Futebol 12/03/2025 11:14

Savarino e Igor Jesus podem retomar rendimento no Botafogo com Renato Paiva? Veja análise

Remanescentes de um quarteto ofensivo que marcou o 2024 histórico do Botafogo, Savarino e Igor Jesus vivem uma temporada discreta até aqui.

Mas até que ponto o desempenho dos jogadores se dá apenas por uma queda de rendimento individual? Ou seria a dupla vítima de um ano aquém do esperado como um todo?

Até o início do trabalho de Renato Paiva, na última semana, o Botafogo viveu 55 dias sem um comando técnico definido. Após a saída de Artur Jorge, o clube passou quase dois meses convivendo com a incerteza de quem seria o novo treinador.

Neste período, Carlos Leiria foi o primeiro interino – amargando um início ruim no Carioca e o vice da Supercopa Rei – , seguido por Cláudio Caçapa, que retornou para ser auxiliar técnico permanente.

A queda no rendimento de Savarino e Igor Jesus é nítida, como apontam comentaristas ouvidos pelo ge (leia mais análises ao fim da matéria). Entretanto, além do prejuízo causado pela indefinição do técnico, há ainda o peso das ausências de Luiz Henrique e Thiago Almada – que deixaram o Botafogo rumo ao Zenit (Rússia) e ao Lyon (França), respectivamente.

— A queda de desempenho é nítida, eu não preciso falar. São jogadores que foram importantíssimos no coletivo de 2024 do Botafogo. Em relação à queda do Igor Jesus e consequentemente do Savarino, ou ao contrário, Savarino e consequentemente do Igor Jesus, é muito por não ter jogadores ao seu lado, que potencializam o seu desempenho — opinou Ramon Motta.

Igor Jesus, Savarino e Almada em Botafogo x São Paulo — Foto: Ruano Carneiro/Getty Images

Igor Jesus, Savarino e Almada em Botafogo x São Paulo — Foto: Ruano Carneiro/Getty Images

— O ano de ambos está claramente abaixo do que foi 2024, principalmente o de Savarino. Acho que o fato de o venezuelano precisar ter mais protagonismo nas ações, agora sem Luiz Henrique e Almada, pode tê-lo atrapalhado, além de ter atraído maior atenção dos marcadores adversários. Igor ainda manteve a combatividade e a intensidade com e sem bola que marcam seu futebol, mas sem a mesma produção ofensiva, o atacante sempre sofre muito — disse Henrique Fernandes.

A expectativa é grande pela primeira exibição do time sob o comando de Renato Paiva, adepto do jogo de posição. O estilo tático se baseia em largura e ter jogadores fixados em zonas pré-definidas do campo (leia mais aqui). Paulo César Vasconcellos e Jéssica Cescon apontam as possibilidades de ganho de rendimento por parte de Igor Jesus e Savarino sob o trabalho de Paiva.

— Acredito que esse jogo de posição que tanto agrada ao Renato Paiva pode beneficiar o Savarino e o Igor Jesus desde que seja flexibilizado. Ele não pode ser radicalizado. Querer que esses jogadores se limitem a determinados espaços é, de certa forma, sufocar a capacidade que têm. Acredito também que pelo fato de ter visto o Botafogo atuar, inclusive porque estava morando no Rio de Janeiro, o Paiva vai ter o entendimento de combinar o jogo de posição sem querer tolher os seus jogadores. Acontecendo isso, o não cerceamento da capacidade do Igor e do Savarino, os dois certamente vão crescer muito — apontou Paulo César.

— O novo treinador acredita em um jogo posicional de geração de espaço pelo meio por meio da amplitude, ou seja, os pontas (ou laterais) vão alargar o campo, a fim de que os meias povoem e tenham liberdade para triangular pelo meio. Isso pode favorecer Savarino, que vai ser determinante para essa dinâmica funcionar. Tanto preenchendo o meio e criando linhas de passe – o propósito do jogo posicional – quanto aproximando dos pontas. Penso que esse jogo é especialmente interessante para Igor Jesus, um centroavante de referência, que já tem a característica de executar taticamente o que esse sistema pede — destacou Jéssica.

+Almada, Luiz Henrique, Savarino e Igor Jesus no Botafogo — Foto: Vítor Silva/Botafogo

Almada, Luiz Henrique, Savarino e Igor Jesus no Botafogo — Foto: Vítor Silva/Botafogo

Paulo César Vasconcellos

— Acho que é um pouco cruel querer avaliar o desempenho dos jogadores do Botafogo como um todo (com base) no que foi visto no estadual, e em parte na Supercopa Rei e na Recopa Sul-Americana. Entendo que o trabalho do Botafogo teve um prejuízo nesse início de temporada que foi a escolha equivocada do responsável por tocar o time enquanto o novo técnico não fosse definido. O Carlos Leiria não se mostrou capacitado para ocupar esse cargo, tanto que foi demitido. Essa incapacidade do Leiria impossibilitou que jogadores tivessem o seu potencial avaliado. Eu acho que tudo começa a partir de agora com o Renato Paiva.

Jéssica Cescon

— Savarino e Igor Jesus caíram de produção neste ano, assim como todo time do Botafogo. Uma queda esperada tendo em vista a ausência de treinador na beira do campo e as saídas de dois jogadores que contribuíam muito para a dinâmica ofensiva da equipe funcionar. Mas são jogadores de muita qualidade e que devem recuperar rapidamente a capacidade técnica na medida que o elenco passar a acreditar e a assimilar as ideias de Renato Paiva.

— O novo treinador acredita em um jogo posicional de geração de espaço pelo meio por meio da amplitude, ou seja, os pontas (ou laterais) vão alargar o campo, a fim de que os meias povoem e tenham liberdade para triangular pelo meio. Isso pode favorecer Savarino, que vai ser determinante para essa dinâmica funcionar. Tanto preenchendo o meio e criando linhas de passe – o propósito do jogo posicional – quanto aproximando dos pontas. Penso que esse jogo é especialmente interessante para Igor Jesus, um centroavante de referência, que já tem a característica de executar taticamente o que esse sistema pede. Na dinâmica do jogo, poderá até sair da área, desde que outro jogador assuma sua posição, mas ele quase sempre será a referência entre os zagueiros. Isso contribui na geração de espaço do meio e infiltração dos volantes, além de ganhar força na bola aérea. Ao meu ver, se os volantes e Savarino conseguirem preencher o espaço que o esquema vai propiciar, e fizerem as infiltrações, Igor Jesus deve crescer bastante de produção.

Ramon Motta

— Por mais que o coletivo do Botafogo do ano passado, para mim, tenha sido o grande nome. Acho que o Botafogo foi muito forte coletivamente, não individualmente. Mas Almada e Luiz Henrique davam essa sustentação e potencializavam demais esses jogadores que a gente está falando. O Savarino para mim é um jogador extremamente tático, inteligente e que precisa de jogadores ao seu redor – vamos colocar assim, nessa trinca de meio de campo, um ponta, Savarino e outro ponta – que entendam essa movimentação. Ele não é o 10 que vai ficar sempre centralizado, trocava muito de posição com a Almada. Trocava com o Luiz Henrique também, mas era menos. Mas ele e o Almada tinham uma sintonia muito boa na questão de movimentação e isso confundia muito o adversário. Com a saída do Arthur Jorge, essa queda técnica e tática foi muito escancarada para mim. E aí entra o Igor Jesus, que não está sendo abastecido como era no ano passado. A não convocação dele, por mais que ele tenha sido titular nos últimos jogos da Seleção, é muito por conta desse baixo rendimento que ele teve nesse início do ano, assim como todo o Botafogo.

— Esse jogo de posição pode beneficiar bastante esses atletas, até porque o jogo do Renato Paiva é posicional mas ele dá muita liberdade, gosta de ser muito ofensivo. Tem muita movimentação que confunda, que agrida, que destrua o sistema defensivo adversário. Com o Botafogo organizado, com o tempo de treinamento adequado que está tendo o Paiva agora, que é raro ter na chegada de um técnico, eu acho que o Botafogo pode voltar a crescer. Acho que as perdas foram gigantescas nas questões técnicas e principalmente de características de cada um deles. Luiz Henrique e Almada são jogadores que são diferentes tecnicamente, de características, mas acrescentam muito taticamente e enriquecem muito o seu jogo ofensivo. Com o elenco recuperado fisicamente, até com a confiança maior, com o trabalho do Renato Paiva fixado até pelo tempo de trabalho… Acho que o Botafogo pode voltar a ser o Botafogo que a gente achava que seria em 2025.

Henrique Fernandes

— O importante é que tenhamos em mente que toda e qualquer análise do ano do Botafogo até aqui precisa considerar a aparente desmobilização do time no início do ano, já que o próprio John Textor disse algumas vezes que a temporada só deve ser verdadeiramente considerada no clube a partir do início do Brasileiro. Impossível que isso não chegue aos jogadores.

— Acho que no caso do Igor, essa influência pode ser menor. As características principais dele passam pela capacidade de pressão, sustentação de jogo e a dinâmica de ataque, o que Paiva vai querer manter, já que talvez tenha o melhor centroavante do Brasil com essas características. O jogo de posição não demanda um 9 fixo, o que pra ele é uma boa notícia. Para tê-lo no time bem adaptado, Paiva não deve deixar de explorar essa boa mobilidade dele. O que Igor precisará aprender é a se movimentar menos na direção da bola e das jogadas, e mais na intenção de abrir espaços para que outros ocupem, algo que ele também faz bem.

— Sobre Savarino, é um dos jogadores que acho que podem se adaptar mais rapidamente ao modelo do português e repetir a temporada excelente que teve em 2024, mesmo com trabalho diferente. No Atlético-MG de 2020, entregou 10 gols e 8 assistências sob o modelo de Jorge Sampaoli, totalmente baseado no jogo de posição, jogando quase sempre como ponta-direita. Acho, inclusive, que essa reaparição dele como um ponta vira uma possibilidade, sobretudo depois da chegada de Wendel, que tem capacidade de ser um meia mais central a frente de uma dupla de volantes. Aliás, com Paiva, mesmo centralizado, vejo que Savarino possa ser mais meia que segundo atacante, posição que ocupou mais vezes no período de Artur Jorge. Deve participar mais das triangulações e da construção de jogo do que da definição de jogadas.

Deu em GE

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista