Economia 19/09/2018 11:00

Mentiras e novo estelionato eleitoral

Para o economista Samuel Pessoa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), quem diz que não vai aumentar impostos está mentindo, e quem ignora o problema fiscal cometerá estelionato eleitoral em caso de vitória.

Para o economista Samuel Pessoa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), quem diz que não vai aumentar impostos está mentindo, e quem ignora o problema fiscal cometerá estelionato eleitoral em caso de vitória.

“Cortar benefícios tributários, como alguns admitem, equivale a aumentar tributos. Mas, é muito difícil para os candidatos detalharem suas propostas, porque ajuste fiscal machuca. É preciso ter corte de gasto e aumento de tributação. Não tem saída”, sentenciou.

Os especialistas observam que, nos programas dos partidos de direita, de centro e de centro-esquerda, há consenso sobre a necessidade do ajuste, que passa inevitavelmente pelas despesas obrigatórias, como Previdência e folha de pagamento, as que mais pesam no orçamento.

Porém, faltam detalhes sobre como fazer o ajuste. As legendas da esquerda, por sua vez, ignoram o problema fiscal e adotam o discurso de que o governo precisa gastar mais, descartando a necessidade de reformas.

Isso vem gerando preocupação no mercado. Os investidores têm reagido positivamente à liderança de Jair Bolsonaro (PSL) nas pesquisas, apesar das ideias polêmicas do candidato, porque consideram que Fernando Haddad (PT), que vem subindo nas sondagens, representa um risco para a economia.

Haddad defende um programa estatizante e intervencionista, e indica que pretende interferir na autonomia do Banco Central, entre outras medidas.

A gravidade do desequilíbrio das contas públicas pode ser constatado nos dados do balanço da União de 2017 levantados pela Instituição Fiscal Independente (IFI), do Senado Federal. O patrimônio público federal está negativo em R$ 2,4 bilhões uma vez que os ativos, de R$ 4,9 bilhões, não são suficientes para cobrir o passivo, de R$ 7,3 bilhões.

Em qualquer lugar do planeta, uma empresa que apresentasse números como esse estaria em situação de falência. A União registra deficit primário desde 2014 e, pelas estimativas da IFI, deve continuar no vermelho, pelo menos, até 2022.

Não à toa, a dívida pública bruta chegou a 77% do Produto Interno Bruto (PIB) em junho, conforme dados do Banco Central. Pela metodologia usada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), porém, a proporção é de 85,5% — contra 48% da média dos países emergentes.

“Se a dívida chegar a 90% ou 100% do PIB, o país vai entrar em uma crise muito severa e a inflação vai voltar, porque o governo terá de emitir moeda para cobrir os papéis que forem vencendo”, afirmou Marcos Lisboa, do Insper.

Pelas contas de Samuel Pessoa, da FGV, apenas para zerar o deficit primário da União e estabilizar a dívida será necessário um ajuste de 4% do PIB, ou seja, algo em torno de R$ 300 bilhões, montante superior ao rombo da previdência dos setores público e privado em 2017, que atingiu R$ 268 bilhões.

Para ele, o ajuste teria de passar por congelamento de salários, um nova regra do salário mínimo e pela redução de desonerações tributárias.

Os cálculos de Carlos Pedroso, economista sênior do Banco MUFG Brasil, são mais preocupantes.  “Para termos estabilidade da dívida pública, é preciso produzir um superavit primário de 6%, e, portanto, uma diferença de 8% a 9% do PIB é o tamanho do ajuste que precisa ser feito”, disse.

O diretor executivo da IFI, Felipe Salto, alertou para os riscos de um aumento de impostos. Como o país que já tem uma carga tributária elevada, isso pode prejudicar a retomada econômica. “O Banco Mundial publicou um estudo mostrando que aumento de tributos em países que já têm uma carga elevada é mais prejudicial ao crescimento, a curto prazo, do que cortes de gastos”, afirmou. 

Deu no Correio Braziliense

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista