Religião 04/05/2025 14:23

Joaquim Arcoverde: Conheça o primeiro brasileiro a participar de conclave

Após a morte recente do papa Francisco no dia 21 de abril, a atenção de católicos — e até mesmo não religiosos — de todo o mundo se volta para o Vaticano, onde agora ocorre um dos processos de eleição mais sigilosos de toda a história: o conclave, que elegerá um novo líder para a Igreja Católica em meio a um Colégio de Cardeais.

Vale mencionar que, além de suas decisões à frente da Igreja, Francisco foi também uma figura significativa para a história, sendo o primeiro papa latino-americano que já existiu, sendo argentino.

E agora, os brasileiros têm grande expectativa na possibilidade de que alguém de nossas terras se torne o novo papa — há sete brasileiros elegíveis, embora não sejam os favoritos.

Cardeais reunidos para o conclave de 2025 / Crédito: Getty Images

Porém, embora nunca tenha existido um papa brasileiro, já houve outras ocasiões em que sacerdotes do Brasil compuseram o Colégio de Cardeais, sendo assim elegíveis para ser o novo papa. E o primeiro deles foi o pernambucano Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti.

Mais conhecido como cardeal Arcoverde, ele entrou para a história como o primeiro religioso latino-americano nomeado para o Colégio de Cardeais, e também o primeiro a participar de um conclave. Ele esteve presente nos encontros entre 31 de agosto e 3 de setembro de 1914, que elegeu o cardeal italiano Giacomo Battista della Chiesa como o papa Bento XV.

Significado político

Conforme repercute a Deutsche Welle, via UOL, a nomeação de Arcoverde como cardeal já foi um feito surpreendente para a época, e fruto direto de anos de conversas entre o governo brasileiro e a elite da Igreja.

“No final do período imperial [que foi até a Proclamação da República, em 1889], o governo brasileiro passou a querer que o bispo do Rio de Janeiro fosse nomeado o primeiro cardeal da América Latina“, explica o historiador Ítalo Domingos Santirocchi, da Universidade Federal do Maranhão, à DW. Na época, quem ocupava o posto era o bispo Pedro Maria de Lacerda.

Essa ação seria bastante importante para o Brasil, pois, como um gesto de soft power, mostraria que o país era relevante no cenário global, de alguma forma. E conforme acrescenta Santirocchi, “a Santa Sé também tinha interesse nessa nomeação, pelas relações intensas e frutíferas que estabelecia com o episcopado brasileiro”.

No entanto, nessa época ainda não houve nenhum consenso entre a cúpula da Igreja para tal decisão, embora a ideia não deixasse de correr nos anos seguintes. Com o tempo, outros nomes foram sugeridos para se tornar o primeiro cardeal do Brasil e da América do Sul, culminando, finalmente, em Arcoverde.

Carreira religiosa

Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti nasceu no dia 17 de janeiro de 1850 na cidade de Cimbres — atualmente chamada de Pesqueira —, no interior de Pernambuco. Ele começou a se preparar para o sacerdócio ainda jovem, aos 13 anos, em um seminário de Cajazeiras, na Paraíba. E apenas três anos depois, foi enviado à Roma para estudar Teologia, Filosofia e Letras.

Um fato curioso é que seu sobrenome mais conhecido, Arcoverde, tem origem em sua avó materna, uma mulher indígena da etnia tabajaras, filha do cacique Arcoverde.

Aos 24 anos, Arcoverde foi ordenado padre ainda em Roma, e depois ainda passou mais dois anos estudando em Paris, na França, antes de retornar ao Brasil. Logo que voltou à terra natal, recebeu a função de lecionar no seminário de Olinda.

Em 1890, ele foi nomeado bispo, com o objetivo de chefiar a então diocese de Goiás, mas acabou renunciando ao posto, tornando-se professor no colégio mantido em Itu por padres jesuítas. Nos anos que se seguiram, tornou-se bispo auxiliar de Lino Deodato Rodrigues de Carvalho, então responsável pela circunscrição de São Paulo, e sua relevância como figura religiosa ia crescendo cada vez mais.

Posteriormente, tornou-se interlocutor de religiosos paulistas com a cúpula da Igreja, fazendo várias viagens à Europa com a intenção de firmar parcerias com congregações de outros lugares.

Luís Soares de Camargo, ex-diretor do Arquivo Histórico Municipal de São Paulo, afirma ainda que Arcoverde “foi um bispo popular“, que “se valeu da modernidade então presente em São Paulo com relação aos meios de transporte, às ferrovias, para visitar todo o interior, ganhando a simpatia do povo”.

Finalmente, em 1897, Arcoverde foi nomeado arcebispo do Rio de Janeiro e, em 1905, tornou-se o primeiro cardeal brasileiro.

Antigo retrato do Cardeal Arcoverde / Crédito: Domínio Público

Conclave

Com a morte do papa Pio X em 20 de agosto de 1914, o Colégio de Cardeais se reuniu para realizar o conclave, e eleger um novo papa. E por mais que a imprensa internacional não desse tanta atenção a Arcoverde, para o Brasil, foi motivo de grande euforia ver, pela primeira vez, um brasileiro participando de um clérigo tão sigiloso.

Inclusive, a edição de 21 de agosto de 1913 do Jornal do Recife noticiou não só que “os sinos dobram” em luto por Pio X, que havia os deixados, como ainda ressaltava: “o cardeal Arcoverde concorrerá às eleições para a sucessão”.

“Ele foi a nossa primeira esperança de um papa brasileiro. Simbolizava uma ligação direta entre o Brasil e a Sé romana. Era a esperança do povo brasileiro e latino-americano, mas, concretamente, não há informações de sua presença entre os papáveis na época”, comenta o pesquisador José Luís Lira, professor na Universidade Estadual Vale do Acaraú, no Ceará, à DW.

Até aquele momento, Arcoverde se destacava também por ser um dos primeiros não-europeus a ocupar um posto na alta cúpula da Igreja Católica. Antes dele, somente o cardeal americano John McCloskey tornou-se cardeal, durante o pontificado de Pio IX, e o sacerdote Juan de La Cruz Ignacio Moreno y Maisanove, nascido na Guatemala, mas cuja carreira religiosa ocorreu na Espanha.

Vale mencionar também que, na época, era bastante inacessível a sul-americanos chegarem à Roma para o conclave, visto que “o único meio de transporte [para tal viagem] era o navio”, explica Lira. “Existiam dois portos dos quais se poderia deslocar para a Europa: Rio de Janeiro e Recife”.

Inclusive, alguns jornais da época até noticiaram que possivelmente Arcoverde não chegaria “a tempo de tomar parte da eleição do novo papa”, mas posteriormente descobriu-se que, quando Pio X morreu, ele estava na Espanha, de forma que conseguiu tomar um trem para Roma a tempo.

De qualquer forma, sua presença no conclave não foi significativa a ponto de torná-lo papa de fato; e, no conclave seguinte, que ocorreu em 1922, ele já não participou, devido sua saúde debilitada.

Mesmo assim, é inegável que a atuação do cardeal tenha sido importante para uma reconexão entre a Igreja Católica e o governo brasileiro. Arcoverde é descrito como uma figura com grande “força social” e “capaz de mobilizar as massas”, sendo ele um dos pilares por trás dos apelos para que Nossa Senhora Aparecida fosse oficialmente a padroeira do Brasil — reconhecimento este que só feio em 1930 — e para a instalação do Cristo Redentor no Rio de Janeiro, que ocorreu em 1931, ano seguinte à sua morte.

Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti morreu no dia 18 de abril de 1930 no Rio de Janeiro, devido a uma série de problemas de saúde, aos 80 anos de idade.

Cardeal Arcoverde

O primeiro membro brasileiro do Colégio de Cardeais — os votantes durante o conclave, que elege um novo papa — foi Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, mais conhecido como Cardeal Arcoverde.

Uma figura de grande “força social”, ele tornou-se o primeiro cardeal brasileiro em 1905, e presenciou a eleição papal em 1914, sendo inclusive uma das opções, que culminou na eleição daquele que se tornaria Bento XV.

Deu em Aventuras na História
Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista