Este achado fortuito, realizado durante as obras para a criação de um museu judicial, oferece uma nova perspectiva sobre o passado nazista da Argentina, trazendo à tona documentos que datam de 1941, em plena Segunda Guerra Mundial.
As caixas, enviadas pela embaixada alemã em Tóquio no navio japonês Nan-a-Maru, chegaram ao porto de Buenos Aires em 20 de junho de 1941.
De acordo com informações fornecidas pela Corte Suprema de Justiça da Argentina, a embaixada declarou os itens como “pessoais” para evitar uma inspeção detalhada, mas essa manobra falhou.
A Aduana interceptou a carga e notificou o Ministério das Relações Exteriores sobre o conteúdo potencialmente comprometedor para a neutralidade argentina no conflito europeu.
A análise dos documentos revelou uma variedade de materiais propagandísticos do regime nazista, incluindo fotografias, postais e centenas de cadernetas associadas a membros do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães no exterior, bem como à União Alemã de Gremios.
As cadernetas eram marcadas por uma suástica cercada por engrenagens, simbolizando sua afiliação ao partido. Além disso, foram encontrados envelopes contendo documentos com logotipos semelhantes e fichas com nomes e números de filiação.
Museu do Holocausto de Buenos Aires
O Museu do Holocausto de Buenos Aires está encarregado da digitalização e análise desses documentos.
Jonathan Karszenbaum, diretor executivo do museu, comentou sobre a importância do volume de material encontrado. Ele observou que a digitalização é um passo inicial crucial e ressaltou que, embora se presuma que os documentos tenham origem na embaixada alemã em Tóquio, essa hipótese ainda não pode ser confirmada definitivamente.
Em 2020, o pesquisador Pedro Filipuzzi havia descoberto um registro com os nomes de aproximadamente 12 mil simpatizantes nazistas na Argentina.
É possível que muitas das cadernetas encontradas agora estejam ligadas a essa lista dos anos 30. Karszenbaum destacou que os nomes eram conhecidos anteriormente; no entanto, as cadernetas representam novas informações valiosas.
Nazistas na Argentina
Karszenbaum também esclareceu que as pessoas cujas informações estão contidas nas cadernetas eram provavelmente falantes de alemão residentes na Argentina, descendentes de imigrantes alemães ou austríacos.
O apoio ao regime nazista entre essa comunidade era evidente em eventos massivos como o realizado em 1938 no estádio Luna Park, que atraiu cerca de 20 mil participantes. Contudo, esse apoio não era unânime; no mesmo dia do evento no Luna Park houve uma contramanifestação na Plaza San Martín.
O diretor expressou ceticismo quanto à possibilidade de que as cadernetas pertençam a criminosos de guerra. Segundo ele, o contexto histórico sugere que em 1941 muitos na Alemanha viam o futuro com otimismo e não estavam fugindo. Essa percepção mudou após a derrota do Eixo em 1945, quando muitos líderes nazistas buscaram refúgio na Argentina.
Entre os materiais encontrados estão também registros financeiros que podem ajudar a esclarecer questões relacionadas à chamada rota do dinheiro nazista na Argentina. No entanto, Karszenbaum alertou que ainda é cedo para afirmar se essas evidências existiriam realmente.