Arqueologia 06/04/2025 13:48

Arqueólogos fazem descoberta surpreendente: embarcação naufragada há mais de 2 mil anos é encontrada com tesouros intactos

Uma descoberta arqueológica que já era considerada histórica acaba de ganhar novos contornos.

Trata-se da famosa embarcação de 2 mil anos encontrada próxima à costa da Ilha de Chipre, conhecida como naufrágio de Kyrenia, um navio do século IV a.C. repleto de artefatos surpreendentemente bem preservados.

O que antes parecia ser apenas uma cápsula do tempo do comércio grego antigo, agora é foco de uma atualização científica que pode reescrever parte da história marítima da Antiguidade.

O estudo mais recente, publicado na prestigiada revista científica PLOS ONE, utilizou métodos modernos para reavaliar a idade do navio. Os resultados indicam que a data original da última viagem da embarcação pode estar errada por décadas, levantando novas perguntas sobre o comércio, a navegação e até a precisão de técnicas arqueológicas utilizadas no século passado.

A história dessa descoberta começa em 1965, quando o mergulhador Andreas Cariolu, em uma expedição para coletar esponjas, se deparou com destroços no fundo do mar.

Ele jamais imaginaria que estava diante de um dos achados mais importantes da arqueologia náutica do século XX: uma embarcação de 2 mil anos encontrada praticamente intacta, carregada com dezenas de objetos valiosos da era helenística.

navio do século IV possuía cerca de 14 metros de comprimento e estrutura robusta, com um mastro quadrangular, provavelmente operado por uma tripulação de quatro marinheiros.

Em seu interior, arqueólogos encontraram mais de 100 ânforas com vinho, azeite e amêndoas, além de moedas e utensílios cerâmicos — um verdadeiro tesouro preservado sob as águas por mais de dois milênios.

Navio do século 4 foi encontrado em 1965 – Foto: Wolfgang Sauber/Universidade de Cornell/ND

As escavações submarinas realizadas entre 1968 e 1969 recuperaram ao todo 391 ânforas, além de outros objetos que ajudaram os especialistas a situar o naufrágio em aproximadamente 300 a.C. Essa referência cronológica, até então aceita, passou a ser contestada a partir das novas evidências científicas.

Pesquisadores utilizam radiocarbono e dendrocronologia para redefinir data do naufrágio de Kyrenia

A equipe da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, foi responsável por liderar a nova análise técnica. O grupo utilizou a dendrocronologia — método que estuda os anéis de crescimento das árvores — em conjunto com técnicas calibradas de datação por radiocarbono, para chegar a resultados mais precisos.

Mas o processo não foi simples. Antes de aplicar os testes, os cientistas precisaram remover o polietilenoglicol (PEG), uma substância utilizada em conservação de madeira que poderia interferir nos resultados. Após o tratamento, foi possível realizar as medições e chegar a uma conclusão surpreendente: o naufrágio não ocorreu por volta de 300 a.C., como antes se acreditava, mas entre 286 a.C. e 272 a.C.

Essa reavaliação muda não apenas a datação do naufrágio, mas também exige uma revisão das técnicas arqueológicas utilizadas por décadas para interpretar o passado marítimo da região mediterrânea. Isso significa que outras embarcações antigas já estudadas podem estar com datas imprecisas, influenciando análises históricas e cronológicas de eventos importantes.

Tesouro encontrado em navio do século IV ajuda a entender rotas comerciais e cultura grega antiga

O conteúdo do tesouro recuperado no navio do século IV oferece pistas valiosas sobre o comércio da Grécia Antiga. As ânforas com vinho e azeite indicam que a embarcação fazia parte de uma rota comercial entre o Egeu e o Mediterrâneo Oriental. Já a presença de amêndoas, cerâmicas finas e moedas ajuda a identificar os hábitos culturais e econômicos de seus tripulantes e dos povos com quem negociavam.

Mais do que simples objetos, esses artefatos representam fragmentos de uma civilização que se expandia pelo mar, conectando cidades, culturas e produtos. Agora, com a nova datação, pesquisadores acreditam que essa descoberta pode lançar uma luz ainda mais clara sobre a verdadeira cronologia do comércio marítimo na Antiguidade.

Além disso, a embarcação pode ter sido uma das primeiras a operar em um contexto pós-Alexandre, o Grande, o que torna seu conteúdo ainda mais relevante para historiadores interessados na transição do mundo clássico para o helenismo tardio.

Revisão da curva de radiocarbono pode impactar futuras descobertas arqueológicas em toda a Europa

Um dos efeitos colaterais mais significativos dessa descoberta é a necessidade de revisão da curva de calibração do radiocarbono utilizada para o Hemisfério Norte, especificamente para o período entre 400 a.C. e 250 a.C. A curva, que serve como base para datações arqueológicas em todo o mundo, estava desatualizada para esse recorte temporal, o que pode ter causado distorções em análises anteriores.

Segundo os cientistas envolvidos, atualizar essa ferramenta permitirá uma compreensão mais refinada de períodos-chave da história europeia e mediterrânea. Esse avanço é essencial para pesquisadores que trabalham com outros naufrágios, templos, tumbas e sítios arqueológicos do mesmo período.

Além disso, os autores do estudo destacam que a técnica desenvolvida poderá ser aplicada em outros casos semelhantes, ampliando o leque de descobertas e contribuindo para a reconstrução de rotas marítimas antigas com mais precisão.

Deu em CPG
Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista