A viagem oficial de Lula (PT) ao Japão e ao Vietnã, no fim de março, contou com uma comitiva de ao menos 220 pessoas, além do próprio presidente e da primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja.
Reportagem do Estadão mostra que a comitiva gastou pelo menos R$ 4,54 milhões.
O levantamento feito com base em dados públicos — o valor total, no entanto, ainda não foi divulgado mais de um mês após o fim da viagem.
Esta foi a maior comitiva presidencial identificada no atual mandato de Lula. Em setembro passado, por exemplo, cerca de 100 pessoas acompanharam o presidente à Assembleia-Geral da ONU, em Nova York.
Na delegação estavam 11 representantes do Congresso e ao menos 72 integrantes de órgãos ligados à Presidência da República, como o Gabinete Pessoal, a Secretaria de Comunicação (Secom), o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e a Casa Civil.
A lista foi compilada com base em registros do Diário Oficial da União, do Painel de Viagens do Ministério do Planejamento e de ordens bancárias disponíveis no sistema Siga Brasil, do Senado.
Apesar dos pedidos de informações, a Secom se recusou a detalhar os gastos e o número total de participantes. Segundo o órgão, a lista das autoridades foi publicada oficialmente, mas as comitivas de apoio e técnicas estão sob grau de sigilo “reservado”, o que permite a omissão das informações por até cinco anos.
Viagem de Janja em sigilo
A primeira-dama Janja viajou ao Japão em voo da Força Aérea Brasileira (FAB) cinco dias antes da chegada do presidente, em 18 de março, acompanhando o Escalão Avançado, responsável pela preparação logística da visita presidencial. O deslocamento foi feito na maior aeronave da FAB, um Airbus A330-200, com capacidade para 250 pessoas.
Apesar de não possuir cargo oficial no governo, Janja voou na classe executiva no trajeto de Paris a São Paulo, após participar de um evento sobre nutrição na capital francesa. Os deslocamentos de Tóquio a Paris, e de Paris ao Brasil, custaram R$ 60.210,58, conforme dados do Painel de Viagens.
Questionada pela BBC News Brasil, Janja afirmou que antecipou sua viagem para economizar passagens e negou falta de transparência. “Obviamente, eu vim com a equipe precursora, inclusive para economizar passagem aérea. Vim um pouco antes, fiquei hospedada na residência do embaixador”, disse.
Segundo o sistema de pagamentos do governo federal (Siafi), 112 pessoas integraram o Escalão Avançado. A maioria é formada por militares, servidores do GSI e do Itamaraty, mas também estavam no grupo o fotógrafo oficial do presidente, Ricardo Stuckert, e parte da equipe de apoio pessoal de Janja.
Gastos individuais superam R$ 100 mil
Entre os maiores gastos individuais, destaca-se Márcio Elias Rosa, secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), com R$ 112,2 mil — incluindo passagens de até R$ 48,1 mil e diárias de R$ 22,2 mil.
O MDIC afirmou que a compra foi feita por uma empresa contratada, com base em pesquisa de preços, e incluiu todos os trechos da viagem entre Japão e Vietnã.
O ex-ministro das Comunicações Juscelino Filho (União-MA) gastou R$ 99,6 mil em sua última missão oficial antes de pedir demissão, em 8 de abril, após denúncia da PGR por desvio de emendas parlamentares. Além disso, levou dois assessores, cujos gastos somaram R$ 106,9 mil.
Viagem à Rússia
Na última quarta-feira, 7, Lula embarcou para Moscou, onde permanece até este sábado, 10. Esta é a 29ª viagem internacional do presidente em seu terceiro mandato.
Em sua viagem à Rússia, Lula abraçou o ditador Vladimir Putin e acompanhou a parada militar do Dia da Vitória. Em outro momento, durante reunião com Putin, o petista falou em “retomada de sonhos” que construiu com o ditador.
