Entrevista 20/12/2017 06:41

"O radicalismo não combina com o Brasil”, diz Michel Temer

O presidente Michel Temer, 77 anos, diz que está revigorado. “Depois que coloquei os stents (objeto para repor o fluxo sanguíneo), a circulação melhorou e a dor de cabeça passou. Eu me sinto renascido”, afirmou ele, ontem, durante uma conversa com o Correio de quase duas horas na sede do jornal.

O presidente Michel Temer, 77 anos, diz que está revigorado.
“Depois que coloquei os stents (objeto para repor o fluxo sanguíneo), a circulação melhorou e a dor de cabeça passou. Eu me sinto renascido”, afirmou ele, ontem, durante uma conversa com o Correio de quase duas horas na sede do jornal.
Mostrando disposição e bom humor, o peemedebista falou, além de aspectos da própria saúde, sobre eleições 2018, reforma da Previdência, Joesley Batista, Rodrigo Janot e governabilidade.

“Ninguém quer radicalizar ainda mais a situação, o radicalismo não combina com o Brasil”, afirmou Temer, afirmando acreditar que o eleitorado vai procurar alguém mais de centro.
Sobre o PT, ele acha que o partido não deve incomodar.
O presidente disse que não pensa na própria candidatura à reeleição, mas cita Ulysses Guimarães, o lendário político do PMDB, para responder à pergunta: “Eu não postulo, eu me posiciono”.
Para ele, processo de candidatura deve ocorrer naturalmente.
Na sequência da conversa, ao falar da gestão, Temer ficou mais sério. “Foi muito sacrificante para mim esse um ano e meio. A campanha contra mim é feroz, vocês não fazem ideia. Ninguém apanhou tanto quanto eu”, afirmou ele. “Hoje, tocamos um programa de governo, ao contrário do que muitos candidatos fazem, a maioria faz isso de forma eleitoreira.” E começou a falar dos números da economia, com a queda dos juros, da inflação e a retomada do emprego.
Ao citar dos índices negativos de popularidade, Temer lembrou o publicitário Nizan Guanaes, integrante do Conselho Econômico e Social da Presidência.
“Ele, certa vez, falou: ‘Aproveite a sua impopularidade e faça o que for necessário ao país’. A popularidade acaba tolhendo ações necessárias.” O peemedebista acredita que a Previdência será aprovada, e não passou por muito pouco na semana passada. “Mas demos o recado que não vamos desistir da Previdência. Em fevereiro, aprova”, disse ele, citando os desafios de 2018, tema do Correio Debate, que ocorreu ontem (leia nas páginas de 4 a 9). “As pessoas precisam entender o que está acontecendo em vários estados, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Minas Gerais.”
Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

Eleições 2018

O eleitorado vai acabar procurando alguém centrado. Ninguém quer radicalizar ainda mais a situação. O povo vai esperar alguém que represente o centro, a harmonia, e tenha a capacidade de conjugar todas essas forças. O radicalismo não combina com o Brasil.

Antonio Cunha/CB/D.A Press

A força dos petistas

O PT não vai sair grande em 2018. Eles não vão incomodar.

Temer candidato?

As pessoas têm falado muito sobre isso… Foi muito sacrificante para mim esse um ano e meio. A campanha contra mim é feroz, vocês não fazem ideia. Ninguém apanhou tanto quanto eu. Hoje, tocamos um programa de governo, ao contrário do que muitos candidatos fazem, a maioria faz isso de forma eleitoreira. Eu toco um programa, a “Ponte para o futuro”, desde que eu era vice. E ela (Dilma Rousseff) fazia oposição já naquela época, porque era o contrário do que ela pensava. A “Ponte para o futuro”, num governo quase acidental, é um programa de governo e é cumprido. Se eu estivesse pensando em reeleição desde o começo, eu não teria tocado todos esses projetos. Talvez eu esteja fazendo tudo isso porque não estava pensando em reeleição. Mas tenho convicção de que serei reconhecido pelo que estou fazendo. Mas eu não penso, confesso. Como Ulysses (Guimarães) dizia, eu não postulo, eu me posiciono. Para fazer o que fizemos no governo, é até uma ousadia irresponsável eleitoralmente. As coisas acontecem com naturalidade. Mas os indicadores melhoraram, inclusive o do emprego. Foram mais de um milhão e 300 mil postos de trabalho, R$ 42 bilhões (FGTS) e R$ 12 bilhões (PIS/Pasep).

O lado positivo da impopularidade

O Nizan Guanaes, que é do Conselho da Presidência, certa vez falou: “Aproveite a sua impopularidade e faça o que for necessário ao país”. A popularidade acaba tolhendo ações necessárias. O sujeito pensa, não vou fazer isso ou aquilo porque é impopular.

Reforma da Previdência

Em 2018, acredito que a reforma será aprovada. Eu aprendi que o nosso assunto principal é a Previdência. De futebol a carnaval, temos de falar sobre a necessidade da Previdência. Se o cidadão chega para falar de um tema, eu mudo o assunto e começo a falar da necessidade da Previdência, da necessidade do nosso projeto. “A Fernanda Montenegro é uma boa atriz”, alguém diz, e eu emendo: “É preciso cuidar da Previdência.” “E o Grêmio?”, outro fala, eu respondo: “Mas os jogadores em todo o país um dia vão se aposentar”. Veja, o texto da reforma da Previdência está enxuto e preserva os mais pobres. Geralmente, as pessoas mais pobres têm dificuldades de comprovar tempo de contribuição. Agora, esse tempo baixou para 15 anos e talvez muitos consigam se aposentar antes mesmo dos 65 anos.

Votos no Congresso

Faltaram 20 votos para o projeto ser aprovado agora, foi por muito pouco. Eu faço a negociação diretamente, é o que mais gosto de fazer. Até porque eu faço isso há muito tempo, receber deputados, conversar com líderes. Se não fosse o Congresso, eu não estaria aqui e não conseguiria me segurar. O mais importante é que a Previdência continua como prioridade do governo. O teto da Previdência no serviço público tem que ter uma previdência complementar. O único prejuízo que teriam era ter que fazer uma contribuição durante um certo período para ter a aposentadoria. No entanto, a reforma gera um benefício extraordinário para a economia do país, porque as projeções revelam que, num prazo de 10 anos, haverá economia  de, aproximadamente, R$ 600 milhões. Eu penso que até fevereiro haverá um conhecimento pleno, já houve um esclarecimento muito significativo. Acho que a imprensa tem colaborado muito, mas, principalmente, a consciência popular já está muito favorável à reforma da Previdência. Penso que , em fevereiro, poderemos realizá-la.

Jucá e o tempo do projeto

Nós tínhamos combinado mesmo de nos encontrarmos, eu, o presidente da Câmara, Rodrigo (Maia), e o do Senado, Eunício (Oliveira), e deixar para depois, para não forçar. Ele (Jucá) falou a verdade. A pressão estava grande. Na nota do Planalto, depois, demos o recado que não vamos desistir da Previdência. Em fevereiro, aprova. As pessoas precisam entender o que está acontecendo em vários estados, Rio Grande do Sul, Rio, Minas… Daqui a pouco não haverá recursos para aposentadoria.

Reforma tributária

Assim que aprovarmos a reforma da Previdência, vamos fechar o ciclo aprovando a reforma tributária, simplificando o pagamento dos tributos. Veja, você tem que conversar com Receita, estados, municípios. São tantos entes envolvidos que, cada vez que mexe nisso, é uma dificuldade. Por isso, o melhor é a simplificação. Aí, fechamos o ciclo.

Conversa entre os poderes

É preciso reinstitucionalizar o Brasil. Os poderes da União precisam conversar entre si. Dizer que o presidente da República não pode falar com integrantes do Judiciário porque poderia exercer influência é um desrespeito a quem está instituído no cargo. Se uma palavra do presidente da República pode influenciar a visão de um juiz, então, o juiz não está preparado para o cargo que ocupa. Na verdade, quem pensa que pode influenciar tem um desprezo por aquele com que conversa.

Joesley Batista e a gravação

Eu não tinha a menor ideia de que estivesse sendo gravado, até porque já tínhamos conversado outras vezes, quando eu era vice-presidente. Eu sempre recebo as pessoas. Ele estava pedindo pela quinta vez. Naquele dia, sugeri por intermédio do pessoal que cuida da agenda, que ele fosse ao Planalto, na hora do almoço. Mas ele disse que estava em São Paulo e que chegaria à noite. Então, ficou para as 22h, no Jaburu. Uma vez o Joesley levou um empresário ligado ao presidente Hugo Chávez, outra vez levou um empresário chinês.

Janot e Marcelo Miller

Tenho pena dele (Rodrigo Janot, ex-procurador-geral da República). Li as conclusões do relatório da CPMI da JBS. Está lá que Marcelo Miller já trabalhava para a JBS em fevereiro e só saiu da Procuradoria em abril. Mas Deus é tão bom que depois vieram a público a troca de mensagens e as conversas. Eu não renunciei porque sabia que não tinha feito nada de errado.

Ação de Lewandowski

Vamos ver quais os efeitos da decisão (de cancelar a MP que adiou o pagamento da parcela de janeiro de 2018 e aumenta a contribuição previdenciária dos servidores), o governo vai recorrer. Foi no último dia de funcionamento do Judiciário antes do recesso. Isso é muito ruim. Sempre que começamos a avançar, vem uma decisão e o país recua.

Semipresidencialismo e a governabilidade

Você sabe que eu, de uma certa forma, já exerço o semi-presidencialismo. Mas, com 20 partidos na base, é difícil. Não é possível governar assim. Acho que o modelo português é um bom exemplo.

Cirurgias e saúde

Vocês sabem, antes eu tinha dor de cabeça, tomava remédio todos os dias, tomava Neosaldina. Agora, depois dos dois stents, acabou. A circulação melhorou e a dor de cabeça passou. Eu me sinto renascido, revigorado.
Quando fiz a ultrassonografia, havia 65% de obstrução numa artéria e o médico pediu que eu voltasse em dois meses. Voltei e o cateterismo indicou que havia duas artérias 90% entupidas. Se eu tivesse me pautado pelo primeiro exame, o de imagem, não sei o que teria sido. Não basta fazer exames superficiais nessas horas, é preciso aprofundar.
Deu no Correio Braziliense
Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista