Saúde 11/04/2025 16:19

Como um simples teste de saliva feito em casa pode ajudar a identificar o câncer de próstata

Um teste de saliva que pode ser feito em casa está sendo apontado como uma revolução na detecção precoce do câncer de próstata, segundo um novo estudo conduzido por pesquisadores do Instituto de Pesquisa do Câncer de Londres (ICR), no Reino Unido.

A pesquisa sugere que esse exame, baseado na análise de DNA, é mais eficaz na identificação de homens com maior risco de desenvolver tumores agressivos do que o tradicional exame de sangue PSA (antígeno prostático específico), amplamente utilizado hoje em dia.

Assim como no Reino Unido, o câncer de próstata é o segundo tipo de câncer mais incidente na população masculina no Brasil, atrás apenas dos tumores de pele não melanoma.

Em uma avaliação com 6.142 homens europeus entre 55 e 69 anos – faixa etária em que o risco da doença aumenta –, os cientistas descobriram que o método identifica com maior precisão quem realmente precisa de exames adicionais, como ressonância magnética e biópsia.

Entre os 10% dos participantes com os maiores riscos de câncer, 40% foram diagnosticados com câncer de próstata após exames complementares. Desses casos, 55,1% eram de tumores agressivos – aqueles que crescem rapidamente e podem se espalhar.

Em comparação, o teste PSA, utilizado atualmente, detecta apenas 25% de casos reais entre homens com riscos de desenvolver a doença. Apenas 35,5% desses casos são agressivos.

“Com este teste, será possível reverter a situação do câncer de próstata”, disse a professora Ros Eeles, líder da pesquisa, em entrevista ao The Guardian. “Podemos identificar homens com risco de câncer agressivo que precisam de mais exames e poupar os de menor risco de tratamentos desnecessários”.

Eeles disse que o exame de saliva é simples, barato e pode ser coletado em casa, o que aumenta a acessibilidade do método.

Como funciona o teste

O teste de saliva não procura sinais diretos de câncer no corpo, como tumores ou proteínas específicas. Em vez disso, ele analisa o DNA presente na saliva para identificar se uma pessoa tem maior risco genético de desenvolver câncer de próstata no futuro.

O passo-a-passo do método é o seguinte:

  • Coleta da saliva: a pessoa coleta uma pequena amostra de saliva em casa, usando um kit simples, e a envia para análise em um laboratório;
  • Análise do DNA: no laboratório, os cientistas extraem o DNA da saliva e examinam 130 variações específicas no código genético (chamadas de variantes genéticas). Essas variações são conhecidas por estarem associadas ao câncer de próstata;
  • Cálculo do risco: com base nessas variantes, é gerado um escore de risco poligênico (PRS), que é como uma pontuação. Quanto mais variantes de risco uma pessoa tiver herdado, maior será seu escore, indicando que ela tem uma predisposição genética maior para desenvolver a doença;
  • Triagem direcionada: os homens com os escores mais altos são encaminhados a exames mais detalhados, como ressonância magnética ou biópsia, para confirmar se já têm câncer ou monitorar a possibilidade de desenvolvê-lo.

Limitações do PSA

O exame de PSA, padrão no Sistema Nacional de Saúde britânico (NHS) e usado em muitos países, mede os níveis de uma proteína no sangue que pode indicar câncer. No entanto, ele é impreciso.

Três em cada quatro homens com PSA elevado não têm a doença, e o teste frequentemente detecta tumores de crescimento lento que não representam risco à vida. Isso leva a exames invasivos e tratamentos desnecessários, com efeitos colaterais como incontinência urinária e disfunção sexual.

Já o teste de saliva mostrou resultados promissores ao reduzir falsos positivos e identificar casos que o PSA e até a ressonância magnética deixariam passar.

Dos 187 homens diagnosticados no estudo, 63,1% tinham níveis de PSA considerados normais (abaixo de 3,0 ug/L), o que indica que eles não teriam sido encaminhados para exames adicionais se tivessem passado pelo método tradicional.

Apesar dos avanços, especialistas alertam que ainda não há provas de que o teste salve vidas, e a adoção rotineira dele pode levar anos. “Precisamos monitorar esses homens a longo prazo para entender se o rastreamento baseado em risco genético realmente reduz mortes”, disse Eeles.

Por enquanto, o teste é visto como uma ferramenta complementar ao PSA, com potencial para transformar o diagnóstico precoce.

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista