População 22/03/2025 12:11

Somos 8,2 bilhões? Número de pessoas no mundo pode ser maior do que se imagina

De acordo com as estimativas oficiais da Organização das Nações Unidas (ONU) e do Banco Mundial, a população global é de aproximadamente 8,2 bilhões de pessoas.

Mas será que esse número reflete a realidade? Para uma equipe da Universidade Aalto, na Finlândia, a resposta é não.

Porcentagens médias de viés nas cinco grades populacionais nos 35 países com áreas rurais avaliadas — Foto: Josias Láng-Ritter et al.

A partir da análise de dados populacionais globais, os pesquisadores descobriram que os números de moradores das zonas rurais podem estar desfalcados. Calcula-se que o valor esteja subestimado em 53% a 84%, segundo destaca artigo publicado na terça-feira (18) na revista Nature Communications.

Se isso estiver correto, a pesquisa pode exigir que diversas políticas públicas sejam revistas. Isso, porque, muitas vezes, tais dados foram amplamente utilizados para basear estudos e dar suporte à tomada de decisões no que se refere à alocação de recursos e ao planejamento de infraestrutura para epidemiologia de doenças e gerenciamento de risco de desastres, por exemplo.

Comparação do censo com relatórios de assentamentos

Em seu projeto, os pesquisadores comparam os cinco conjuntos de dados populacionais globais mais utilizados: WorldPop, GWP, GRUMP, LandScan e GHS-POP.

Seus mapas, que dividem o planeta em células de grade de alta resolução e uniformemente espaçadas com contagens populacionais, são baseados em dados dos censos locais.

O estudo se concentrou em mapas populacionais do período relativo a 1975 até 2010, em comparação com levantamentos de reassentamento de mais de 300 projetos de barragens rurais em 35 países. Embora produzam apenas um pequeno instantâneo do local, os dados de reassentamento são coletados de forma independente e bastante abrangentes.

Postos lado a lado, demonstrou-se que os dados de 2010 perderam entre 32% e 77% dos moradores dos campos. E a razão pela qual tal perda de informações foi identificada se deu por responsabilidade dos próprios censos dos países.

Como principal entrada para os conjuntos de dados populacionais, os censos são considerados incompletos em várias regiões, uma vez que nem todas as nações têm os recursos para conduzir coletas precisas.

A falta de mão de obra qualificada e de equipamentos específicos podem ressoar em erros já nas zonas urbanas, mas, nas rurais, isso fica ainda mais escancarado, dado que as pessoas ficam espalhadas por vastas áreas de difícil acesso.

“Quando represas são construídas, grandes áreas são inundadas e as pessoas precisam ser realocadas, e essa população é geralmente contada precisamente porque as empresas de represas pagam indenização aos afetados”, explica Josias Láng-Ritter, autor do estudo, em comunicado.

Assim, diferentemente dos conjuntos de dados globais, essas declarações de impacto local fornecem contagens populacionais um pouco distorcidas As discrepâncias no número de pessoas do campo foram particularmente perceptíveis em países como o Brasil, a China, a Austrália e a Polônia. Veja:

Porcentagens médias de viés nas cinco grades populacionais nos 35 países com áreas rurais avaliadas — Foto: Josias Láng-Ritter et al.

Porcentagens médias de viés nas cinco grades populacionais nos 35 países com áreas rurais avaliadas — Foto: Josias Láng-Ritter et al.

Quantidade real da população

Já que cerca de 43% dos humanos vivem em áreas rurais, é provável que a população mundial de 8,2 bilhões de pessoas seja ainda maior. No entanto, o seu real valor ainda é uma questão em aberto.

“Embora nosso estudo mostre que a precisão melhorou um pouco ao longo de décadas, a tendência é que os conjuntos de dados populacionais globais percam uma parcela significativa da população rural. Com as mesmas práticas básicas em vigor, é improvável que dados de entrada ligeiramente melhorados possam corrigir esse nível de viés”, aponta Láng-Ritter.

Mesmo que os mapas populacionais mais recentes reflitam a realidade, conjuntos de dados anteriores já influenciaram a tomada de decisões por décadas e ainda são usados para monitorar mudanças, fornecendo uma imagem distorcida das áreas rurais. Portanto, o problema é bem mais complexo do que pode parecer.

A pesquisa reitera, porém, que os seus resultados não condenam completamente os conjuntos informacionais globais. “Em muitos países, pode não haver dados suficientes disponíveis em nível nacional, então, eles dependem dos mapas globais para dar suporte às suas decisões”, conclui o autor. “Para fornecer às comunidades rurais acesso igualitário aos serviços e recursos, precisamos ter uma discussão crítica sobre as aplicações passadas e futuras desses mapas”.

Deu em Galileu

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista