Bebidas 17/03/2025 04:50
Crise em Champanhe, na França: na terra de Dom Pérignon, Veuve Clicquot e Moët & Chandon só se fala na taxação de 200% de Trump
Os produtores de champanhe na França vendem quase US$ 1 bilhão para os EUA todos os anos, mas, na sexta-feira, em Épernay, a capital mundial do espumante, o único número na boca de todos era 200.
Essa é a alíquota da tarifa de importação que o presidente americano, Donald Trump, ameaçou impor ao champanhe e a outros vinhos e destilados europeus exportados para os EUA.
Foi mais um capítulo da guerra comercial iniciada por Trump, depois que a União Europeia (UE) contra-atacou a elevação de tarifas sobre aço e alumínio com suas próprias tarifas sobre produtos dos EUA.
A ameaça de uma tarifa de três dígitos caiu como um raio em Épernay, assustando trabalhadores, produtores e as lojas da Avenue de Champagne, o boulevard central da cidade.
— Uma tarifa de 200% tem o objetivo de garantir que nenhum Champagne seja enviado para os EUA — disse Calvin Boucher, gerente da Michel Gonet, uma casa que está há 225 anos na avenida.
Com 20% a 30% das 200 mil garrafas que produz anualmente exportadas para comerciantes e restaurantes americanos, a empresa teria seu negócio “esmagado”, afirmou Boucher. O preço de um champanhe de US$ 125 mais que triplicaria da noite para o dia.
Épernay está no coração de uma região que produz o melhor espumante do mundo. Os EUA são o maior mercado estrangeiro dos produtores da região, com 27 milhões de garrafas enviadas para lá em 2023, no valor de cerca de 810 milhões de euros (US$ 885 milhões).
As uvas chardonnay, pinot noir e meunier cobrem as colinas onduladas e os vales profundos da região de Champanhe, que cobre cerca de 340 quilômetros quadrados, da cidade de Reims até o rio Aube.
A área segue o rigoroso sistema de domínio de origem da França, que garante que apenas o vinho espumante produzido aqui, usando métodos específicos, possa ser legalmente chamado de champanhe.
São mais de 4 mil viticultores independentes e 360 casas de champanhe. A região produz cerca de 300 milhões de garrafas anualmente, com mais de 1 bilhão delas descansando em adegas.
As maiores casas — incluindo Dom Pérignon, Veuve Clicquot e Moët & Chandon, pertencentes ao conglomerado de luxo LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton — dominam a produção, as exportações e representam um terço das vendas totais.
Nathalie Doucet, presidente da Besserat de Bellefon, uma casa de champanhe que exporta 10% de sua produção premium para os EUA, disse que a guerra comercial a deixava ansiosa:
— Estamos esperando para ver o que acontece, mas não são boas notícias — disse Nathalie, cuja casa usa um processo trabalhoso de baixa pressão, que confere uma acidez nítida e uma efervescência fina ao champanhe.
A produção de champanhe já havia enfrentado um ano difícil, com o clima ruim reduzindo a colheita.
O consumo vem diminuindo, à medida que os jovens têm mudado seus hábitos, passando a preferir coquetéis e cervejas artesanais. As vendas de champanhe caíram desde a pandemia, com uma queda de 9% no ano passado.
Ao mesmo tempo, disse Nathalie, a Europa estava lidando com as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza. E agora, a guerra comercial com os EUA, um dos tradicionais aliados da França, sobre questões que não têm nada a ver com o champanhe.
— Parece uma punição deliberada — disse Cyril Depart, proprietário da loja de vinhos Salvatori, logo após a Avenue de Champagne, que oferece uma ampla variedade de champanhes artesanais. Sua esposa foi gerente de exportação de uma das grandes casas de champanhe e já estava calculando os possíveis impactos.
O dano de uma guerra comercial se espalharia muito além das casas de champanhe, atingindo importadores e distribuidores americanos e colocando em risco diversos pequenos negócios.
Michael Reiss, presidente da Vineyard Road, um pequeno distribuidor de Framingham, Massachusetts, que importa champanhe e vinhos da Europa e os distribui no Nordeste dos EUA, disse que pequenos negócios como o dele, incluindo restaurantes e lojas de varejo, seriam “muito prejudicados”.
O ambiente comercial imprevisível poderia forçar as empresas a cancelar investimentos planejados, acrescentou ele. Além disso, as tarifas aplicadas no início da cadeia de suprimentos podem se multiplicar, já que cada empresa que manipula o produto aumenta seu preço de acordo, disse Reiss:
— Então, até mesmo uma tarifa de 25% pode facilmente levar a um aumento de preços de 40% a 60%.
Uma tarifa de 200% “eliminaria a possibilidade de as pessoas comprarem coisas que trazem alegria para suas vidas,” acrescentou.
De volta a Épernay, caso as vendas caiam, os produtores de vinho precisarão de menos trabalhadores nos campos, e haverá menos trabalho para operadores de tratores, fabricantes de rolhas e fabricantes de garrafas.
Na sexta-feira, o ministro das Relações Exteriores da França, Eric Lombard, chamou a guerra comercial de “idiota” e disse que viajará para Washington em breve.
— Precisamos conversar com os americanos para diminuir a tensão — disse ele à televisão francesa.
As maiores casas de champanhe da França permaneceram em silêncio, recusando-se a comentar enquanto esperavam ver como a ameaça de Trump se desenrolaria — e se representantes dos governos europeus conseguiriam fazê-lo recuar.
Descrição Jornalista
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