Comportamento 05/02/2025 08:37

Mulheres falam 3000 palavras a mais do que homens diariamente, diz estudo

Pesquisadores destacam que o hábito feminino de falar mais ocorre durante os 25 e 65 anos, e é possível que isso esteja relacionado às tarefas de cuidado dos filhos. Entenda

Em muitas culturas, é difundida a ideia estereotipada de que as mulheres são muito mais falantes do que os homens. Para identificar a veracidade desta afirmação, uma equipe de psicólogos dos Estados Unidos resolveu calcular a média de palavras verbalizadas diariamente por pessoas dos dois sexos.

Foi assim que os especialistas descobriram que as mulheres costumam falar quase 3000 palavras a mais do que os homens todos os dias. No entanto, isso só é verdade durante um período específico de suas vidas, quando estão entre os 25 e 65 anos. Nas demais faixas etárias, a média entre eles não se diferencia tanto.

Os novos achados aparecem em um artigo publicado no Journal of Personality and Social Psychology. na última segunda-feira (3).

Revisão de estudos anteriores

Em 2007, o psicólogo Matthias Mehl, que também liderou o grupo de pesquisa do estudo mais recente, testou a suposição de que as mulheres são muito mais falantes do que os homens, analisando dados de 500 voluntários. Na ocasião, homens e mulheres usaram um dispositivo de gravação portátil chamado EAR, que ligava em intervalos aleatórios para capturar trechos de conversas diárias.

Por meio desses arquivos de áudio, Mehl desenvolveu estimativas para o número de palavras faladas por uma pessoa por dia. Quando sua análise não revelou nenhuma diferença significativa de gênero, a descoberta virou manchete nacional. Mas o estudo também atraiu críticas devido às suas limitações, como o fato de seus participantes serem quase todos universitários e da mesma cidade.

Quase duas décadas depois, o teste foi refeito. Desta vez, porém, com uma amostra maior e mais diversa. Ao todo, eles analisaram 630 mil gravações EAR de 22 estudos, feitos em quatro países, com 2.197 participantes entre 10 a 94 anos.

O resultado novamente mostrou que o número de palavras faladas por homens e mulheres e semelhante durante a adolescência (10 a 17 anos), o início da vida adulta (18 a 24 anos) e a idade adulta mais avançada (mais de 65 anos). Mas não entre os 25 e 65 anos, quando se percebeu que as mulheres falam em média 21.845 palavras por dia, ante apenas 18.570 dos homens.

Diferença durante um único período

Apesar dos pesquisadores não conseguirem definir com certeza o porquê das mulheres serem mais falante durante o período de 40 anos entre os seus 25 e 65 anos, sugere-se que isso seja reflexo do movimento de educação dos filhos. Uma vez que geralmente o papel principal de criação recaí sobre as mulheres, elas podem precisar, por vezes, falar mais com as crianças do que seus parceiros.

“Se fatores biológicos, como hormônios, fossem a causa principal, uma diferença considerável também deveria estar presente entre adultos emergentes. Já se mudanças geracionais sociais fossem a força motriz, deveria haver uma diferença gradualmente crescente entre os participantes mais velhos”, explica Mehl, em comunicado. “Nenhum dos dois foi o caso”.

Mesmo que as mulheres possam ser mais falantes do que os homens em alguns momentos da vida, Mehl disse que é importante notar que há uma variação significativa entre indivíduos de ambos os sexos. A pessoa menos falante do estudo, um homem, falou apenas 100 palavras por dia, enquanto o participante mais verboso, outro homem, falou mais de 120 mil.

“Nós, seres humanos, somos muito diferentes individualmente. É algo muito mais amplo do que uma ‘briga’ sistemática de dois sexos”, sintetiza Mehl.

Humanos estão falando menos

Outra descoberta da investigação indicou que, independentemente de gênero ou idade, o número médio de palavras faladas por dia parece ter diminuído ao longo dos anos. Os dados analisados para o estudo foram coletados entre 2005 e 2018, período em que o número médio de palavras faladas por dia caiu de cerca de 16 mil para cerca de 13 mil.

“Fizemos uma análise completa observando o ano em que os dados foram coletados. Descobrimos que cerca de 300 palavras faladas desaparecem em média por ano”, afirma a coautora do artigo, Valeria Pfeifer.

Por mais que pesquisas adicionais sejam necessárias para determinar o motivo responsável por tal queda, especula-se que o aumento nas ferramentas de comunicação digital provavelmente faça parte da equação. Mensagens de texto e mídias sociais possivelmente diminuíram as demandas por verbalização em fala.

Mais trabalho também é necessário para entender melhor qual papel o nível de loquacidade e socialização de uma pessoa pode desempenhar na saúde e bem-estar humanos. Para esse fim, Mehl está codesenvolvendo um “SocialBit”, similar em conceito a um Fitbit, que mediria os minutos de conversa diária das pessoas sem gravar o conteúdo, usando um algoritmo que classifica o áudio ambiente em se ele contém ou não conversas.

“Estou fascinado pela ideia de que sabemos o quanto precisamos dormir, sabemos o quanto precisamos nos exercitar, e as pessoas estão usando Fitbits o tempo todo, mas não temos ideia do quanto devemos socializar”, conclui ele. “A evidência é muito forte de que a socialização está ligada à saúde, pelo menos na mesma medida em que a atividade física e o sono estão”.

Deu em Galileu
Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista