Pandemia 26/05/2021 06:00

Absurdo: Pesquisa da OMS sobre Covid-19 na China ignorou 200 páginas de informações

Dados chineses relacionando animais com o coronavírus, feitos na época em que a pandemia eclodiu, não foram considerados por equipe da OMS

Dados chineses relacionando animais com o coronavírus, feitos na época em que a pandemia eclodiu, não foram considerados por cientistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) que investigaram as origens da Covid-19.

A revelação foi feita por uma fonte à equipe à CNN.

Segundo a fonte, esses registros estão em um anexo de quase 200 páginas publicado junto com o relatório de março do painel da OMS, mas que recebeu pouca atenção dos especialistas globais na época.

São dados importantes, porém, que podem reforçar as críticas à China por mais transparência e os pedidos para que a equipe da OMS volte ao país para mais estudos.

Nenhuma data foi definida para o retorno da equipe à China, mas a fonte disse que qualquer futura visita ao país (onde o vírus surgiu na cidade de Wuhan, província de Hubei, no final de 2019) deve envolver “grupos menores apoiando estudos específicos primeiro”.

Um grupo maior, semelhante àquele de 17 especialistas internacionais que visitou a região em janeiro, pode chegar na sequência, acrescentou a fonte.

O anexo do relatório da OMS contém vários dados que fornecem uma visão intrigante da evolução do conhecimento da China sobre o vírus e o provável momento do seu surgimento.

O documento traz detalhes sobre o armazenamento e destruição pela China de amostras positivas de Covid-19 de humanos, além de revelar a ocorrência de um surto de influenza significativo em dezembro de 2019 (quando as primeiras infecções pelo coronavírus também foram detectadas), e que as primeiras pessoas a apresentar sintomas da nova doença tiveram contato com um total de 28 mercados distintos de alimentos e animais naquele mesmo mês.

Triagem de animais

A equipe espera esclarecer os dados no anexo do relatório da OMS, incluindo uma referência importante a uma grande triagem feita pelas autoridades chinesas em animais suscetíveis ao vírus.

A operação teria acontecido na primeira semana de dezembro de 2019. O primeiro caso de um humano contaminado pelo vírus foi registrado no dia seguinte a essa triagem, ou seja, 8 de dezembro de 2019.

Na página 98, o anexo informa que no dia 7 de dezembro de 2019 foram coletadas amostras de 69 espécies de animais, entre macacos, cervos almiscarados da floresta chinesa, porcos-espinhos e ratos de bambu.

As amostras foram testadas em fevereiro de 2020 para o vírus que mais tarde seria rotulado como SARS-CoV-2 e consideradas negativas, de acordo com uma declaração da Comissão Nacional de Saúde da China (NHC) em resposta à CNN.

A existência das amostras não havia sido divulgada publicamente antes do relatório da equipe da OMS. A fonte próxima ao painel da OMS disse que o momento coincidente da coleta da amostra e o surgimento da pandemia levou seus especialistas a comentar que o fato “é estranho”.

A inserção dos dados pode ter sido mal redigida, acrescentou a fonte.

Segundo essa pessoa, o painel da OMS aceitou a explicação dos cientistas chineses de que era uma triagem de rotina, mas o painel queria examinar os dados brutos, já que essas amostras haviam sido claramente armazenadas.

Em seu comunicado, o NHC disse que as amostras citadas no anexo foram coletadas entre fevereiro e dezembro de 2019, pois “antes do surto de coronavírus, departamentos relevantes já monitoravam ativamente as principais doenças animais em fábricas de criação artificial de animais selvagens na província de Hubei”. Não está claro na declaração se as amostras testadas em fevereiro de 2020 foram apenas de 7 de dezembro, ou de um período mais amplo em 2019.

A declaração do NHC acrescentou: “Como parte da rede de vigilância ativa, as amostras de animais selvagens foram coletadas com base nas rotinas de atividades dos animais selvagens. Além da coleta e dos testes regulares, essas amostras foram armazenadas adequadamente conforme necessário. Após o surto de coronavírus, os pesquisadores conduziram testes retrospectivos para essas amostras.”

Excesso de mortalidade

A fonte próxima ao painel disse que a alta taxa de mortalidade em algumas regiões chinesas em janeiro de 2020 merece um exame mais aprofundado, pois poderia incluir os primeiros óbitos provocados pelo vírus. ­

“Os números dessa mortalidade excessiva surgiram na terceira semana de janeiro em Wuhan, e um pouco depois em Hubei, refletindo as infecções que aconteceram em algum momento da segunda quinzena de dezembro”, disse a fonte. “Isso mostra uma circulação substancial não detectada em dezembro em Wuhan e depois na província de Hubei”.

A fonte observou ainda que os dados mostram que a infecção provavelmente começou na cidade de Wuhan, capital da província de Hubei, e não em outras partes ao redor da cidade.

“Provavelmente já existiam alguns casos esporádicos em novembro [de 2019]”, escreveu. “Mas não em um número substancial, o que significa que começou a se espalhar muito lentamente e depois se expandiu também muito lentamente”.

A decisão da China de destruir as primeiras amostras do vírus também está exposta no anexo do relatório. Na página 116, o documento informa que as primeiras amostras de tecido de casos de Covid-19 de um importante hospital de Wuhan, o Xinhua, foram destruídas no início do surto. A fonte disse que o painel determinou que as amostras fossem destruídas no primeiro semestre de 2020 e isso foi “uma pena”.

O anexo diz que as leis de privacidade chinesas impediram que as amostras fossem retidas. A fonte próxima ao painel também aceitou a justificativa chinesa de não ter “centenas de milhares de amostras potencialmente vivas, guardadas em centenas de hospitais e clínicas” no momento em que seu sistema de saúde “estava sofrendo com o auge do surto”.

Deu na CNN

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista