírus ou as suas formas mais graves.

Durante o levantamento, a BBC News Brasil considerou o período entre maio de 2020 e janeiro de 2021, quando nosso país teve as suas duas primeiras vacinas aprovadas pela Anvisa: a AZD1222 (Oxford/AstraZeneca) e a CoronaVac (Sinovac/Instituto Butantan).

Confira a seguir a lista completa dos locais que encomendaram doses durante os meses que antecederam a liberação das agências regulatórias.

A ordem está de acordo com o anúncio dos acordos de compra:

Américas: Estados Unidos, Canadá, Brasil, México, Equador, República Dominicana, El Salvador, Costa Rica, Panamá, Venezuela, Chile, Argentina, Colômbia, Bolívia, Peru e Uruguai.

Europa: Reino Unido, União Europeia*, Turquia, Ucrânia, Belarus, Sérvia, Macedônia e Albânia.

África: União Africana*.

Ásia: Israel, Japão, Vietnã, Cazaquistão, Índia, Nepal, Arábia Saudita, Taiwan, Catar, Indonésia, Filipinas, Malásia, Coreia do Sul, Tailândia, Bangladesh, Kuwait, China, Emirados Árabes Unidos, Iraque, Líbano, Mianmar, Paquistão, Azerbaijão, Omã e Jordânia.

Oceania: Austrália e Nova Zelândia

*União Europeia e União Africana negociaram a compra de vacinas em bloco, para depois fazerem a distribuição para os países que compõem os grupos.

Deu na BBC

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista