Religião 09/05/2025 10:38
Quem são os agostinianos, ordem à qual pertence o novo papa
O novo papa escolhido nesta quinta-feira (8/5), papa Leão 14, é o primeiro papa agostiniano a comandar a Igreja Católica.
Como fica claro pelo nome, a ordem segue a linha de pensamento de Santo Agostinho.
Seus membros são denominados frades agostinianos ou agostinhos.
No século XI, essa ordem religiosa foi a primeira da Igreja Católica Romana a combinar a posição clerical com uma vida comunitária plena. A ênfase moderna tem sido na missão, na educação e no trabalho hospitalar.
A vida em comunidade é central para os agostinianos, assim como a partilha e a fraternidade. Essa linha de pensamento também valoriza o estudo e pensamento crítico, que, assim como Santo Agostinho, acredita que fé e razão caminham juntas.
Assim, é comum que os agostinianos atuem em universidades e escolas, além de causas sociais.
Trilhando esse caminho, Robert Prevost, o novo papa, tinha 30 anos quando se mudou para o Peru como parte de uma missão agostiniana, que engloba a evangelização, a promoção humana, a educação e o seguimento de Jesus Cristo, vivenciando o carisma agostiniano.
A Ordem de Santo Agostinho é uma das ordens medicantes da Igreja Católica, organizações que existem até hoje. Entre as mais famosas estão também os franciscanos e os dominicanos.
As ordens medicantes surgiram na Idade Média em contraponto às ordens monásticas. Partiam da ideia de que não fazia mais sentido o religioso enclausurado, em um mosteiro distante no alto de uma montanha. Nesse sentido, a Igreja não deveria se esconder dos problemas do mundo, mas sim ir de encontro a eles.
Filho de mãe católica — depois tornada Santa Mônica — e de pai pagão, Patrício, que só se converteria ao cristianismo no leito de morte, Aurélio Agostinho de Hipona (354-430) nasceu em Tagaste, onde hoje fica a cidade de Souk Ahras, na Argélia.
Sua vida foi cheia de prazeres mundanos até se converter ao cristianismo e se tornar um grande filósofo e teólogo.
Na infância, foi educado em latim e, aos 11 anos, acabou levado a uma escola a cerca de 30 quilômetros de sua cidade Natal, onde aprendeu literatura e costumes próprios da civilização romana. Ali teve acesso a obras clássicas da filosofia, tendo contato com autores como Marco Tulio Cícero (106 a.C. – 43 a.C), depois creditado pelo próprio Agostinho como o responsável por despertar nele o interesse pela temática.
Aos 17 anos, Agostinho foi embora para Cartago, onde hoje fica a Tunísia, para estudar retórica. Criado dentro dos princípios cristãos, por conta da educação materna, foi ali que ele acabou assumindo posturas contraditórias à fé.
Abraçou o maniqueísmo como doutrina e, na companhia de outros jovens, passou a viver no espírito hedonista. Seu grupo se vangloriava de colecionar experiências sexuais, enumerando aventuras tanto com mulheres quanto com homens.
Agostinho envolveu-se com uma jovem local, mas, ao contrário do que era esperado pela sociedade, decidiu não se casar com ela. Viveram como amantes e tiveram um filho, Adeodato — sobre o qual pouco se sabe além do fato de que ele teria morrido ainda jovem.
Sua adesão à fé só ocorreu por volta dos 30 anos. Conforme seu próprio relato, ele ficou impressionado quanto tomou contato com a história da vida de Santo Antão do Deserto (251-356), um ermitão que acabaria conhecido como “pai de todos os monges”. E, nesse transe, teria ouvido uma voz infantil dizendo “toma, lê”. Agostinho interpretou como uma ordem: ele deveria pegar a Bíblia e ler o primeiro trecho que encontrasse.
Caiu justamente num trecho da carta de São Paulo aos Romanos, no qual o apóstolo falava sobre como as sagradas escrituras teriam o poder de transformar o comportamento dos seres humanos.
“Comportemo-nos com decência, como quem age à luz do dia, não em orgias e bebedeiras, não em imoralidades sexuais e depravações, não em desavenças e inveja. Ao contrário, revistam-se do Senhor Jesus Cristo e não fiquem premeditando como satisfazer os desejos da carne”, conclama a passagem.
Ele entendeu o recado como algo para si. Na Páscoa de 387, foi batizado pelo bispo de Mediolano, Aurélio Ambrósio (340-397). No ano seguinte, na companhia da mãe e do filho, decidiu voltar para a África.
Mônica, contudo, morreu antes ainda de embarcar. Adeodato morreria pouco tempo depois do retorno. Desgostoso diante das desgraças familiares, Agostinho decidiu vender todo o patrimônio e doar o dinheiro aos pobres.
Manteve apenas sua casa, convertida em um mosteiro.
Em 391, foi ordenado sacerdote, em Hipona, na mesma província da Numídia. Então, o convertido Agostinho permitiu-se utilizar de toda a sua erudição a favor do cristianismo. Logo se tornaria um grande pregador e um grande estudioso teórico das bases da religião.
Poucos anos depois, ainda no fim do século 4, acabaria nomeado bispo de Hipona. Até o fim da vida, ele se dedicou às pregações, aos estudos e aos escritos, sempre mantendo um estilo frugal e ascético. De acordo com relatos de um bispo que foi seu contemporâneo, Possídio, ele havia se tornado um comem que comia pouco, trabalhava muito, não gostava de conversas sobre a vida dos outros e era um hábil administrador financeiro das obras de sua comunidade.
Crédito,Francesco Sforza/Reuters Papa Leão 14 é o primeiro papa agostiniano a comandar a Igreja Católica
Agostinho foi um dos pioneiros a defender que o ser humano era a junção perfeita de duas substâncias, o corpo e a alma, um entendimento que acabou influenciando muito da filosofia que seria construída a partir de então.
Também ergueu bases para a eclesiologia, propondo que a Igreja era uma única entidade legítima, mas que ela precisava ser entendida sob duas realidades. A parte visível seria formada pela instituição hierarquizada e pelos sacramentos; mas a parte invisível seria constituída pelas almas dos praticantes.
Aos 75 anos, adoeceu. Morreu em 28 de agosto de 430. Em um tempo em que a Igreja não havia definido os critérios objetivos para a canonização de alguém, acabou se tornando santo por aclamação popular.
Em 1298, o papa Bonifácio 8 (1235-1303) deu a ele o título póstumo de Doutor da Igreja.
Um dos mais importantes representantes dos agostinianos foi Martinho Lutero (1483-1546).
Como sacerdote, Lutero parecia incomodado com o monopólio da fé que a Igreja Católica detinha, sobretudo porque notou haver uma mercantilização das indulgências, o perdão pleno dos pecados que, naquele momento histórico, vinha sendo negociado por religiosos em troca de pagamentos em dinheiro.
O monge agostiniano germânico acabou, meio que sem querer, promovendo o que ficou conhecido como Reforma Protestante, um movimento que abriu as portas da religião, quebrando o monopólio da Igreja Católica e permitindo que passassem a existir, no mundo ocidental, diversas outras igrejas cristãs.
Na época, Lutero já era um religioso renomado, com respeitável carreira acadêmica.
Em 31 de outubro de 1517, o agostiniano afixou 95 teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg. Basicamente, ele questionava esse comércio de graças e o poder absoluto da Igreja na fé popular — e afirmava que a Bíblia era o texto primordial que deveria ser considerado, acima de qualquer autoridade papal.
A partir daí, o religioso passou a ser alvo de um longo processo até que, em 1520, o Vaticano determinou sua excomunhão.
Sua expulsão da Igreja acabou suscitando outras denominações cristãs, abrindo as portas da religião, quebrando o monopólio da Igreja Católica e permitindo que passassem a existir, no mundo ocidental, diversas outras igrejas cristãs.
Deu em BBC
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