Pandemia 19/03/2021 09:05

Prefeitos alertam para risco da falta de oxigênio e remédios no país

Ministério da Saúde é alertado de que caos do desabastecimento vivido por Manaus, em janeiro, pode se repetir pelo país, e admite a possibilidade do desastre. Entidades chamam a atenção para medicamentos utilizados em UTIs, que já estão escassos

O Brasil vive um cenário tão grave que ainda que se abra novos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e se contrate reforço profissional especializado para operá-los, o desabastecimento de oxigênio hospitalar e de medicamentos utilizados nessas vagas é uma ameaça iminente.

O alerta é da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), em nota remetida ontem ao Ministério da Saúde.

“Já há registros, de Norte a Sul do país, de escassez e iminente falta desses insumos imprescindíveis para enfrentar à covid-19. O aumento sem precedentes no número de contaminados com o novo coronavírus e da demanda por atendimento hospitalar aponta para um cenário potencialmente ainda mais trágico já nos próximos dias: a falta de oxigênio e de medicamentos para sedação de paciente intubados”, alerta o documento.

A possível falta de oxigênio e a hipótese de que as cenas de desespero e correria vistas em Manaus, em janeiro passado — quando a população buscava balas do insumo para tentar salvar a vida daqueles que estavam morrendo asfixiados nos leitos que deveriam salvá-los —, foram reconhecidas pelo próprio ministério.

Segundo o diretor de Logística da pasta, general Ridauto Fernandes, o cenário de colapso em todo o país pode levar ao desaparecimento de oxigênio medicinal, especialmente em pequenos hospitais e municípios do interior. “A expectativa da falta perigosa desse produto na ponta da linha, nos pequenos hospitais, é de poucos dias”, avisou.

A origem do problema, segundo Fernandes, é a dificuldade que os envasadores enfrentam para abastecer as carretas nas grandes produtoras de oxigênio hospitalar. Além das longas distâncias que os transportes precisam percorrer — o que, inclusive, ocasiona perda de produto —, as fábricas estariam se recusando a fazer o reabastecimento — já impactando o atendimento no Amazonas e no Paraná.

“Temos carretas, por exemplo, de produtores da Amazônia que hoje estão esperando em uma planta (de produção de oxigênio) do interior do Maranhão. Está com a carreta parada, há dias, e não é abastecida. Temos envasadores do Paraná que chegam às fábricas e não conseguem abastecer”, disse Fernandes.

Segundo ele, a recusa seria pelo fato de os envasadores serem concorrentes dos produtores, que não conseguem suprir a demanda.

Mas a falta de oxigênio não é a única ameaça.

Nota divulgada ontem pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF) faz um apelo à sociedade para que respeite as ações de combate à pandemia, frisa a importância da vacinação e alerta para a falta de medicamentos — “escassos ou indisponíveis por conta da pandemia. De acordo com a entidade, já começa a haver o desabastecimento de bloqueadores neuromusculares, sedativos e outros fármacos usados em UTI’s.

A Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) reforçou a preocupação. “Fomos aumentando o número de leitos. Só que essa fase da pandemia está fazendo com que as pessoas fiquem mais tempo hospitalizadas, e o paciente de covid, além de demorar mais na UTI, fica mais tempo intubado.

Com isso, aumentou-se barbaramente o consumo, e a indústria não está conseguindo mais produzir”, ressaltou o presidente Reinaldo Scheibe. A previsão, segundo ele, é de que o atual estoque consiga atender o país por mais 20 dias.

Representantes dessas e outras entidades da área se reuniram com técnicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para encontrar uma saída emergencial. A ideia é facilitar a importação para desafogar a demanda, que extrapola a capacidade das indústrias brasileiras.

No caso do oxigênio hospitalar, a agência começou a cobrar as informações das empresas produtoras para entender a real capacidade de produção e melhor organizar o esquema de distribuição.

“Estamos compilando os dados de forma a disponibilizar diretamente ao ministério, para favorecer as discussões e o manejo com estados e municípios”, informou a diretora Meiruze Freitas.

Deu no Correio Braziliense

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista