Sem categoria 25/11/2013 14:55

O drama do PT do RN

Por fatorrrh_6w8z3t

Deu no Blog de Alex Medeiros
O cientista social Moisés Domingos, um dos mais importantes dirigentes do PT nos anos da fundação, na fronteira dos anos 70 e 80, enviou para alguns amigos um comentário sobre a recente confusão nas eleições internas do partido, onde resgata uma análise que já tinha feito há mais de dez anos, quando identificou uma espécie de combinado nas divergências entre Fátima Bezerra e Fernando Mineiro, líderes dos dois grupos que se alternam no comando partidário há décadas.
O ex-presidente do PT em Natal, escreveu suas impressões do que se chamou de “brejeira” em sua própria agenda no dia da eleição petista, e depois reescreveu para facilitar a leitura de todos. Diz ele no começo do e-mail: “Nota escrita no dia 23 nov. 2013 na minha agenda. Decidi digitalizar o texto para não torturá-los (as) com os hieróglifos da minha escrita”.
E segue Moisés Domingos:
– O acirramento das divergências no PT, nesta conjuntura de eleições, provocou hoje a suspensão da reunião do Diretório Estadual por meio de decisão judicial. Fato inédito na história do partido, como bem ressaltou Mineiro, hoje, nas notícias veiculadas sobre o assunto: “Eu nunca tinha visto isto.” Da mesma forma, o vereador Hugo Manso afirmou ser algo “extremamente negativo e ruim” e se disse “profundamente triste.” (Jornal de Hoje, 23/11/13, p. 3).
Diante deste quadro, reafirmo o que escrevi há mais de uma década, quando, presidente do Diretório Municipal de Natal, insisti para que Fátima aceitasse o nome de Manu (Manoel Duarte) como candidato a presidente estadual. Em vão. Nem eu, nem Manu entendemos o porquê da recusa, a não ser em função de uma aliança tácita sempre existente entre Mineiro e Fátima. Este evento me levou a escrever um texto que circulou entre algumas lideranças e militantes. Do ponto de vista do debate, todavia, não houve retorno.
Hoje, como todos e todas que construíram tijolo por tijolo o PT no estado, chocado com as manchetes dos jornais dos últimos dias, sinto cada vez mais se afirmar (penso eu) uma das hipóteses centrais (ou seja, há outras centrais e secundárias) sobre o que vem acontecendo com o partido em nível local (não analiso neste comentário, os fatores de ordem nacional).
Agora digo eu:
O que a perspicácia e a capacidade de leitura do ambiente político de Moisés denuncia desde dez anos atrás legitima as suspeitas dos observadores externos às disputas do PT, que algumas vezes já sugeriram que a aparente rivalidade entre Mineiro e Fátima é só um estratagema de uma dupla que soube fazer dos mandatos eleitorais uma arma de poder e até uma profissão de fé. Portanto, as lamúrias petistas pelo fato da ética partidária ter caído na lama devem ser depositadas na conta dos dois líderes, protagonistas da lambança.
Vamos ver o que disse mais o professor Moisés:
– Estamos vivendo a exaustão do modelo de condução do partido que se ancorou na cumplicidade sistêmica entre Mineiro e Fátima. Novos elementos estão sendo responsáveis por esse processo, incluindo-se aí a repercussão local da importância do partido no plano nacional e da sua completa adesão às regras de funcionamento do campo político nacional (conceitualmente podemos dizer, completa imersão na inércia reprodutiva desse), e, em particular, o ingresso de novos militantes sem condições (porque não fizeram parte da gênese desse processo) de reproduzir a fidelidade aos mitos de origem do PT local, como fizemos nós, tais como, “o PT é o mais democrático de todos”, “as divergências nós resolvemos entre nós”, “Mineiro é exemplo de ética e modelo de quadro, portanto, irrepreensível”, “Fátima sempre disputa com Mineiro, mas, como bons herdeiros da tradição petista, fazem as pazes em nome do bem comum partidário”.
Eu de novo:
O leitor, assim como eu, pode muito entender e perceber a ironia de Moisés nas aspas das frases que diuturnamente a militância petista vende junto à sociedade através dos espaços da imprensa, aquela mesma imprensa que ela diz convencional e conservadora. Qual é a diferença do jogo politiqueiro de Fátima e Mineiro para o que fazia a Arena (o partido da ditadura) quando forjava dois candidatos da própria legenda em aparente atrito apenas para polemizar o processo e isolar o candidato do MDB?
O desfecho de Moisés é cirúrgico:
O que estamos vendo agora, ouso afirmar, é apenas mais um momento no qual o fenômeno (a cumplicidade sistêmica) ganha visibilidade social. Só que, neste caso, isto parece ser, o “ponto de mutação” (parodiando Capra), posto que “nada será como dantes, no quartel de Abrantes”. Ou seja, os últimos acontecimentos vieram para nos dizer que os tempos mudaram e são, por conseguinte, historicamente irreversíveis. E, como costuma ocorrer nas rupturas de paradigmas (vale lembrar Thomas Khun), de um lado, ficarão os militantes fieis à tradição tentando fazer a terra girar ao contrário, e, de outro, os renovadores que prosseguem na sua tarefa de quebrar, e até enterrar, a tradição. Quem viver, verá!(Moisés Domingos)
Em Tempo: os sites e blogs do Espírito Santo estão divulgando nesta segunda-feira uma confusão sem parâmetro, com direito a troca de sopapos e agressões verbais na eleição interna do PT capixaba. Parece que há coisas mais sistêmicas em âmbito nacional do que a briga caprichosa de Mineiro e Fátima no Rio Grande do Norte.

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista