Os assassinatos de mulheres no Rio Grande do Norte sofreram uma escalada entre 2013 (89 mortes) e 2017 (148), mas passaram a cair a partir do ano seguinte (em 2018, 102 mulheres foram mortas no estado), chegando a 63 em 2023.
Apesar disso, um aspecto sobre a década analisada continua a causar muita preocupação: das 1.016 mulheres assassinadas no período, 814 (ou 80,1%) eram negras.
Os dados são do Atlas da Violência 2025, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
Os números consideram as mortes em geral, sem fazer um recorte específico dos casos de feminicídio.
Ainda de acordo com o anuário, em 2023, das 63 mulheres mortas, 54 eram negras. Júlia Arruda, titular da Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres (SPM) do RN, diz que a redução no número de mulheres assassinadas não pode ser observada sem que se leve em consideração o recorte racial das vítimas.
Por isso, segundo ela, o enfrentamento precisa ser constante. A secretária disse que a pasta tem feito articulações em todo o território potiguar em parceria com a Secretaria de Estado das Mulheres, da Juventude, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos (Semjidh) para atuar nas comunidades no sentido de reverter os números.
“A gente sabe que, seguida da questão racial, vem a questão social e de escolaridade nessas estatísticas. Temos um Comitê de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres que atua em conjunto com o Conselho da Igualdade Racial e o Conselho das Mulheres e, do mesmo modo, com a sociedade civil. Um exemplo dessa atuação é o Ônibus Lilás, que tem como foco prioritário ir às comunidades distantes”, descreve a secretária.
O Atlas da Violência aponta que, enquanto em 2023 a taxa geral de homicídios de mulheres por 100 mil habitantes no RN ficou em 3,4 em 2023, no mesmo ano, a taxa de assassinatos de mulheres negras por 100 mil habitantes ficou em 4,8.
Ainda que os números chamem atenção, as mortes de mulheres negras por homicídio no estado seguem a tendência de redução dos dados gerais, só que em um ritmo mais lento.
Depois de atingir o maior número da série analisada em 2017 (com 129 homicídios), os índices apresentaram sucessivas quedas de 2018 a 2023.
Foram 85 homicídios de mulheres negras em 2018; 84 em 2019; 66 em 2020; e 59, 57 e 54 em 2021, 2022 e 2023, respectivamente. Já a quantidade de mulheres assassinadas em geral foi a seguinte: 102 em 2018; 98 em 2019; 81 em 2020; 70 em 2021; 71 em 2022; e 63 em 2023.
Em todos os anos analisados, as mulheres negras representam o maior número de vítimas. “Para além do recorte racial, nós atuamos no enfrentamento à violência contra a mulher com o programa Maria vai às Cidades e a Patrulha Maria da Penha”, frisa Júlia Arruda, da SPM.