Música 06/07/2024 16:27

73 anos de hits da Billboard comprovam: melodia das músicas ficou mais simples

Pesquisadores analisaram 336 músicas que alcançaram as posições mais altas da parada da Billboard entre 1950 e 2022 para entender impacto das novas tecnologias de produção musical

Já ouviu alguém falar que música bem feita era a de décadas passadas? Bom, isso não necessariamente é verdade. Mas essa turma nostálgica ganhou um argumento para defender a tese.

Um estudo publicado esta semana na revista Scientific Reports mostrou que as melodias das músicas que alcançam o topo das paradas ficaram menos complexas com o passar dos anos — principalmente após 1975.

Feita por um grupo de especialistas em música da Queen Mary University, em London (Inglaterra), a pesquisa usou modelos matemáticos e algoritmos para examinar as composições das cinco primeiras músicas do top anual de singles da Billboard nos Estados Unidos, entre os anos de 1950 e 2022.

Entre os hits analisados estão composições que marcaram suas épocas, como Poker Face, de Lady Gaga, Thriller, de Michael Jackson, I Want to Hold Your Hand, dos Beatles e Thank U Next, de Ariana Grande.

Segundo o grupo que assina o artigo, a transformação pode ser atribuída, em parte, ao surgimento de novos estilos ao longo das décadas, como rock de arena (de bandas que lotam estádio), disco e hip-hop.

Dessa forma, a diminuição da complexidade das melodias pode estar ligada as próprias características do mundo contemporâneo.

Foram identificadas três principais “revoluções melódicas”, nos anos de 1975, 1996 e 2000, que resultaram nas composições atuais.

Elas promoveram mudanças nos principais componentes das músicas, como ritmo e altura das notas, tornando esses aspectos cada vez menos complexos.

“Em uma estimativa conservadora, ambos [ritmo e altura das notas] diminuíram [em complexidade] em 30%”, afirmou Madeline Hamilton, que liderou a pesquisa, em entrevista ao jornal The New York Times.

Enquanto na música das décadas passadas predominavam poucos instrumentos e alguns arranjos vocais, as produções mais atuais contam com múltiplas camadas e efeitos sonoros, com o uso de diferentes softwares.

“Hoje, com a acessibilidade do software de produção musical digital e bibliotecas de milhões de samples e loops, qualquer pessoa com um laptop e uma conexão à internet pode criar qualquer som que imaginar”, escrevem os pesquisadores no artigo.

Para chegar a essas observações, Hamilton e seu time ouviram todas as 366 músicas, disponíveis no banco de dados da Billboard, e transcreveu as melodias vocais no MuseScore, um programa que auxilia na visualização dos componentes sonoros da música.

A pesquisadora indicou uma queda brusca na complexidade melódica em 1975 – ano da popularização da música disco.

Posteriormente, houve uma diminuição ligeiramente menor em 1996, coincidindo com o aumento da popularidade do hip-hop e da música eletrônica.

Nos anos 2000, por sua vez, houve outra queda, possivelmente influenciada à popularização dos programas de edição de áudio. Além disso, observa-se um aumento na densidade de notas – isto é, na quantidade de notas cantadas por segundo – a partir dessa época.

A simplificação, contudo, não deve ser interpretada como um critério de qualidade musical. Vale lembrar que o estudo considerou apenas os cinco principais hits de cada ano, e não a totalidade dos movimentos, vertentes e estéticas que surgiram desde então.

Ou seja: os resultados do novo estudo não são de fato um argumento a música esteja se tornando menos sofisticada ou decadente.

As conclusões, simplesmente, atestam que a indústria passou por transformações no tempo, e está se atualizando a partir das novas tecnologias e métodos de produção musical.

“Simplicidade tem sua própria beleza”, observa Hamilton. Falou e disse.

Deu em Galileu

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista