Oceanos 21/03/2025 19:07

Satélite da Nasa mapeou, do espaço, as profundezas do oceano; vídeo

Mapear o fundo dos oceanos é uma ferramenta crucial para uma série de atividades marítimas, incluindo a navegação e a instalação de cabos de comunicação subaquáticos. No entanto, dada a extensão da água salgada e a dificuldade de acessar pontos mais profundos, a tarefa está longe de terminar. Não à toa, hoje, percebe-se que existem mapas mais detalhados da superfície da Lua do que do próprio fundo dos mares terrestres.

Há algumas semanas, um grupo apoiado pela Nasa publicou em um artigo na revista Science, um dos mapeamentos mais detalhados do fundo do mar feitos até agora. Para chegar a esse resultado, foram utilizados, sobretudo, dados do Surface Water and Ocean Topography (SWOT), que permitiu investigar os oceanos do espaço.

Emprego do satélite SWOT

Embora mapear o fundo do mar não seja o objetivo principal da missão SWOT, lançada em dezembro de 2022, o instrumento é capaz de medir a altura da água em quase toda a superfície da Terra. Assim, os pesquisadores podem usar essas diferenças de altura para criar um tipo de mapa topográfico e avaliar as mudanças no gelo marinho ou rastrear como as enchentes progridem rio abaixo.

Mas, mais do que isso, os cientistas entenderam que poderiam aproveitar essas informações para analisar correntes do fundo do mar e os processos geológicos do planeta. Montes submarinos e colinas abissais influenciam o movimento de calor e nutrientes no fundo do mar e podem atrair vida, também influenciando nos ecossistemas mais próximos da superfície, dos quais os humanos dependem.

“É essencial mapear o fundo do mar tanto para oportunidades econômicas estabelecidas quanto emergentes. Isso inclui, por exemplo, a mineração de minerais raros no fundo do mar, a otimização de rotas de navegação e a detecção de riscos e operações de guerra no fundo do mar”, explica Nadya Vinogradova Shiffer, chefe de programas de oceanografia da NASA, em comunicado.

O que está por trás da análise

Para a investigação, os autores confiaram no fato de que, como características geológicas têm mais massa do que seus arredores, elas exercem uma atração gravitacional mais forte, que cria pequenas saliências mensuráveis na superfície do mar acima delas. Essas assinaturas sutis de gravidade os ajudaram a prever o tipo de característica do fundo do mar que as produziu.

Assim, uma vez que o SWOT cobre cerca de 90% do globo em um ciclo que dura 21 dias, as suas observações repetidas permitiram com que os especialistas capturassem diferenças mínimas, com precisão de nível centimétrico, na altura da superfície do mar.

Veja abaixo uma animação que mostra as características do fundo do mar em regiões do México, América do Sul e Península Antártica:

No vídeo, as partes em roxo denotam regiões mais baixas em relação a áreas mais altas, como montes submarinos, representadas em verde. Ao todo, o satélite SWOT capturou um total de 100 mil montanhas subaquáticas, espalhadas pelos oceanos do planeta.

A visão aprimorada do SWOT também ofereceu aos pesquisadores mais informações sobre a história geológica do planeta: “As colinas abissais são a forma de relevo mais abundante na Terra, cobrindo cerca de 70% do fundo do oceano”, afirma Yao Yu, oceanógrafo principal do estudo.

Tais colinas têm apenas alguns quilômetros de largura e se formam em faixas paralelas, onde as placas tectônicas avançam. A orientação e a extensão das faixas podem revelar como as placas tectônicas se moveram ao longo do tempo. Colinas abissais também interagem com marés e correntes oceânicas profundas de maneiras que os pesquisadores ainda não entendem completamente.

Futuro da pesquisa

Por enquanto, os cientistas acreditam que já extraíram quase todas as informações sobre as características do fundo do mar que esperavam encontrar nas medições SWOT. A partir de agora, eles esperam se concentrar em refinar sua imagem do fundo do oceano, calculando a profundidade das características que veem.

O trabalho complementa um esforço da comunidade científica internacional para mapear todo o fundo do mar usando sonar baseado em navio até 2030. “Provavelmente não faremos o mapeamento completo até lá, mas o SWOT nos ajudará a preencher as informações que não conseguirmos de barco, nos aproximando de atingir o objetivo de 2030”, conclui David Sandwell, geofísico colaborador do projeto.

Deu em Galileu
Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista