Saúde 23/06/2025 11:15

O teste simples para descobrir a idade real do seu cérebro

Pode parecer algo banal, mas a velocidade em que você caminha do ponto A para o ponto B pode trazer grandes revelações sobre o funcionamento interno do seu corpo e da sua mente.

Pesquisas demonstraram que a velocidade dos nossos passos até as lojas, o parque local ou o ponto de ônibus pode prever sua chance de ser hospitalizado, sofrer um ataque cardíaco ou até morrer.

De fato, a velocidade de caminhada de uma pessoa pode ser empregada até para revelar seu nível de envelhecimento cognitivo.

A velocidade dos passos é uma forma de avaliar a capacidade funcional de uma pessoa — ou seja, sua capacidade de realizar tarefas diárias pela casa e manter sua independência.

Ela também pode indicar o nível de fragilidade de uma pessoa e prever como eles irão reagir após um AVC, durante sua reabilitação.

É normal que as pessoas caminhem com mais lentidão à medida que envelhecem. Mas um declínio acentuado da velocidade de uma pessoa pode indicar que algo mais sério está acontecendo.

“A redução da velocidade normal dos passos de uma pessoa, muitas vezes, está associada à deterioração da sua saúde em geral”, segundo a professora de medicina Christina Dieli-Conwright, da Faculdade de Medicina da Universidade Harvard. Ela estuda os efeitos dos exercícios sobre o prognóstico de câncer.

“É possível que aquela pessoa tenha uma condição crônica, que faça com que ela não se movimente muito ou passe a ser sedentária“, explica ela. “Isso significa que, muito provavelmente, ela sofreu redução da força muscular e da mobilidade das juntas, o que, infelizmente, gera outros declínios de saúde.”

Técnica simples

Para realizar o teste de velocidade ao andar, você precisa apenas de um cronômetro e de uma forma de medir a distância, como uma trena.

Existem duas versões do teste. Se você estiver em um espaço aberto, com muito espaço disponível, tente o teste de velocidade andando 10 metros.

Primeiramente, meça 5 metros, seguidos por mais 10 metros. Para começar, recomenda-se andar 5 metros para atingir sua velocidade normal, depois andar nesta velocidade por 10 metros.

Para calcular sua velocidade, simplesmente divida 10 metros pelo número de segundos que você levou para andar aquela distância.

Pessoa atravessando a rua de uma cidade na faixa de segurança

Crédito,Getty Images Fazer intervalos regulares para andar é considerado uma boa atividade para o cérebro e para o corpo

Se você estiver em casa e o espaço for mais limitado, você pode tentar o teste de velocidade ao andar quatro metros.

Neste teste, meça um metro, seguido por quatro metros. A ideia é usar o primeiro metro para atingir sua velocidade e cronometrar quanto tempo você leva para andar os quatro metros restantes na sua velocidade habitual.

Para calcular sua velocidade, divida quatro metros pelo número de segundos que você levou para andar aquela distância.

Existem também muitos aplicativos para celular, que você pode usar para medir sua velocidade ao andar. Eles incluem rastreadores fitness como Walkmeter, MapMyWalk, Strava e Google Fit.

Estes aplicativos usam o GPS para acompanhar a distância e o tempo, permitindo que você calcule sua velocidade.

Faça sua comparação

Para ter uma ideia em comparação com outras pessoas, a velocidade média dos passos de uma pessoa com 40 a 49 anos de idade é de 1,39 m/s para as mulheres e 1,43 m/s para os homens.

Se você tiver 50 a 59 anos, a velocidade média é de 1,31 m/s para as mulheres e 1,43 m/s para os homens.

Entre 60 e 69 anos, a velocidade média ao caminhar cai para 1,24 m/s para as mulheres e 1,43 m/s para os homens.

Para as pessoas entre 70 a 79 anos, a velocidade média é de 1,13 m/s para as mulheres e 1,26 m/s para os homens.

E, para pessoas com 80 a 89 anos de idade, a velocidade média dos passos é de cerca de 0,94 m/s para as mulheres e 0,97 m/s para os homens.

Estudos demonstraram que a velocidade dos passos é um indicador significativo da expectativa de vida entre os idosos.

Pesquisadores da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, reuniram os resultados de nove estudos. Somados, eles acompanharam mais de 34 mil adultos moradores de comunidades com 65 anos de idade ou mais, por seis até 21 anos.

Nos estudos, a velocidade dos passos apresentou associação significativa com a estimativa de vida.

Homens que andavam mais lentamente com 75 anos de idade, por exemplo, tinham 19% de possibilidade de viver por mais 10 anos, em comparação com homens com velocidades mais altas, com 87% de chance de sobrevivência.

Uma explicação é que as pessoas que já não estão bem tendem a perder a mobilidade.

Mas um estudo realizado na França em 2009 concluiu que, mesmo entre adultos saudáveis com mais de 65 anos, participantes que andavam com baixa velocidade apresentaram cerca de três vezes mais probabilidade de morrer de doenças cardiovasculares durante o período do estudo, em comparação com os que andavam com mais rapidez.

“Andar parece ser algo tão simples que a maioria de nós não pensa sobre isso — nós apenas caminhamos”, afirma a pesquisadora Line Rasmussen, do Departamento de Psicologia e Neurociências da Universidade Duke, no Estado americano da Carolina do Norte.

Pessoa caminhando sobre uma ponte em dia de sol

Crédito,Getty Images O corpo das pessoas que andam mais devagar envelhece mais rápido

“Mas caminhar, na verdade, depende de muitos sistemas diferentes do corpo trabalhando em conjunto”, explica Rasmussen.

“Seus ossos e músculos carregam e movem você, seus olhos ajudam você a olhar para onde está indo, seu coração e os pulmões circulam sangue e oxigênio e o seu cérebro e os nervos coordenam tudo isso.”

À medida que envelhecemos, segundo Rasmussen, o funcionamento desses sistemas começa a perder velocidade. E andar mais devagar pode ser um reflexo desse declínio geral e um sinal do avanço do envelhecimento.

Este fenômeno não se aplica apenas aos idosos.

Em um estudo de 2019, Rasmussen e seus colegas descobriram que, mesmo entre pessoas com 45 anos de idade, a velocidade dos passos de uma pessoa pode prever o envelhecimento do seu cérebro e do corpo.

Rasmussen e os demais pesquisadores da Universidade Duke examinaram 904 pessoas com 45 anos de idade, que fizeram parte do Estudo Multidisciplinar sobre Saúde e Desenvolvimento de Dunedin.

Trata-se de um projeto de pesquisa longitudinal que acompanhou a vida de mais de mil pessoas nascidas entre 1972 e 1973 na cidade de Dunedin, na Nova Zelândia. Os participantes tiveram suas funções cognitivas e condições de saúde avaliadas regularmente ao longo de toda a vida.

“Fiquei surpreso com a quantidade de variação verificada na velocidade dos passos entre pessoas que eram todas da mesma idade”, relembra Rasmussen.

“Você talvez esperasse que todas as pessoas de 45 anos estivessem mais ou menos no meio, mas alguns andavam tão rápido quanto pessoas saudáveis com 20 anos de idade, enquanto outros caminhavam com a lentidão de adultos muito mais idosos”, ela conta.

O estudo revelou que pessoas com 45 anos de idade e passos mais lentos exibiram sinais de “envelhecimento acelerado”. Seus pulmões, dentes e sistema imunológico eram inferiores às pessoas que andavam mais rápido.

Elas também possuem “biomarcadores” associados à maior velocidade de envelhecimento, como pressão sanguínea mais alta, altos níveis de colesterol e aptidão cardiorrespiratória inferior.

Os pesquisadores concluíram que as pessoas que andam devagar apresentaram outros sinais de problemas de saúde física, como aperto das mãos mais fraco e mais dificuldade para se levantar de uma cadeira.

Efeitos sobre o envelhecimento do cérebro

Rasmussen e seus colegas também descobriram que as pessoas que andam devagar exibem sinais avançados de envelhecimento cognitivo.

Eles demonstraram, por exemplo, tendência a apresentar resultados inferiores nos testes de QI em geral e desempenho mais fraco em testes de memória, velocidade de processamento, raciocínio e outras funções cognitivas.

Imagens de ressonância magnética também mostraram que esta deterioração cognitiva era acompanhada por mudanças visíveis no cérebro dos participantes.

As pessoas com andar mais lento tinham cérebro menor, neocórtex mais fino (a camada externa do cérebro, que controla o pensamento e o processamento de informações superior) e maior volume de massa branca.

Curiosamente, até os rostos das pessoas que andam mais devagar foram avaliados como envelhecendo mais rapidamente que os demais participantes.

De forma geral, a pesquisa indica que o corpo e o cérebro das pessoas com passo mais lento envelhecem com mais rapidez do que aquelas que andam mais depressa. E houve também indicações de que essas diferenças de saúde estavam presentes desde a infância.

Os pesquisadores conseguiram prever a velocidade de caminhada de pessoas de 45 anos, com base nos resultados de testes de inteligência, linguagem e habilidades motoras, realizados quando os participantes tinham apenas três anos de idade.

“O que mais me surpreendeu foi encontrar uma relação entre a velocidade com que as pessoas andam aos 45 anos e suas capacidades cognitivas na primeira infância”, afirma Rasmussen. “Isso indica que a velocidade dos passos não é apenas um sinal de envelhecimento, mas uma janela para a saúde do cérebro ao longo da vida.”

Duas pessoas caminhando sobre uma trilha de pedras em uma praia, com o sol no horizonte

Crédito,Getty Images Andar regularmente pode ajudar a aumentar a velocidade dos nossos passos

Os leitores que caminham lentamente não precisam ficar muito desanimados. Existem diversas ações que podemos tomar para aumentar a velocidade dos nossos passos.

Como parte da sua pesquisa para ajudar pacientes com câncer, Dieli-Conwright elabora regimes de exercício para que as pessoas que passaram por quimioterapia recuperem sua resistência.

Ela aconselha os participantes a aumentar a duração e a intensidade do seu exercício de caminhada a cada três a quatro semanas, para melhorar seu preparo físico. E as pessoas podem tomar outras ações, ainda mais simples.

“Aproveite todas as oportunidades que você tiver para andar mais regularmente”, aconselha Dieli-Conwright. “Permanecer fisicamente ativo é muito importante.”

Suas dicas incluem estacionar mais longe do seu destino, encontrar-se com os amigos para caminhar socialmente ou levar seu animal de estimação para o parque local.

“É importante reservar intervalos para caminhar, especialmente entre os indivíduos que trabalham de forma mais sedentária”, destaca ela.

“Mesmo que seja um intervalo de caminhada de cinco minutos para ir ao banheiro, ou andar rapidamente por cinco minutos pelo quarteirão. É fundamental interromper aquele tempo que passamos sentados.”

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Innovation.

Deu em BBC

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista