Guerras 16/06/2025 12:49

Como Israel contornou defesa aérea, atingiu instalações nucleares e matou autoridades do Irã

Os ataques de Israel no conflito com o Irã —que começou na última sexta-feira (13) e continua nesta segunda (16)— já somam 224 mortes, incluindo a de líderes militares e cientistas iranianos.

Mesmo diante de retaliação por parte de Teerã, especialistas apontam vantagem das forças israelenses ao realizarem ataques que conseguem contornar a defesa aérea iraniana, matar autoridades e atingir instalações nucleares.

Os ataques de Israel:

  • Mataram líderes militares como Hossein Salami, chefe da Guarda Revolucionária Islâmica, Mohammad Kazem, chefe de inteligência da corporação, Mohammad Bagher, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas do Irã;
  • Mataram, também, cientistas considerados essenciais para os programas nucleares e de mísseis em ações secretas realizadas por comandos treinados pelo Mossad;
  • Atingiram a principal usina nuclear do Irã, Natanz, destruindo toda a infraestrutura elétrica, os geradores emergenciais de energia e uma seção onde o urânio era enriquecido. Houve danos significativos às instalações nucleares de Isfahan
  • Conseguiram destruir uma aeronave de abastecimento no extremo leste do Irã, a 2,3 mil km – alvo mais distante até aqui.
  • Atingiram diversos bairros da capital iraniana, Teerã;
  • E deixaram 224 mortos, incluindo civis.

Os ataques do Irã deixaram danos menores. Desde o início do conflito, 22 pessoas morreram em Israel, e não há registros de ataques de grande porte bem-sucedidos contra instalações ou comandantes militares.

Para especialistas, o conflito expõe a dificuldade de Irã em defender seu território e atacar o adversário.

Veja abaixo três fatores que contribuem para essa superioridade israelense até aqui:

Em 2024, Israel destruiu estruturas de defesa aérea do Irã

Fumaça sobe de uma explosão após os ataques israelenses ao Irã, em Teerã, neste domingo (15). — Foto: Hamid Amlashi/Reuters

Fumaça sobe de uma explosão após os ataques israelenses ao Irã, em Teerã, neste domingo (15). — Foto: Hamid Amlashi/Reuters

Um dos fatores que permitiram a Israel construir a vantagem atual foi uma operação realizada em outubro de 2024.

À época, Israel lançou três ondas de ataques com foco em neutralizar baterias de defesa aérea iranianas, como o sistema S-300.

“O objetivo era degradar, essa capacidade defensiva do Irã, abrindo o caminho para ataques mais profundos no futuro”, disse Vitelio Brustolin, pesquisador da Universidade de Harvard e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Vitelio Brustolin.

Para Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais da ESPM, o episódio foi determinante para que Israel tivesse facilidade para penetrar o espaço aéreo iraniano.

“Se a gente quiser fazer uma frase: hoje, os céus iranianos são de Israel”, afirmou o especialista em entrevista à GloboNews no domingo (15).

Estruturas de produção de mísseis foram atingidas, conta Brustolin.

“Israel destruiu equipamentos vitais para a produção de mísseis avançados (Fattah 1, Kheibar Shekan) (…) adiando o reabastecimento iraniano em meses ou até mais de um ano.”

Capacidade limitada de ataques

Em abril e outubro de 2024, o Irã realizou ataques contra Israel usando mísseis e drones.

Mas, como aponta o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS) – que há décadas estuda o poderio militar global –, as iniciativas mostraram “limitações desses sistemas tanto para penetrar sistemas defesa antimíssil avançados como para atingir a precisão necessária para causar danos significativos à infraestrutura militar”.

O IISS aponta, ainda, que o resto das forças militares convencionais do Irã sofrem com obsolescência – especialmente na força área, que tem ficado desatualizada.

Alvo de sanções, o país depende da indústria local para abastecer suas necessidades, mas, embora eficiente em produzir alguns materiais militares avançados – o Irã, por exemplo, é um grande exportador de drones –, ela é incapaz de atender a todas as necessidades de armamentos.

Além disso, o orçamento militar do Irã, US$ 8 bilhões de dólares, é cerca doe 1/3 do israelense, US$ 34 bilhões, segundo o IISS.

Enfraquecimento de aliados

Segundo o cientista político Carlos Gustavo Poggio, o Irã enfrenta uma situação geopolítica delicada.

Isolado internacionalmente, com apoio limitado da Rússia — de quem depende para ter acesso a armas mais modernas, mas que está envolvida no confronto com a Ucrânia — e com milícias aliadas em colapso no Líbano, Iraque e Síria, Teerã vê sua influência regional diminuir.

O Hezbollah, grupo armado baseado no Líbano e um dos mais importantes aliados do Irã, foi alvo do Israel durante um conflito que se estendeu de 2023 e 2024. Nele, diversas lideranças do grupo libanês foram mortas, e estruturas – como fábrica de drones – foram destruídas.

A queda do regime de Bashar al-Assad, aliado-chave na Síria, comprometeu ainda mais suas rotas de abastecimento e apoio a grupos como o Hezbollah.

“O Irã está praticamente isolado nesta guerra do ponto de vista de aliados, tanto não estatais [como o Hezbollah], quanto aliados estatais. O apoio da Rússia certamente não é um apoio decisivo e mesmo que quisesse, a Rússia tem os seus próprios problemas com a guerra na Ucrânia, que tem sido muito mais custoso do que a Rússia havia antecipado”, disse Poggio à GloboNews neste domingo.

Deu em G1

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista