Natureza 02/06/2025 19:05

Um megatsunami que pode gerar ondas de até 300 metros ameaça os EUA

Sob as águas profundas do Pacífico, na zona de subducção de Cascadia, uma falha sísmica com mais de mil quilómetros de comprimento estende-se desde a ilha de Vancouver até ao norte da Califórnia.

Ali, onde as placas tectónicas Juan de Fuca e norte-americana se encontram num abraço tenso, os cientistas identificaram um cenário tão aterrador quanto plausível: um grande megaterramoto que poderia desencadear um megatsunami de até 300 metros de altura.

O impacto de um tal fenómeno, segundo as projecções apresentadas pelos investigadores da Virginia Tech e publicadas na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, seria devastador. As ondas gigantescas varreriam a costa oeste numa questão de minutos, afectando gravemente os estados de Washington, Oregon e o norte da Califórnia, onde mais de 70 mil quilómetros quadrados estão em risco directo.

APRENDENDO COM O PASSADO

Os cálculos da equipa de investigação liderada pela geóloga Tina Dura sublinham que este fenómeno não é meramente teórico. As camadas de sedimentos marinhos analisadas mostram evidências de pelo menos 19 eventos semelhantes nos últimos 10.000 anos.

O mais recente ocorreu em 1700 e gerou ondas que chegaram a atingir a costa do Japão. Mas o que preocupa os especialistas não é o passado, mas a certeza com que se antecipa o próximo grande acontecimento: um tremor que poderá atingir magnitudes superiores a 9.0 na escala de Richter, desencadeando uma parede líquida de destruição imparável.

Radiografia de uma ameaça

Para melhor compreender esta ameaça, é fundamental conhecer a mecânica tectónica da zona de subducção. As placas envolvidas não deslizam suavemente, mas permanecem presas umas às outras durante séculos, acumulando energia que, quando subitamente libertada, dá origem a terramotos colossais. 

É também esta libertação de energia que desloca enormes volumes de água, criando megatsunamis. Ao contrário de um tsunami comum, em que as ondas podem medir entre 10 e 20 metros, um megatsunami pode arrasar cidades inteiras antes mesmo de a sua sombra tocar em terra.

Os investigadores também começaram a modelar diferentes cenários de impacto com inteligência artificial. Um dos modelos mais alarmantes sugere que cidades costeiras americanas como Seattle e Portland podem ser dizimadas em menos de 15 minutos após o terramoto inicial.

Isto deixa pouco ou nenhum tempo para a evacuação, aumentando exponencialmente o número de potenciais vítimas. Na pior das hipóteses, as perdas humanas e materiais poderão exceder as de qualquer catástrofe natural na história moderna dos EUA.

Os dados são tão convincentes que levaram várias agências governamentais e organizações científicas a redobrar os seus esforços para criarinfra-estruturas de alerta precoce, exercícios de evacuação e reforço das construções costeiras.

No entanto, o desafio vai para além da técnica: trata-se também de gerar uma consciencialização real e sustentada entre uma população que vive muitas vezes de costas voltadas para o mar, que pode tornar-se o seu carrasco.

O megatsunami não ameaça apenas a nível local, mas pode também ter consequências geopolíticas. De acordo com a análise, o colapso das principais cidades portuárias e económicas do oeste dos Estados Unidos alteraria as rotas comerciais, as economias regionais e poderia precipitar uma resposta militar ou humanitária à escala internacional.

Assim, sob o reflexo obscuro do Pacífico, o tempo está a passar silenciosamente. Enquanto milhões de pessoas vivem a sua vida quotidiana na costa ocidental, um titã adormecido espera o seu momento. Não há certezas quanto ao “quando”, mas há certezas quanto ao “como”. E nesse “como” reside a urgência de nos prepararmos, de compreendermos que o verdadeiro monstro não é a onda, mas a ignorância da sua existência.

Deu em National Geographic
Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista