Gastronomia 28/07/2025 06:26

Setor gastronômico cresce 182% em cinco anos na zona Norte de Natal

A zona Norte de Natal, conhecida como uma das áreas mais populosas da cidade, vem consolidando um novo momento econômico com o fortalecimento do setor gastronômico.

Bares, restaurantes e lanchonetes se multiplicam em avenidas como Paulistana, Maranguape e Itapetinga – todas no bairro Potengi – impulsionados por mudanças no Plano Diretor e pelo aumento da procura por empreendimentos de alimentação fora do lar.

Dados fornecidos pelo Sebrae apontam que entre 2020 e 2025 o número de empresas do setor na região saltou de 185 para 522, uma variação de 182%.

A expansão tem sido acompanhada por investimentos em qualificação, marketing e experiência do cliente, o que são diferenciais para os negócios locais.

Entre os nomes que se destacam nesse movimento de transformação está Matt Dantas, idealizador e proprietário do Seu Nelson na Brasa, uma steakhouse e hamburgueria localizada na Av. Maranguape.

Fundado em 2021, o negócio começou de forma despretensiosa, com a venda de hambúrgueres para amigos e vizinhos durante a pandemia.

Com o tempo, a proposta evoluiu para um espaço que reúne hambúrguer, petisco e costela, tudo na brasa, em um ambiente pensado para toda a família. Hoje, a marca conta com três unidades, entre zona Norte, Areia Preta e Parnamirim, e emprega diretamente cerca de 50 pessoas.

Com a inspiração na cozinha do avô, Seu Nelson, e a vontade de criar um espaço com identidade própria, Matt construiu um modelo de negócio centrado na experiência gastronômica.

“Eu acho que meu diferencial é que tudo aqui é uma criação realmente nossa. É focar nas coisas que eu gosto, nas coisas que meu avô fazia, mas principalmente perguntar aos clientes se está bom ou não. Nós escutamos o cliente para fornecer aquilo que ele quer ter, a experiência que ele quer ter do que seja feito através da nossa churrasqueira”, conta.

A trajetória do Seu Nelson na Brasa reflete a mudança no comportamento do consumidor da região, que passou a valorizar mais os estabelecimentos locais, especialmente devido aos problemas de mobilidade que dificultam o trânsito ente a zona Norte e outras regiões administrativas da cidade.

“Quando houve problemas com a ponte, muita gente que ia para outras zonas passou a consumir aqui. Hoje, o público mora, trabalha e se diverte na zona Norte”, avalia.

A história de Matt se entrelaça com a própria evolução da zona Norte como destino gastronômico.

Seu Nelson na Brasa hoje é um dos principais pontos de encontro da região, com movimentação de aproximadamente 600 pessoas por noite durante os fins de semana e um ticket médio superior às demais unidades. Enquanto os clientes de Areia Preta e Parnamirim gastam cerca de R$ 40,00, na unidade da zona Norte o valor costuma ser superior a R$ 100,00.

“Eu sempre ouvi que aqui não ia dar certo, que ninguém pagaria R$ 20,00 em um hambúrguer aqui. Mas eu acreditava no potencial do público da zona Norte, sempre quis oferecer algo de qualidade, como se fosse um churrasco de família, e isso se tornou nosso diferencial. Tudo gira em torno da brasa, das receitas que aprendi com meu avô e do contato direto com os clientes”, conta Matt.

Segundo Thales Medeiros, gerente da Agência Sebrae Grande Natal, esse cenário de crescimento de negócios demonstra o potencial econômico da região. “A gente percebe que é um espaço promissor de desenvolvimento de negócios na cadeia de alimentos e bebidas, com uma certa variação entre abertura e fechamento de empresa, com saldo positivo de mais de 50 empresas”, afirma.

A Jacuba Lanches, de César Kemps, é outro negócio que exemplifica essa transformação. Inaugurada em dezembro de 2021, a empresa nasceu para gerar renda à família e rapidamente cresceu, tornando-se um dos pontos mais movimentados da região e totalizando 11 funcionários.

“Antigamente, tudo tinha que ser resolvido no centro ou na zona Sul. Hoje, o pessoal prefere ficar por aqui mesmo. Isso ajudou bastante, porque quem mora aqui quer resolver tudo perto de casa”, relata.

A aposta na qualidade também tem sido um diferencial. Situada nas proximidades da Av. Dr. João Medeiros Filho, o empreendimento recebe desde pessoas que circulam na região até os clientes fiéis.

“Eu comecei com salgados comuns, mas percebi que precisava oferecer algo melhor. Foi aí que comecei a trabalhar com receitas diferenciadas, como o pastel de Tangará e uma coxinha de receita própria, que alavancaram as vendas”, diz. Hoje o espaço conta com uma circulação média de 200 pessoas por dia em loja física, além de cerca de 70 vendas através do delivery.

Essas ações são reiteradas pelo Sebrae como boas práticas que favorecem o fortalecimento dos negócios na região.

“Na experiência com o cliente, nós também estamos dialogando com ele, estamos interessados em atender às suas reais necessidades, e por isso a gente também vai sempre procurar entender o que seria mais interessante para o cliente, o que ele procura mais em termos de serviços, de experiência, o que ele está disposto a pagar também”, considera Thales Medeiros.

César Kemps lançou a Jacuba Lanches em 2021 para gerar renda para a família e atualmente já conta com 11 funcionários | Foto: Magnus Nascimento

Plano Diretor impulsiona investimentos

O novo Plano Diretor de Natal tem sido apontado como um dos principais motores da retomada de investimentos na cidade, especialmente na zona Norte.

As alterações nas regras urbanísticas e a desburocratização dos licenciamentos abriram caminho para a multiplicação de empreendimentos, incluindo novos bares, restaurantes e projetos imobiliários.

A região, que já se destaca pela força do comércio e do setor gastronômico, vem recebendo atenção crescente do mercado e da construção civil.

“A primeira mudança significativa que a gente tinha convicção que em todas as regiões administrativas ia aumentar, mas especialmente na zona Norte e zona Sul, é o uso misto em todas as regiões administrativas.

Ou seja, qualquer área, qualquer lote do município de Natal, você pode construir tanto a parte comercial quanto a parte residencial”, explica Thiago Mesquita, secretário de Meio Ambiente e Urbanismo de Natal (Semurb).

Entre os avanços urbanísticos, o secretário destaca que a zona Norte foi beneficiada com maior potencial construtivo e incentivos em eixos de mobilidade, como as avenidas João Medeiros Filho, Pompeia e Paulistana

“Na zona Norte, há empreendimentos licenciados com mais de 1.000 unidades na modalidade Minha Casa Minha Vida, e a expectativa é que nos próximos anos tenhamos entre 3.000 e 5.000 novas unidades residenciais na região”, avalia Mesquita.

O coeficiente de aproveitamento na zona Norte, que antes era 1.2, foi ampliado e varia agora de 1.5 a 5. Já o gabarito de altura dos prédios também subiu de 60 metros para até 140 metros em 90% da região.

Outras ações também são pontuadas pelo secretário da Semurb como facilitadoras do crescimento da região, como a simplificação dos processos, com mais de 500 atividades que dispensam licenciamento, além dos formatos de autodeclaração, que podem ser executados de forma online.

Na percepção de Sérgio Azevedo, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Rio Grande do Norte (Sinduscon-RN), os empreendimentos da área ainda são majoritariamente horizontais, com foco em habitação de interesse social e loteamentos, sobretudo em áreas como Redinha, Santa Catarina e Pajuçara.

“O potencial é enorme, mas a infraestrutura existente ainda é um entrave para projetos de maior porte. Os problemas mais críticos estão ligados à mobilidade, drenagem, saneamento e abastecimento de água e energia”, avalia.

Diante das limitações do município e do estado, Sérgio Azevedo sugere como solução a implementação de Parcerias Público-Privadas (PPPs) e concessões, principalmente para saneamento e abastecimento, além de drenagem de urbanização de áreas estratégicas com potencial habitacional.

“A zona Norte precisa ser tratada como vetor estratégico de crescimento da cidade, mas isso só será viável com modelos que atraiam capital privado para destravar a infraestrutura”, afirma Sérgio Azevedo.

A percepção é compartilhada por Roberto Peres, presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (CRECI-RN), que confirma um aumento na procura por imóveis na zona Norte.

“A gente notou que realmente houve vários lançamentos na região, mais concentrados em imóveis em condomínios horizontais. Tem um grande empreendimento com mais de 400 lotes na Tomaz Landim e venderam 70% em uma semana”, relata.

Peres observa que as avenidas Paulistana, Maranguape e Itapetinga têm sido alvos de interesse tanto para empreendimentos comerciais, enquanto as adjacentes são procuradas para fins residenciais. Apesar disso, ele reforça que ainda existem desafios que precisam ser superados para que a zona Norte experimente um crescimento mais consistente.

“Precisa de transporte urbano, ruas asfaltadas, bom acesso e saneamento básico. Ainda existem muitas ruas sem, e isso dificulta até para financiamento e liberação de crédito”, considera.

De acordo com Thiago Mesquita, a Prefeitura de Natal está trabalhando em melhorias de infraestrutura da área.

Ele destaca que está sendo cadastrado no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) um projeto para pavimentar todas as ruas da região. Além disso, na mobilidade urbana, já foi iniciada a viabilização do projeto Via Mangue, uma proposta que pretende ligar as duas pontes que dão acesso à zona Norte.

Deu em Tribuna do Norte
Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista