A nova espécie apresentou características únicas, tanto no estágio de pupa, que é a fase de desenvolvimento entre a larva e o adulto em insetos que sofrem metamorfose completa, quanto na fase adulta, podendo ser reconhecida principalmente pelo padrão de coloração geral e pela morfologia da genitália do macho. Isso permitiu separar a espécie de outras do mesmo grupo já registradas no continente americano.
O estudo preencheu uma lacuna sobre a diversidade de Zavrelimyia na região neotropical. Até então, nenhuma espécie formalmente descrita do gênero havia sido encontrada no Brasil ou em qualquer outro país da América do Sul. Os autores destacaram que a descoberta ampliou o conhecimento sobre a biodiversidade de insetos aquáticos e poderá contribuir com estudos taxonômicos e ecológicos relacionados ao grupo.
A descrição da nova espécie contribuiu com os estudos da subfamília Tanypodinae, à qual o gênero Zavrelimyia pertence. O trabalho reforçou a necessidade de revisar os critérios usados para classificar os subgrupos do gênero, já que algumas características observadas em diferentes fases de desenvolvimento não foram compatíveis com a classificação atual. Os autores sugeriram que essas diferenças indicam a necessidade de revisões taxonômicas mais amplas no grupo.
Os próximos passos da pesquisa envolvem a identificação da fase larval da nova espécie. Um estudo anterior registrou um tipo larval do gênero Zavrelimyia no estado de Pernambuco, em ambiente semelhante ao do rio Taborda. Os pesquisadores apontaram que é possível que se trate da mesma espécie, mas essa associação só poderá ser confirmada com a descrição formal da larva.
Homenagem no nome da espécie
O nome ximenesae foi escolhido para homenagear a professora Maria de Fátima Freire de Melo Ximenes, docente titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e ex-vice-reitora da instituição.
Especialista em parasitologia e entomologia médica, a pesquisadora atua no estudo de insetos vetores de doenças, como flebotomíneos e culicídeos, em projetos voltados à saúde pública e à sustentabilidade ambiental.
Sua trajetória inclui a coordenação de iniciativas interdisciplinares que relacionam ambiente, doenças negligenciadas e populações vulneráveis, especialmente no Nordeste brasileiro, com destaque para os estudos sobre leishmaniose, dengue, zika e chikungunya.

Desde 2004, a professora coordena o Laboratório de Entomologia (Labent), vinculado ao Centro de Biociências da UFRN. Fundado em 1º de dezembro de 2006, o laboratório foi criado para estudar doenças endêmicas da região por meio da observação direta de insetos transmissores.
O Labent se dedica à entomologia médica, um campo que investiga os insetos vetores de patógenos causadores de doenças em humanos. Sob sua coordenação, o laboratório desenvolve pesquisas que envolvem desde a identificação taxonômica até o estudo dos ciclos biológicos de mosquitos e flebotomíneos, com impacto direto na formulação de estratégias de controle vetorial.
Ximenes tem uma relação direta com os autores da pesquisa que descreveram a nova espécie. Marcos Pinheiro foi seu orientando desde a graduação, atuando como bolsista de iniciação científica, monitor de disciplina, mestrando e doutorando. Galileu Dantas também foi seu aluno na UFRN e, atualmente, é pesquisador no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), onde a própria professora Ximenes realizou seu doutorado.
Para ela, foi uma grata surpresa descobrir a homenagem por meio da publicação do artigo, sem ter conhecimento prévio da iniciativa.
Ao comentar a importância do estudo, a professora Fátima Ximenes enfatiza que descobrir uma nova espécie é um sonho de qualquer biólogo. “Eu diria de biólogos que gostam da pesquisa, que gostam da ciência, porque traz o novo e a possibilidade de continuar investigando outros caminhos na pesquisa científica”, enfatiza.
No caso dos quironomídeos, a pesquisadora destaca o papel desse grupo como bioindicadores da qualidade da água, ressaltando sua relevância para o monitoramento de áreas degradadas, especialmente em contextos de contaminação por práticas agrícolas sem controle ambiental. “Quando eu falo de saúde pública, estou falando de saúde ambiental, de animal, de saúde de uma maneira geral: de saúde única”, explica.
Em relação ao achado na pesquisa, a investigadora reforça que a espécie foi a primeira descrita na América do Sul, mesmo fazendo parte de um dos grupos mais abundantes de insetos aquáticos distribuídos pelo mundo.
“São pouco conhecidos e existem poucos estudos quando comparados a outros grupos. Talvez isso ocorra porque são mais difíceis de serem identificados, realmente bem complexos. Por isso, quem estuda esses insetos precisa ter bastante tempo e paciência”, conclui.