Comércio 05/06/2025 05:49

Após a pandemia, comércio brasileiro reduziu o ritmo da inovação, mostra CNC

Dados da Pesquisa de Inovação 2024 com empresários do comércio revelam que o setor tem investido menos na modernização.

De acordo com o levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 38,53% dos entrevistados afirmaram ter inovado, contra os 55% registrados na pesquisa anterior.

O resultado mostra desaceleração do ritmo de transformação, refletindo o momento de adaptação do cenário pós-pandemia, mais fidedigno à realidade brasileira fora dos momentos extremos. Por outro lado, aponta desafios estruturais que atrasam a evolução do varejo.

A pesquisa ouviu empresários em oito regiões metropolitanas do País, buscando identificar práticas, obstáculos e oportunidades na adoção de estratégias inovadoras.

O documento mostra que, embora haja avanços importantes, especialmente no campo do marketing digital e da experiência do cliente, o setor ainda encontra dificuldades para inovar de maneira mais profunda e disruptiva.

“O estudo evidencia quatro grandes entraves à inovação do comércio: alto custo, falta de incentivos governamentais, baixa qualificação técnica e dificuldade de acesso a novas tecnologias. Soma-se a isso o ambiente macroeconômico, com juros altos e crédito caro, o que leva muitas empresas a priorizar a sobrevivência em vez da transformação”, afirma o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros.

Urgência de políticas inclusivas

Um dos aspectos mais marcantes do estudo é a disparidade de recursos técnicos e financeiros entre as pequenas e grandes empresas. Entre as grandes, 68,5% dos ouvidos declararam ter inovado, esse percentual cai para apenas 35,13% entre as de menor porte.

A diferença, de mais de 30 pontos percentuais, é atribuída a fatores como o acesso desigual aos incentivos fiscais – muitos dos quais não contemplam empresas optantes pelo Simples Nacional.

“As micro e pequenas empresas representam mais de 98% dos negócios do comércio no Brasil, respondendo por aproximadamente 53% do PIB do setor. Diante desse cenário, fortalecer a capacidade inovadora dessas empresas não é apenas uma medida de justiça econômica, mas uma alavanca estratégica para o desenvolvimento nacional”, avalia o diretor de Economia e Inovação da CNC, Maurício Ogawa.

Cliente no centro das inovações

Entre os empresários que afirmam ter inovado, 78,63% promoveram mudanças em métodos de marketing, com foco especial na personalização de serviços, comunicação digital e presença em canais on-line. O conceito de “customer centricity”, ou seja, o foco no cliente, aparece como a principal diretriz do setor, sendo impulsionado pela digitalização acelerada desde a pandemia.

Outras áreas de destaque são a comunicação e o processamento de informações (69,36%), os serviços (59,58%) e a logística (57,82%), refletindo a crescente preocupação com a etapa final que liga o produto ao consumidor, vital para o e-commerce.

Por outro lado, a inovação em áreas administrativas continua baixa, com apenas 35,13% das empresas promovendo mudanças, o que revela resistência à modernização da gestão interna, especialmente em estruturas familiares ou informais.

Predominância da cautela tecnológica

A maior parte das inovações relatadas são voltadas para melhorias do negócio, com 74,85% delas focadas na eficiência e na atualização de práticas já estabelecidas.

Apenas 5,2% das empresas afirmaram ter desenvolvido soluções verdadeiramente disruptivas, o que demonstra o conservadorismo predominante e a falta de oportunidades e incentivos para assumir riscos mais elevados. Tecnologias como inteligência artificial e realidades mistas ainda são pouco exploradas, apesar de já existirem soluções acessíveis para todos os portes.

“A preferência por soluções simples e de aplicação imediata, ou seja, inovações de baixo risco e impacto direto na operação, é coerente com a realidade dos pequenos negócios, que buscam responder aos desafios do dia a dia e ganhar fôlego competitivo”, explica Ogawa.

Inovação aberta avança

Uma boa notícia é que 45,8% das empresas inovadoras afirmaram adotar práticas de inovação aberta, por meio de parcerias com outras empresas, universidades ou institutos de pesquisa. Embora esse dado represente um avanço cultural, ele também revela grande potencial ainda inexplorado para articulações em rede.

Caminhos para o futuro

Para mudar esse quadro, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) propõe uma série de ações para acelerar a transformação no comércio: revisão das políticas de incentivo fiscal para incluir pequenos negócios, programas de capacitação, fomento regional à inovação e criação de plataformas que divulguem oportunidades e recursos disponíveis.

“A inovação não pode ficar restrita a poucos. Deve ser o motor coletivo de um comércio mais competitivo, resiliente e alinhado com os novos tempos”, resume Tadros.

Deu no Portal da CNC

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista