Sem categoria 06/06/2014 09:08

Esquema de segurança para Copa tem câmera que capta até o invisível

Por fatorrrh_6w8z3t

Deu no Portalnoar
Por Dinarte Assunção
Planando 600 metros acima do solo, o helicóptero da Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed), o Potiguar I, estaria em mais uma ronda de inspeção rotineira, não fosse pela parafernália tecnológica de que agora está dotado e que permite visualizar com detalhes e uma precisão impressionante objetos que estejam no solo a até 40 quilômetros de distância.
O nome do novo equipamento utilizado pelas forças policiais para combater a criminalidade tem nome: imageador aéreo.
Trata-se de um mecanismo com duas câmeras, acoplado na parte frontal da aeronave, dotadas de sensores infravermelho, permitindo, o que é ainda mais surpreendente, detectar objetos que se movam na superfície a partir do calor emitido, algo útil, por exemplo, para buscas em mata fechada.
Simplificando: é uma ferramenta capaz de captar o invisível. E não é só: a ferramenta transmite tudo em tempo real para o Centro Integrado de Operações em Segurança Pública (Ciosp).
De lá, quem recebe as imagens pode acionar o órgão competente para atuar nas demandas policiais identificadas a partir do Potiguar I.
Ao custo de R$ 8 milhões (recursos do Governo Federal), o imageador promete revolucionar a forma como a Polícia Militar combate a criminalidade na Região Metropolitana de Natal.
A convite da equipe da Sesed, a reportagem acompanhou os trabalhos feitos com o equipamento em um voo de 15 minutos.
“Está vendo a torre?”, indagou o piloto do Potiguar I apontando para o monitor, enquanto a aeronave planava 700 metros acima do solo. Na imagem indicada, uma torre de telefonia celular se erguia em detalhes na tela.
“Sim”, confirmou o repórter. “Está a 19 quilômetros”, acrescentou o piloto em um tom natural, como quem anuncia que vai chover. “Dezenove quilômetros?”, questionou o repórter boquiaberto, ao constatar que a aeronave sobrevoava Candelária, na Zona Sul, enquanto a torre visualizada estava no final da Zona Norte, do outro lado da cidade.
O equipamento é controlado na parte de trás do helicóptero, onde um oficial manuseia  o que parece um controle de videogame. Nele, as duas câmeras do imageador são administradas.
As imagens captadas são projetadas em dois monitores, um disponível para o próprio oficial que comanda as operações do dispositivo; enquanto o outro monitor está acoplado ao painel de controle de voo do piloto.
Não satisfeito com os resultados, o repórter pediu, então, que fosse buscado um objeto bem menor que uma antena. O piloto rodopiou 180 graus, e o imageador captou uma figura solitária no pé do Morro do Careca.
Em menos de 10 segundos, um potente zoom foi realizado e lá estava em precisão de detalhes a imagem de um banhista sentado na sombra, de bermuda estampada e tomando uma cerveja. “Está a sete quilômetros”, acrescentou o piloto com um ar triunfante.
Como quem quisesse eliminar qualquer dúvida sobre os poderes do imageador, o piloto foi além. Em menos de trinta segundos, o oficial que manuseava os controles do equipamento saiu do Morro do Careca e focou em um ônibus no final da Avenida Roberto Freire.
O zoom foi ampliando até que, a seis quilômetros de distância, foi possível, legivelmente, ler a placa do veículo. “Alguma dúvida ainda?”. Não havia mais o que discutir.
“Com uma tecnologia dessas é possível monitorar qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, que esteja no campo de visão das câmeras. É uma revolução no combate ao crime”, comemora o secretário adjunto de Segurança Pública, Ricardo Godinho.
Desenvolvida no final dos anos 60 para equipar os aviões de guerra americanos no Vietnã, a tecnologia FLIR (iniciais em inglês de “infravermelho olhando para a frente) objetivava enxergar vietcongues, armas e suprimentos deslocando-se no escuro.
Adaptada a uma câmera digital, a tecnologia poderá ser usada, por exemplo, para identificar agressões físicas nos casos em que elas não sejam facilmente visíveis a olho nu.
Com a fotografia térmica, as agressões tornam-se localizáveis, por causa da diferença de temperatura na pele (a área afetada fica mais quente).
“É um dos maiores legados que a segurança pública do Rio Grande do Norte terá com essa Copa do Mundo. Essa tecnologia permitirá ao Estado ter mais agilidade no combate ao crime, identificando rapidamente ações suspeitas”, observou o Godinho.
A tecnologia FLIR ainda é recente no Brasil. Em São Paulo, por exemplo, ela só chegou em 2011. No ano seguinte, foi a vez de Rio de Janeiro e Belo Horizonte equiparem suas polícias com essa ferramenta.
A tecnologia não está apenas restrita ao uso aéreo. Há máquinas fotográficas específicas com a tecnologia FLIR que podem ser usadas, por exemplo, no ITEP para o trabalho de perícia. Uma máquina dessas custa R$ 35 mil e o Estado avalia, a partir dos resultados já colhidos com o aparato acoplado ao Potiguar I, adquirir alguns desses instrumentos.
Big Brother
A professora Magda Muniz, 39, é descrente quando o assunto é políticas de segurança pública.
Sentada na calçada da Escola de Governo numa tarde de sol, ela foi abordada pela reportagem e questionada sobre o festejado “legado da Copa do Mundo”. “Não acredito que as coisas vão melhorar. Todos os dias a gente tem notícia de violência. Deve melhorar na Copa, mas depois tudo vai voltar ao normal. É assim que as coisas funcionam”, sentenciou.
Enquanto a professora fazia o prognóstico desolador, a poucos metros dela, em uma sala equipada com 48 monitores de 50 polegadas, uma equipe montada por funcionários da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Marinha, Exército, Aeronáutica, Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros e Força Nacional, para citar as mais importantes, se debruçavam na análise de imagens feitas a partir de mais de 200 câmeras espalhadas por Natal. Vista de cima, a sala lembra aqueles modernos laboratórios da Nasa, em que vários cientistas trabalham ao mesmo tempo para garantir o sucesso de missões espaciais.

CICCR: Central de monitoramento recebe imagens de mais de 200 câmeras espalhadas por Natal. (Foto: Alberto Leandro)
CICCR: Central de monitoramento recebe imagens de mais de 200 câmeras espalhadas por Natal. (Foto: Alberto Leandro)

O Centro Integrado de Comando e Controle Regional (CICCR) foi erguido com recursos do Governo Federal e demandou R$ 80 milhões.
Pessoas como a professora Magda podem não fazer ideia, mas ali, como o Grande Irmão que George Orwell descreveu em 1984, há o monitoramento em tempo real de qualquer pessoa que passe na circunferência de 360 graus de uma das 200 câmeras desse Big Brother.
Qualquer detalhe nos 16 km que vão de Ponta Negra à Praia da Redinha não passa despercebido. Toda a orla de Natal é um dos trechos monitorados em toda sua plenitude. De uma sala no andar superior do CICCR dá para se ter ideia do poder de monitoramento: a toda hora, câmeras giram e focam pessoas ou veículos, farejando qualquer atitude que possa ser suspeita.
Durante a Copa, todos os órgãos referidos acima vão trabalhar de maneira coordenada. Funcionará de maneira simples: uma câmera detecta uma ocorrência e, a partir do CICCR, a autoridade competente é acionada.
Se for um afogamento, por exemplo, o Corpo de Bombeiros é acionado. Se um protesto evoluir para atos de vandalismo, é a vez da Força Nacional. Se for uma cotidiana ocorrência policial, será a vez da Polícia Militar.
Diuturnamente, são 74 pessoas distribuídas em monitores filtrando as informações captadas nas câmeras. “Nosso planejamento considera o monitoramento para qualquer atividade. Estamos trabalhando com todas as hipóteses. Desde um

Paulo Henrique Oliveira: Segurança na Copa garantida; (Foto: Alberto Leandro)
Paulo Henrique Oliveira: Segurança na Copa garantida; (Foto: Alberto Leandro)

protesto que possa evoluir para atos de vandalismo até mesmo a eventualidade de acontecer um atentado terrorista. Tudo isso é monitorado a partir daqui”, resume o delegado da Polícia Federal Paulo Henrique Oliveira, coordenador do CICCR.
Toda a atividade é integrada ao Centro Integrado de Comando e Controle Nacional (CICCN), vinculado à Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos, do governo federal.
Baseado em Brasília, o CICCN recebe diariamente informações sobre segurança pública das 12 cidades-sedes.
“Também há videoconferências diárias onde trocamos informações e traçamos novos planejamentos”, explica Paulo Henrique, que ainda quantifica: até 12 mil homens estarão a postos para irem às ruas reforçar a segurança pública. “Tudo para garantir o bem-estar do cidadão e turista que vai curtir a Copa”. Mas e depois do Mundial?
Herança
Passado o 13 de julho, data da final da Copa do Mundo, todo o aparato tecnológico será absorvido e praticamente renovará o Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (Ciosp), da Secretaria Estadual de Segurança.
“Já deu para sentir a diferença na prestação do serviço depois que esse sistema foi implantado. É como se tivéssemos dado um upgrade em nossas operações”, comemora o major responsável pelo Ciosp, Carlos Kleber Caldas.
Além de todo o aparato já existente, há duas unidades móveis que reproduzem em menor proporção as funções do CICCR. Elas servirão ao trabalho de rua, indo aonde os tentáculos do CICCR não alcançam. Elas também funcionam como um coringa: se houver uma pane no sistema central, serão essas unidades que irão operar o monitoramento.
Depois da Copa, a segurança pública na capital e região metropolitana com certeza será outra, projeta o major Carlos Kleber. “Já sentimos uma considerável melhora na prestação do serviço e queremos passar isso para a população”.
É a melhor coisa que se tem a fazer. Há incontáveis professoras Magdas por aí.
Pessoas que não fazem ideia de como o nível de monitoramento e segurança vai mudar. É bom estar ciente das mudanças. Aonde quer que o cidadão vá o esteja em Natal, estará sendo monitorado.
SERVIÇO
O turista ou o cidadão que precisar de qualquer serviço de segurança deverá continuar ligando para o 190. Todas as ligações são direcionadas para o CICCR, e, de lá, a equipe competente para cuidar da ocorrência é acionada.

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista