Crônica 18/11/2020 06:22

Tragédia de Pipa: viver em liberdade e morrer no paraíso

O blog pede emprestado o texto da jornalista Simone Silva para narrar o drama de vidas buscando a liberdade, uma tragédia familiar e a morte no paraíso.  

NADA É POR ACASO* – Texto de Simone Silva

Hugo Mendes Pereira saiu de Jundiaí interior de São Paulo em julho de 2016 com 2.500 reais no bolso e mais 1500 prometidos por um amigo para garantir o máximo de gasolina que o levasse mais longe. Ele, a cadelinha Brisa e uma prancha, tudo numa Kombi. Rodou 24 estados e o DF conhecendo gente e lugares diferentes.

Contava a rotina quando dava pelo Instagram. Vendeu bolo de brigadeiro feito num pequeno fogaozinho para sobreviver. Muitos foram os perrengues.

Nada parecido com o cara de emprego estável de 2015, como coordenador de projetos internacionais, de um grande grupo de telecomunicações.

Ele perdeu a mãe para o câncer com 16 anos, idade em que saiu de casa. Morou na Austrália por nove meses entre 2015/2016 onde percorreu o país de van. De volta ao Brasil resolveu repetir a experiência, de Kombi.

Foi personagem de matérias de TV e portais. O veículo customizado chamava atenção e era no teto do carro que colocava o colchão para dormir com a cadelinha vira-lata, que morreu há quase dois anos.

Conheci o aventureiro em Pipa, trabalhando na recepção de um hotel, o Sun Bay. No tempo do check-out me contou sua curiosa história, eu disse: dá uma matéria boa!

Na Pipa sossegou. Aos 32 anos vivia com a psicóloga Stela Souza, de 33 anos. Vendeu a Kombi e investiu numa espécie de hostel/camping, o Morada da Brisa, oferecendo também terapias holística, área de especialização da mulher, que já era mãe de Kaloã. Há sete meses nasceu o primeiro filho do casal, Sol.

Parto em casa, feito por parteira, natural. Estavam felizes e pela Pipa andavam sempre juntos, com felicidade aparente, aproveitando a praia, andando a cavalo e dividindo sonhos. O irmão dele veio morar em Pipa.

Há pouco mais de um mês ele voltou a trabalhar no hotel onde o conheci, numa
conversa curta de minutos. Deixou sem medo o cinco estrelas onde atuou nos últimos dois anos para voltar para onde começou a amar a hotelaria.

Na terça Hugo só queria dá um mergulho em família, coisa que fazia com Frequência.

Stela chamava Sol de menino praiêro. Demoraram no local onde iam deixar os pertences pessoais. A Falésia cedeu e soterrou a família.

As pessoas na praia prestaram os primeiros socorros. Acharam o paulista primeiro, depois a Psicóloga, abraçada ao filho, que ainda chegou a ser socorrido na areia.

Pipa uniu o inquieto cara que passou por cinco continentes e a bela morena amante da natureza, da força feminina. A praia lhes deu Sol, um autêntico caiçara.Partiram como viviam. No cenário que muito amavam, com o mar por testemunha e juntos para sempre.

Que descansem em paz!

OBS:  O blog pede emprestado o texto-depoimento  da jornalista Simone Silva para narrar o drama de vidas buscando a liberdade, uma tragédia familiar e a morte no paraíso.

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista