Sem categoria 09/06/2013 10:47

Turbulências à frente

Por fatorrrh_6w8z3t

Talvez por inexperiência, a presidente Dilma Rousseff aparenta não atentar para uma obviedade política e eleitoral: ninguém ultrapassa impunemente a metade de um mandato na Presidência.
O ocupante do Planalto que não investe logo o capital de confiança obtido nas urnas em reformas e programas capazes de fazer o país avançar de fato, e não só na propaganda, está condenado à sua dilapidação. É o que indica a nova pesquisa Datafolha.
A avaliação da presidente, que há menos de três meses alcançava 65% de ótimo e bom, perdeu oito pontos. Se Dilma acreditava que bastariam o desemprego baixo e a construção publicitária de um Brasil sem miséria para seguir em voo de cruzeiro até a eleição de 2014, ganha agora mais motivos para preocupar-se com turbulências.
Recomenda-se que escrutine com atenção seu radar. A maior mancha na tela indica o recrudescimento e a renitência da inflação. Aliada ao crédito em recuo, ela corrói o poder aquisitivo e, por consequência, a sensação generalizada de bem-estar suscitada pela alta do consumo –o qual, se não chega a cair, já ameaça parar de crescer.
A parcela da classe média que não via o presidente Luiz Inácio Lula da Silva com bons olhos, mas de início foi seduzida pela imagem da sucessora de intolerância com a corrupção, já vai atinando que Dilma não é imune aos apetites da horda de partidos comensais que em teoria a apoiam no Congresso. A sucessão de batalhas parlamentares contribui para solapar a autoridade de seu cargo.
Mesmo entre os cerca de 40 milhões de brasileiros que mais têm motivos para incensar os governos do PT –os mais de 13 milhões de famílias agraciadas com o Bolsa Família– a estrela da administração Dilma terá esmaecido, ainda que temporariamente. A barbeiragem da Caixa Econômica Federal no pagamento dos benefícios, cuja antecipação sem aviso deflagrou boatos e corridas às agências, pode também ter contribuído para arranhar sua popularidade.
Mais consistente é a perda de prestígio de sua administração entre empresários, tantos são os desencontros da política econômica e as dificuldades para pôr o crescimento do PIB numa rota segura, para não falar do controle da inflação e dos gastos públicos.
Deram-se passos necessários e importantes, como na redução de tarifas de energia e no enfrentamento do atraso dos portos. Mas ainda seguem em ritmo hesitante as grandes obras de infraestrutura e sua concessão ao setor privado.
A queda de popularidade da presidente detectada pelo Datafolha pode, claro, ser revertida. Sugere, porém, que perdeu algum crédito com parte do público e que poderá sentir falta dele em 2014.
Deu na Folha de São Paulo (Editorial)
 

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista