Dinheiro 19/06/2025 08:22

Brasil tem 433 mil pessoas com mais de US$ 1 milhão. E nova geração de ricaços herdará US$ 9 tri

No Brasil, 433 mil pessoas são milionárias em dólar, ou seja, têm fortuna superior a US$ 1 milhão (cerca de R$ 5,5 milhões). É o que constatou relatório anual do banco suíço UBS, especializado na gestão do patrimônio de alta renda. O número de pessoas neste grupo seleto cresceu 1,6% no país, mostra o estudo.

O relatório do UBS investigou, ao todo, 56 países de várias regiões do mundo, e constatou que, de 2023 para 2024, o patrimônio líquido de famílias aumentou 4,6% em todo o mundo.

De longe, o país que tem o maior número de milionários no mundo é os Estados Unidos, onde estão 40% dos endinheirados. O Brasil ficou na 19º posição, mas lidera entre as nações da América Latina. Confira os principais países no ranking:

  1. Estados Unidos: 23.831
  2. China: 6.327
  3. França: 2.897
  4. Japão: 2.732
  5. Alemanha: 2.675
  6. Reino Unido: 2.624
  7. Canadá: 2.098
  8. Austrália: 1.904
  9. Itália: 1.344
  10. Coreia do Sul: 1.301
  11. Holanda: 1.267
  12. Espanha: 1.202
  13. Suíça: 1.119
  14. Índia: 917
  15. Taiwan: 759
  16. Hong Kong: 647
  17. Bélgica: 549
  18. Suécia: 490
  19. Brasil: 433
  20. Rússia: 426
  21. México: 399
  22. Dinamarca: 376
  23. Noruega: 348
  24. Arábia Saudita: 339
  25. Cingapura: 331

Presidente da divisão de gestão de fortunas para a América Latina do UBS, Marcello Chilov analisa que alguns fatores ajudam a explicar os dados, como a apreciação do mercado financeiro. E avalia que o cenário deve se manter nos próximos anos.

— Nos EUA, que concentram mais de 1/3 dos milionários, o crescimento do patrimônio foi muito vinculado ao desempenho de ativos. Apesar de todos os desafios geopolíticos, como as guerras e a política tarifária, é inegável que os mercados desempenharam uma performance muito positiva. Nos últimos anos tivemos uma apreciação grande da Bolsa de Nova York, e também do mercado imobiliário — explica.

No Brasil, é um cenário parecido, diz Chilov, guardadas as particularidades do país:

— Apesar da desvalorização no ano passado, o real teve um bom desempenho. E, diferente dos americanos, temos ainda um perfil de investimentos muito alocados na renda fixa. Com o cenário de juros altos, isso contribuiu para aumentar a a riqueza desses indivíduos, o que deve continuar.

US$ 74 trilhões em heranças

O estudo também chama a atenção para a enorme transferência de riqueza entre gerações — e mesmo entre membros de uma família que são da mesma geração — prevista para ocorrer nos próximos anos.

O UBS estima uma transferência global total de riqueza superior a US$ 83 trilhões nos próximos 20 a 25 anos. Deste total, cerca de US$ 9 trilhões corresponderão a transferências horizontais, ou seja, entre indivíduos da mesma geração, como cônjuges após a morte do marido ou mulher. E mais de US$ 74 trilhões serão transferências verticais, entre gerações

Brasil é o 2º país com maior fortuna a ser herdada

Espera-se que o maior volume de transferências de riqueza ocorra nos Estados Unidos, com larga vantagem, superando US$ 29 trilhões ao longo das próximas décadas.

O Brasil ocupa o segundo lugar no ranking, com cerca de US$ 9 trilhões, à frente da China, que apresenta mais de US$ 5,6 trilhões de dólares a serem transferidos. Um dos principais motivos por trás dessa projeção para o Brasil é sua grande população com mais de 75 anos.

Nos EUA, mil milionários por dia

A riqueza cresceu de forma desproporcionalmente rápida no ano passado nos Estados Unidos, onde mais de 379.000 pessoas se tornaram novas milionárias em dólares americanos no ano passado — mais de mil por dia —, segundo o relatório.

Os ‘milionários comuns’

O estudo do UBS também destacou a ascensão de um grupo batizado pelo banco de “milionários comuns”. São ricos, mas não tão ricos assim. A fortuna desses indivíduos supera US$ 1 milhão, mas não chega a US$ 5 milhões.

O total de pessoas neste grupo mais do que quadruplicou desde 2000, chegando a 52 milhões de indivíduos. E esse número está disparando. No início do milênio, havia apenas 13,27 milhões de pessoas nesse grupo e, em 2019, já eram cerca de 44 milhões no mundo todo.

Juntos, esses indivíduos têm patrimônio total de US$ 107 trilhões — mais de quatro vezes o que detinham no ano 2000. Assim, o grupo dos “milionários comuns” já soma riqueza próxima à detida pelo topo da pirâmide — os milionários com mais de US$ 5 milhões no bolso têm, juntos, fortuna de US$ 119 trilhões.

Na desigualdade, Brasil à frente

O relatório do UBS ainda destacou que o patrimônio dos brasileiros vem crescendo de forma consistente: já descontada a inflação, a riqueza média por adulto aumentou 6,4%, e mediana (ou seja, o patrimônio daquele que ocupa o ponto médio entre o mais rico e mais pobre) subiu 9%.

Apesar disso, o relatório também mapeou a disparidade de renda nos países. E, na lista, o Brasil é o mais desigual, ou seja, com maior concentração de renda no topo da pirâmide. Ao lado da Rússia, é a economia menos igualitária.

A análise se baseou no coeficiente de Gini, que mede a desigualdade de renda numa escala de 0 a 1, sendo 0 a igualdade absoluta.

— A distância entre os mais pobres e os mais ricos aumentou, mas a ascensão dentro das classes também — destaca Chilov. — Os dados servem para orientar tanto políticas públicas como também o esforço da iniciativa privada, seja através de ações onde as empresas estão presentes, como também no direcionamento dos investimento das famílias de alta renda, que podem optar por caminhos mais oportunos socialmente, como saneamento, infraestrutura, geração de energia e economia verde. Isso ajuda a evoluir a prosperidade das classes e a diminuir esse espaço entre os mais e menos abonados.

Confira, abaixo o ranking da desigualdade pelo Índice de Gini (quanto mais perto de 1, maior a concentração de renda):

  1. Brasil: 0,82
  2. Rússia: 0,82
  3. África do Sul: 0,81
  4. Emirados Árabes Unidos: 0,81
  5. Arábia Saudita: 0,78
  6. Suécia: 0,75
  7. Estados Unidos: 0,74
  8. Índia: 0,74
  9. Turquia: 0,73
  10. México: 0,72
  11. Cingapura: 0,70
  12. Alemanha: 0,68
  13. Suíça: 0,67
  14. Israel: 0,66
  15. Holanda: 0,65
  16. Hong Kong: 0,63
  17. China: 0,62
  18. Portugal: 0,61
  19. Grécia: 0,60
  20. Taiwan: 0,60
  21. França: 0,59
  22. Reino Unido: 0,58
  23. Coreia do Sul: 0,57
  24. Polônia: 0,57
  25. Itália: 0,57
  26. Espanha: 0,56
  27. Austrália: 0,55
  28. Luxemburgo: 0,55
  29. Japão: 0,54
  30. Catar: 0,47
  31. Bélgica: 0,47

Deu em O Globo

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista