Brasil 15/04/2021 06:36

Brasileiro perdeu quase 2 anos de expectativa de vida na pandemia, e 2021 deve ser pior, diz demógrafa de Harvard

O brasileiro perdeu quase dois anos de expectativa de vida em 2020 por causa da pandemia de covid-19. Em média, bebês nascidos no Brasil em 2020 viverão 1,94 ano a menos do que se esperaria sem o quadro sanitário atual no país.

O brasileiro perdeu quase dois anos de expectativa de vida em 2020 por causa da pandemia de covid-19. Em média, bebês nascidos no Brasil em 2020 viverão 1,94 ano a menos do que se esperaria sem o quadro sanitário atual no país.

Ou seja, 74,8 anos em vez dos 76,7 anos de vida anteriormente projetados.

Com isso, a esperança de longevidade dos brasileiros retornou ao patamar de 2013. A queda interrompe um ciclo de crescimento da expectativa de vida no país, que partiu da média de 45,5 anos, em 1945, até atingir os estimados 76,7 anos, em 2020, um ganho médio de cinco meses por ano-calendário.

O cálculo do impacto da covid-19 na sobrevida da população foi feito por uma equipe de pesquisadores liderados pela demógrafa Márcia Castro, professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade Harvard.

A expectativa de vida, ou seja, a estimativa de quantos anos uma determinada população nascida em um dado ano deve viver, é um importante indicador de qualidade de vida e um dos componentes no cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das nações.

“Funciona como um termômetro social porque ela te mostra como a gente está progredindo em aumentar a longevidade da população, através de medidas de saúde pública, saneamento, e também te mostra como determinado choque, como uma guerra ou, neste momento, a pandemia, reduz esse indicador porque há um padrão de mortalidade maior do que o esperado”, afirmou Márcia Castro à BBC News Brasil.

Com a segunda maior taxa de mortalidade do mundo em números absolutos, o Brasil registra mais de 355 mil óbitos causados pelo novo coronavírus. E o impacto dessa mortalidade na expectativa de vida da população do país já é 72% maior do que a verificada nos Estados Unidos, líder em óbitos por covid-19 (560 mil). Enquanto os brasileiros perderam 1,94, ano, na média, os americanos perderam 1,13 ano de expectativa de vida em 2020 por conta da pandemia (redução de 78,8 anos para 77,8 anos).

Mais de dois anos?

Mas os dados podem ser na verdade piores do que essa estimativa. “A gente sabe que houve muita dificuldade de acesso ao teste de covid-19, subnotificação e muita morte pelo novo coronavírus que não foi registrada dessa maneira”, explica Castro.

Assim, os pesquisadores contemplaram um cenário alternativo: contabilizaram o impacto na expectativa de vida brasileira a partir da soma de todas as mortes oficialmente registradas como covid-19 acrescidas de 90% daquelas identificadas como causadas por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), quadro comumente provocado pelo novo coronavírus.

Nesse cenário, a redução na expectativa de vida no Brasil ultrapassaria os dois anos e meio.

“Ainda assim, são duas estimativas bastante conservadoras. As medidas devem ser ainda maiores porque mesmo depois de contabilizar mortes por covid-19 e por SRAG, verificamos que há ainda um excesso de óbitos em relação ao esperado, que pode ser causado por falta de assistência médica básica para outras doenças, por exemplo”, afirma Castro. A demógrafa e os demais pesquisadores já trabalham em novas pesquisas para estimar essa perda.

Em 2021 vai ser maior?

Além disso, o atual estado da pandemia no Brasil indica que, em 2021, em vez de se recuperar um pouco do tombo, a expectativa de vida no país pode sofrer uma redução ainda mais severa. Esse ano, o país já registra o equivalente a quase metade de todas as mortes por covid-19 de 2020. “Não estamos nem em meados de abril e Estados como Amazonas e Rondônia já têm mais mais mortes esse ano do que em todo o ano passado. Então é fácil prever que esse ano deve ser ainda pior”, nota Castro.

A tendência, de acordo com a cientista, não é de melhora porque a vacinação avança a passos lentos no país – nem 12% da população recebeu ao menos uma dose de imunizante – e as medidas de saúde pública que poderiam conter a transmissão do vírus – como o uso de máscaras e o distanciamento social – não têm sido adotadas de forma consistente ao redor do Brasil.

A atual média móvel de mortes diárias de brasileiros por covid-19 está acima de 3 mil.

Deu na BBC

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista