Cidades 22/04/2025 09:57

Quais cidades brasileiras são mais propensas a terremotos? Uma é no RN

A ideia de que não existem terremotos no Brasil foi divulgada por muito tempo, principalmente pelo fato de que os abalos sísmicos que acontecem no país não tem a mesma intensidade de outros, como no Japão e nos Estados Unidos, por exemplo.

Apesar dessa crença, estudos mais aprofundados sobre as características do nosso solo já provam que isso não é verdade. Até a década de 1970, os tremores de terra no Brasil eram atribuídos à “acomodação de terra”, ou então eram vistos como consequência dos terremotos de países vizinhos, como Peru e Argentina.

Isso até pode acontecer, mas a maioria dos eventos sísmicos do nosso país está associada ao acúmulo de energia no interior da placa Sul Americana. A energia pode causar a reativação de antigas falhas geológicas, ou, ainda, que seja mais difícil, formar novas falhas que dissipam a energia acumulada, que provoca os terremotos.

Como algumas cidades do Brasil estão localizadas em cima de falhas geológicas, diversas regiões do país estão propensas a ocorrência de terremotos. Veja abaixo quais são elas.

O que são falhas geológicas e qual sua relação com terremotos?

Antes de falar sobre as cidades, vamos abordar um pouco sobre as chamadas falhas geológicas, importantes para entender os terremotos e a ocorrência deles no Brasil.

O Brasil está praticamente no centro da placa tectônica sul-americana, fazendo com que a possibilidade de tremores fortes seja mais raro, já que eles geralmente são registrados nas bordas de placas de tamanho continental. (Imagem: Carlos Uchôa/UEFS/Divulgação)

Também conhecidas como falhas tectônicas, são estruturas da crosta do planeta que originam os terremotos. Em geologia, “falha” significa uma fratura na rocha, onde há um movimento relativo entre os blocos rochosos fraturados.

Então, o local onde existe o rompimento do bloco e a liberação de energia é o foco do terremoto. De acordo com estudos geológicos recentes, essas formações geológicas existem no Brasil, e diversas cidades do país estão em cima delas.

A diferença principal é que nosso país está praticamente no centro da placa tectônica sul-americana, fazendo com que a possibilidade de tremores fortes seja mais raro, já que eles geralmente são registrados nas bordas de placas de tamanho continental.

Apesar disso, terremotos ainda podem ocorrer no solo brasileiro. Veja mais a seguir.

Quais cidades brasileiras são mais propensas a terremotos? Conheça algumas

1 – Salvador (BA)

Na capital da Bahia, há um exemplo muito conhecido de falha geológica: o elevador Lacerda é o marco que une as cidades conhecidas como baixa alta.

Elevador Lacerda na capital da Bahia
Elevador Lacerda na capital da Bahia (Reprodução: Vinicius Dattwyler/Pexels)

Ali, há um desnível de relevo que teve origem há aproximadamente 140 milhões de anos, quando a América do Sul começou a se separar da África. Nesse período, um bloco rochoso desceu em relação ao outro, formando a Falha de Salvador, o que aconteceu ao longo de milhões de anos.

O primeiro registro de terremoto no Brasil ocorreu justamente em Salvador, em 1724. Então, a partir de meados do século 19, muitos pesquisadores começaram a registrar outros eventos sísmicos, principalmente no Nordeste.

2 – João Câmara (RN)

A cidade do Rio Grande do Norte está localizada na falha de Samambaia, e já registrou diversos tremores de terra.

Um deles aconteceu em 2022, quando moradores sentiram nove abalos sísmicos na cidade. O maior terremoto registrado no local foi em 1986, com magnitude de 5.1, e sendo sentido em grande parte do Nordeste brasileiro.

De acordo com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a falha de Samambaia é considerada a maior do tipo no Brasil, com 38 km de comprimento, 4 km de largura e uma profundidade que varia de 1 a 9 km.

3 – Cubatão (SP)

Descoberta em 1987, a falha de Cubatão, localizada no litoral de São Paulo, faz parte de um sistema de mais de 2.000 km de extensão.

