Futebol 30/05/2025 09:29

Estilo do Botafogo, relação com John Textor, nova função de Cuiabano e zagueiros jovens: Renato Paiva abre jogo sobre diversos temas

Técnico do BotafogoRenato Paiva concedeu ótima entrevista no programa “Seleção SporTV”, nesta quinta-feira, quando discorreu sobre diversos assuntos.Um deles foi a relação com John Textor e o planejamento do clube, que optou por iniciar a temporada no fim de março.– Eu falo com ele e ele fala com os outros treinadores do grupo. A perspectiva é sempre de um lado e de outro. Há quem sinta que, neste momento, olhando para o momento atual, há um problema de início da época ou de planejamento, mas se calhar, se chegarmos a dezembro e ganharmos algumas coisas, vamos dizer que afinal estava certo, e é isso que o John diz. Não foi o planejamento que, se calhar, muitos queriam no início da temporada anterior, e acabou ganhando a Série A e a Libertadores, e está certo. Para questionar isto, eu gosto das coisas com tempo, eu gosto das coisas planificadas. Se me perguntar, gostaria de ter chegado antes enquanto treinador, porque quanto mais tempo tenho para trabalhar e identificar o grupo, melhor, mas obviamente quem toma decisões, toma olhando a muitas coisas, e então ele tem na cabeça que é aquele momento. Não há um olhar para o Estadual com muito interesse, com muita atenção, até pelo calendário pesadíssimo que há, e o medo do desgaste dos jogadores, exatamente que depois há algum receio de que cheguem ao momento das decisões, que é mais ou menos no final da época, e os jogadores não estejam disponíveis. Método há. Podemos aceitar ou não aceitar. Agora, ele é claro naquilo que explica, naquilo que propõe, e naquilo que decide. Há um método, há uma ideia, pois é como em tudo, podemos concordar ou podemos não concordar, a prática é sempre o critério da verdade – explicou Renato Paiva.

Leia outros trechos da entrevista:

Estilo de jogo e mudança para dois atacantes

– Eu gosto de ganhar, seja de qualquer forma. Esta questão teve a ver com, obviamente… A primeira ideia tinha a ver com uma equipe que criava situações de finalização, chegava à área, mas depois não conseguia finalizar. Eu acho que faltava gente, peso na área. O Artur ainda se estava a adaptar um bocadinho. Tínhamos só o Savarino dentro daquilo que eram ainda as dinâmicas da equipe anterior. E com a chegada do Mastriani, nós olhamos para ali, sendo um jogador mais de área e podendo libertar mais, dar liberdade àquilo que é o Igor, dentro e fora da área. Então nós sentimos que não estávamos a funcionar muito bem. Tínhamos aquela posse de bola que não terminava em finalização. E isso para mim, a posse de bola que não termina em finalização, a posse de bola é para mexer ali o adversário e para chegarmos lá à frente. Pronto. Depois começaram a vir as lesões e ainda mais se acentuou essa situação. Eu não tenho, de fato, uma preferida. Eu olho para o jogo e para o adversário, quando tenho o elenco todo. Quando tenho lesões temos que, de fato, encontrar essas soluções em função do que está disponível. Mas olho para o adversário e, por exemplo, eu vou dar este exemplo.

– Nós com o Estudiantes jogamos com dois e nós agora jogámos só com um. Por quê? Em especial aqui, a linha da Universidad de Chile era uma linha muito estática. Enquanto a linha do Estudiantes era uma linha de saltar, são jogadores de ir caçar entrelinhas. A linha da U de Chile era mais estática. Então o que é que eu queria com isto? Queria que o Artur e o Savarino, por dentro, obrigassem esses jogadores a saltar, mexer a linha de cinco, porque eu sabia que ia ser complicado a linha de cinco lá atrás, mexer essa linha de cinco e criar condições ou para os facões curtos do Igor ou alguém que viesse de trás, ou então para zonas de cruzamento onde o Igor conseguisse ter momentos de um contra um. Porque quando jogas com uma linha de cinco, normalmente quando sai o cruzamento, tens no mínimo três jogadores na área. Então nós quisemos ali flutuar com o Artur, com o Savarino e às vezes com o Cuiabano para mexer muito esta linha. E para quando levássemos a bola fora e voltássemos dentro, a linha estivesse bagunçada e a gente conseguisse. O gol do Igor acaba por ser uma situação de mano a mano na área. Com o Estudiantes, não. Eu preferia ter lá dois colocados para segurar, para eu dizer assim, não, eu estou habituado a ir caçar, mas se eu for caçar tenho gente aqui nas costas. Então tem tudo uma lógica tática em função daquilo que é o adversário e em função também daquilo que são os nossos jogadores.

– Depois é como digo, com as lesões e com o que temos à disposição, nós vamos tomando decisões, mas eu de fato não tenho um sistema preferido. O que eu gosto mesmo é que a minha equipe interprete os diferentes sistemas. Eu acho que está cada vez a fazer isso mais. Nós, por exemplo, com o Flamengo, jogamos com três médios, uma espécie de 4-3-3 com o Allan. Isso ajuda muito os meus jogadores. O que passo aos meus jogadores é o entendimento do jogo. É a tomada de decisão, é onde deve estar para receber a bola ou para arrastar um colega. Se eu tenho bola, onde é que eu devo colocar? E isso depois, independente dos sistemas, se tu tiveres boas tomadas de decisão constante, independente dos sistemas, tu percebes o jogo. Depois é só uma questão posicional. Portanto, eu não tenho propriamente um sistema preferido.

Cuiabano mais avançado

– Tem a ver, primeiro, com as características dos jogadores. Depois, não vou mentir, obviamente, pela necessidade de encontrar soluções, que é o que eu digo, o treinador tem que ser um solucionador e não uma pessoa que chora em problemas, porque eles vão sempre aparecer. E então, aparecendo lesões daquele lado, nos pontas, mais à frente, olhando para as características do Cuiabano e para o rendimento dos dois, é que a dor de cabeça era, Telles e Cuiabano, os dois muito bem, quer a treinar, quer a jogar. E como eu gosto muito de meritocracia, dar mérito a quem faz por onde, comecei a perceber que era ali uma oportunidade para colocar o Cuiabano mais à frente. Por quê? Porque é um jogador muito agudo, porque é um jogador muito potente, porque é um jogador que, num espaço curto, põe na frente e, com a sua potência, vai embora. E porque é um jogador que tem finalização. Então, como eu quero que os meus laterais cheguem às zonas de finalização, bem como os pontas, eu encontrei no Cuiabano um jogador mais de terminar jogadas ou de fazer assistência no último passe ou no um contra um, porque também senti que a nossa equipa faltava-lhe um bocadinho esse um contra um, esse desequilíbrio individual. Então foi por isto. Foi pelo rendimento dos dois, foi pela lesão e foi pelas características do Cuiabano. Felizmente, resultou, felizmente para nós, felizmente para ele também. Dá-me uma solução de jogar com os dois ali, dá-me uma solução também de ele já conhecer a posição de defesa lateral, para ir ajustando o rendimento do Telles em virtude do cansaço. Ainda tenho o Marcçal ali para ajudar também. Portanto, foi um bocadinho mais por isso.

Uso dos laterais

Eu quando cheguei, reuni-me, foi um dado que me chamou a atenção, foi que os laterais que estavam não tinham este protagonismo. Nem gol e pouca assistência. Está mal, porque há várias formas de nós olharmos para o jogo. A minha forma, em especial quando é um 4-2-3-1 ou quando é uma linha de três, eu gosto que os laterais tenham um processo ofensivo bem definido. E digo-lhes inclusive, quero que tenham preocupação com bola, nem quero que tenham preocupações defensivas. Os equilíbrios vão fazer outros jogadores. E reuni-me com eles individualmente e mostrei-lhes algumas jogadas que fiz no Toluca e inclusivamente no Bahia, em que era um lateral a cruzar e o outro a fazer gol. E expliquei-lhes, era um bocadinho isto que eu quero de vocês. Para já, porque é difícil defender isto. É difícil defender um lateral que chega nas tuas costas quando o lateral adversário normalmente está preocupado com o extremo, com o ponta, que às vezes está por dentro. Fecha mais em excesso e aparece o lateral vindo de trás de surpresa e acaba por finalizar. Se tens laterais ofensivos e que tenham boa capacidade de finalização, ainda te ajuda mais a que este tipo de jogo aconteça. E num 4-2-3-1, quando tu tens dois médios mais recuados e tens ali um 10, há zonas que tu tens que ocupar do 10 para os laterais. E normalmente essas zonas, ou é um volante que salta ou é o extremo que vem para dentro e deixa o corredor livre para o lateral. Então também é uma forma de sermos mais ofensivos. De chegar mais gente à zona de criação e de chegar mais gente às zonas de finalização. É uma forma de ver o jogo que eu tenho. Um dia posso chegar a um clube que não tenha laterais tão ofensivos ou tão bons a finalizar. E isso acontece, por exemplo, com os meias. E nós mudamos, obviamente, esta forma de ver o jogo. Mas em função do elenco que aqui tinha. Estive no Toluca, inclusive no Bahia, por exemplo, quando pedi o Gilberto, do Benfica. Tinha um bocadinho este intuito de serem laterais muito ofensivos. E porque são jogadores difíceis de defender. Difíceis de defender, como eu já disse, na chegada à área. E às vezes também, quem marca normalmente os laterais são os pontos adversários. E os pontas adversários, às vezes, para defender, se não forem muito concentrados…

O que fez após a expulsão de Jair

– Interferi. Quando acontece a expulsão, obviamente quando eu vejo o árbitro ir ao VAR, já imaginava o que é que ia acontecer. Então, chamei de imediato dois jogadores e expliquei-lhes como é que íamos jogar. Enquanto há aquela história, eu disse, olha, vamos jogar assim, o Gregore vai recuar para a posição de zagueiro, estava 0-0, menos um jogador e nós precisávamos de ganhar. Portanto, não havia como não arriscar. Então, o Gregore, zagueiro, dá-me sempre aquele que passa à frente como médio e passa atrás como zagueiro, risco, colocar três médios, o Marlon por dentro, o Cuiabano mais à esquerda e o Savarino mais à direita, um bocadinho mais solto e deixar sempre o Artur e o Igor na frente para ameaçar o adversário. Então, expliquei isto e depois pedi ao Cuiabano para cair, não sei se devia dizer isto (risos), pedi ao Cuiabano para pedir assistência para que os líderes, e isto que está aqui é a liderança, e graças a Deus o Botafogo órfão de liderança não está, temos jogadores com experiência brutal e com as características inatas mesmo de serem líderes. Então levou-se a informação de fora para dentro, Cuiabano manteve-se ali à espera de assistência e todos eles se reuniram para perceber como é que nós íamos jogar. Mas, obviamente, para além das instruções, há aquela motivação de gerar, que os líderes têm que dar, que os capitães têm que dar, dizer que temos menos um, mas não temos, vamos acreditar que, e como já foi possível no final, não é?

– É muito fácil lidar com bons jogadores, não é? Uma vez dizia um senhor ao Scolari, na seleção portuguesa, que era um problema lidar com tantos bons jogadores na seleção portuguesa, e ele tem uma frase que nunca mais esqueci, das muitas, que ele diz, “não, o problema é lidar com o jogador perneta, com o jogador bom não é problema nenhum”. E de fato é isto, não só o que eles são dentro do campo e aquilo que eles representam em questões técnico-táticas, mas sim aquilo, a força que eles transmitem ao grupo, não é? E isso é um peso gigantesco, aliás, normalmente eu faço a palestra do jogo de manhã, no dia do jogo faço de manhã, não faço perto do jogo, porque eu sei que nesse momento os jogadores já estão em outra onda. Eu faço essa informação de manhã aí por setores, não faço coletivo, faço mais individualizado, aquilo que é o plano de jogo, e depois, na parte já de antes, depois do aquecimento, para sairmos, são eles que falam, já não quero falar mais, são eles que falam e acho que isto junta muitas peças e há uma liderança reconhecida até pelos colegas.

– Eu só acertei a questão tática. Defendes e atacas, até porque quando estava 0-0, não estávamos a defender em 4-4-1. Era 4-3-2 a indicação, era mesmo esse. Arriscar ao máximo para não nos afundarmos e para termos sempre estas duas ameaças. Depois acaba quando vem o gol. Aí sim já passámos a defender em 4-4-1, já baixámos um bocadinho o Artur. Mas eu depois não fiz substituições, porque lá está. A ideia logo é faz 1-0 e vais segurar o resultado. Sim, mas a diferença era mínima. E se LA U em uma jogada qualquer faz 1-1 e eu já tinha mexido para defender?. Depois tinha que mexer para atacar. Além de que eu sentia a equipe bem. Como eu digo, às vezes cobram muito não fazer substituições ou substituir tarde. Eu não substituo por decreto. Eu sinto como é que está a equipe, como é que estão os jogadores e a partir daí tomo decisões.

Dupla jovem com Jair e David Ricardo

– Quando tens a dupla de zaga com o Bastos e o Barboza, a ideia é que estas crianças cheguem, o David não tanto, mas o Jair, cheguem e nós os possamos trabalhar e eles possam crescer na sombra destes dois pesos pesados que eram estes dois zagueiros, não é? Lá está, de repente, a necessidade aparece e eles entram. E aqui está muito mérito deles. Obviamente não há como. Isto são sempre eles. Isto é o mais importante do jogo, serão sempre os jogadores, e ponto, final, parágrafo. E eu até fiquei surpreendido, conheço um enorme potencial ao Jair. Até é um jogador de seleção. O David não conhecia tão bem, mas de fato foi, aos poucos, naquele jeito dele humilde, calado, sempre que era chamado, muito bem. E eu acho que isso ainda valoriza mais o trabalho do grupo, o trabalho da equipe e até o nosso trabalho de corpo técnico, porque, repara, nós hoje somos a segunda melhor defesa do Brasileirão, não é? E todas as derrotas que tivemos foi por 1 a 0. E nós temos oito partidas salvo erro, com o gol em zero, sem sofrer golos. E isto de fato é óbvio que não podemos reduzir só aos dois zagueiros, eu valorizo que tem o monstro, que é o primeiro defesa, que é o Igor, por exemplo, que é o primeiro defesa. Eu olho muito para a parte coletiva, mas depois, naqueles últimos momentos, nós, com estes dois jovens, estamos com números bastante bons.

Europeus vão levar a sério o Super Mundial de Clubes?

– Bem, não tenho dúvidas. Até em Portugal já se está a preparar muito por isso. Deu-se, terminou agora o campeonato, deu-se ali dois, três dias de férias, mas já estão a regressar. Benfica e Porto já estão a regressar para se preparar. Porque é uma prova nova, é a primeira vez que esta prova acontece. Curricularmente, para os jogadores e para os treinadores, é um ponto muito alto. Na teoria estão ali os melhores do mundo, não é? É um Mundial de Clubes. E qualquer Mundial, seja de seleções, seja de clubes, é sempre algo muito apelativo, não é? Financeiro também, não é? E para além da parte financeira, era onde eu ia. Portanto, há um clube que vai crescer, todos vão crescer, aquele que ganhou o primeiro Mundial de Clubes mais, não é? O que pode pesar aqui nas equipes europeias é o final da temporada. É o peso nas pernas, é os jogadores a pensar em férias, cansados não só nas pernas, mas também mentalmente. Isso pode fazer alguma diferença em relação a nós. Estamos no início e com alguma força ainda para respondermos. Portanto, isso pode fazer alguma diferença.

Fonte: Redação FogãoNET e SporTV

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista

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