Localização da área de estudo da falha de Cubatão (escala original da imagem de satélite: 1:50.000; Imagem: Projeto SIIGAL)

Possui uma rede de falhas diferentes entre si, sendo nomeado de Sistema de Falhamento Cubatão. Mesmo com seu tamanho e estando abaixo de uma região industrial, existe um baixo risco de possíveis terremotos iminentes nesse sistema de acordo com pesquisas.

Além disso, a estrutura esteve comprovadamente ativa entre 400 e 10 mil anos atrás. Contudo, ainda não há registros de terremotos em Cubatão ou no estado de São Paulo.

4 – Itacarambi (MG)

Falando de estado, Minas Gerais é o que mais registra atividades sísmicas no Brasil. De acordo com o mapa tectônico elaborado na pesquisa citada acima, sete falhas geológicas cortam Minas Gerais, sendo elas: BR 24, 25, 26, 27, 28, 29 e 47.

A 47 está localizada no norte do estado, exatamente abaixo do município de Itacarambi. O local registrou um terremoto de 4.9 graus na escala Richter em dezembro de 2007.

5 – Taruacá (AC)

Esta cidade no Acre encontra-se próxima do epicentro do maior terremoto já registrado no Brasil, o qual atingiu 6.6 graus na escala Richter em 20 de janeiro de 2024.

A descida da placa de Nazca se choca com a placa Sul Americana,
originando em diferentes profundidades os pontos de acúmulo e liberação de energia. (Imagem: Carlos Uchôa/UEFS/Divulgação)

O tremor aconteceu na região amazônica perto da cidade, mas as coordenadas exatas apontam para Ipixuna, no Amazonas. Antes disso, foi registrado o segundo maior terremoto no país nessa mesma região, em 2022, chegando a 6.5 pontos.

A cidade acreana também é o município do estado com mais ocorrências de abalos sísmicos, uma vez que está em cima da falha de Taruacá, que corta o estado em duas partes. Mesmo com os abalos constantes na região, a profundidade deles passa dos 500 km, diminuindo o risco de danos e de serem percebidos pelos moradores.

Em 2015, ano em que estudos completos foram feitos na região, mais de 15 terremotos foram sentidos na cidade.

Esses fatos são reforçados pela localização da cidade, que está próxima de duas placas tectônicas muito ativas: a Sul-Americana e a de Nazca, ambas nos Andes.

6 – Porangatu (GO)

Já o município de Porangatu, localizado no norte de Goiás, é uma região localizada em cima da falha geológica brasileira que leva o nome da cidade: Zona de Falhas de Porangatu.

Foi registrado um terremoto de 3.7 pontos na escala Richter em abril de 2022, assustando os moradores durante a madrugada.

Outros tremores mais intensos foram sentidos em Goiânia e até em Brasília em outras ocasiões, como o acontecido em outubro de 2010

7 – Vale do Jaguaribe (CE)

A 300 km da capital do Ceará, Fortaleza, está uma grande falha geológica sobre a cidade cearense de Vale do Jaguaribe.

O local gera terremotos considerados de baixa magnitude, sendo que alguns dos mais recentes aconteceram em março de 2016, com magnitudes de 3.1 e 3.4 graus na escala Richter.

Os pesquisadores suspeitam que a água de um açude na região se infiltrou na falha, o que pode estar aumentando o número de abalos.

8 – Curitiba (PR)

Curitiba é a única capital do Brasil que fica diretamente em cima de uma falha geológica, sendo a mesma que atravessa a cidade de Cubatão.

Curitiba é a única capital do Brasil que fica diretamente em cima de uma falha geológica, sendo a mesma que atravessa a cidade de Cubatão. (Imagem: Pedro Ribas/SMCS)

Apesar disso, a região Sul é a que menos tem falhas geológicas no Brasil. Entretanto, é mais comum que as cidades do entorno da capital paranaense registrem terremotos, como São Jerônimo da Serra, a 351 km de Curitiba.

O local sofreu um abalo de 5.1 graus em setembro de 2017. Já em outros dados registrados entre 2006 e 2019, o estado apresentou sete terremotos de magnitude elevada.

Deu em Olhar Digital

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista