Forças Armadas 03/02/2025 09:18

Ameaças de Putin fazem a Polônia formar um dos maiores exércitos do mundo

O país dobrou o efetivo militar nos últimos anos para se proteger diante da ameaça russa no leste europeu

Até 2014, a Polônia nunca havia sido lembrada como uma nação com enorme poder militar. Mas as coisas começaram a mudar naquele ano. Quando a Rússia anexou a Crimeia, Varsóvia entendeu que precisava de uma defesa robusta para evitar o mesmo destino. Desde então, o país dobrou suas tropas e se tornou o terceiro maior exército da Europa.

Ascensão militar

Quando o presidente russo Vladimir Putin invadiu e oficializou a anexação da Crimeia, um território que é reivindicado pela Ucrânia como uma república autônoma, nos primeiros meses de 2014, as Forças Armadas da Polônia eram a nona maior da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

Hoje, os poloneses ocupam a terceira posição em efetivo militar na aliança, atrás apenas dos Estados Unidos e da Turquia. A defesa do país dobrou em mão de obra, chegando a um efetivo de mais de 200 mil membros. Já o orçamento triplicou em termos reais: alcançou US$ 35 bilhões anuais (cerca de R$ 204 bilhões).

Na Europa, apenas o Reino Unido, a França e a Alemanha gastam mais, segundo o jornal britânico The Economist. Mas em relação ao percentual do PIB (Produto Interno Bruto) que é dedicado às questões militares, a Polônia está bem à frente do restante do bloco europeu.

Parcerias estratégicas

O governo polonês aposta em alianças com os Estados Unidos e a Coreia do Sul para fortalecer sua segurança. O país gastou mais de US$ 60 bilhões (R$ 363 bilhões, aproximadamente) em compras de helicópteros de ataque Apache, sistemas de defesa antiaérea Patriot e equipamentos militares sul-coreanos avançados, como tanques, obuses e sistemas de foguetes de lançamento múltiplo.

“Estamos enfrentando uma ameaça enorme. Se não aproveitássemos esta oportunidade para desenvolver nossa segurança, seria um fracasso histórico e trágico”, disse Wladyslaw Kosiniak-Kamysz, ministro da Defesa e vice-primeiro-ministro da Polônia, ao The Economist.

Presidência rotativa da UE

Em janeiro, a Polônia assumiu a presidência rotativa do Conselho da União Europeia por seis meses, colocando a segurança como tema central. O primeiro-ministro Donald Tusk, que substituiu o governo do partido conservador Lei e Justiça (PiS), quer transformar o país em um pilar de estabilidade na fronteira oriental da Europa.

Parte da frota de veículos militares da Polônia(Divulgação/Ministério da Defesa Nacional da República da Polônia)

Embora mais alinhado à UE, Tusk enfrenta dilemas geopolíticos. Apesar do fortalecimento militar, a Polônia hesita em apoiar iniciativas como o envio de tropas da Otan para a Ucrânia, uma ideia defendida, por exemplo, pelo presidente francês Emmanuel Macron. A posição polonesa reflete tanto preocupações internas quanto tensões históricas com os ucranianos.

Relação complexa com a Ucrânia

A Polônia tem sido um dos principais aliados da Ucrânia, acolhendo mais de um milhão de refugiados e atuando como centro logístico para a ajuda militar ocidental desde o início da guerra entre os ucranianos e a Rússia, em 2022.

Mas a relação entre os dois países é marcada por ressentimentos históricos e uma percepção polonesa de falta de reconhecimento por parte de Kiev. Os poloneses sentem que são frequentemente ignorados nos diálogos estratégicos conduzidos pelo presidente ucraniano Volodmir Zelensky com potências ocidentais como EUA, Reino Unido, França e Alemanha.

Um dos principais pontos de tensão é a questão das exumações de vítimas polonesas de massacres cometidos por guerrilheiros ucranianos durante a Segunda Guerra Mundial. Recentemente, a Ucrânia permitiu essas exumações, mas as cicatrizes históricas ainda influenciam a relação bilateral.

Desafios políticos internos

A política interna também interfere na estratégia polonesa de defesa. O governo Tusk tenta desmontar estruturas herdadas do PiS, mas enfrenta resistência do presidente Andrzej Duda, alinhado ao partido conservador. A coalizão governante é frágil e também encontra dificuldades para avançar em outros temas sensíveis.

As eleições presidenciais, marcadas para maio, serão decisivas para o futuro do país. Se Rafal Trzaskowski, prefeito de Varsóvia e candidato da Coalizão Cívica, vencer, as reformas de Tusk terão mais chance de avançar. Se o historiador conservador Karol Nawrocki, ligado ao PiS, sair vitorioso, no entanto, a polarização política continuará.

Pilar da segurança europeia

A Polônia teve um crescimento econômico de quase 3% em 2024. O objetivo do governo é financiar a expansão militar sem comprometer outros setores. A ideia é garantir um papel central na segurança do continente, pressionando pela entrada da Ucrânia na Otan e na União Europeia como forma de conter a expansão russa.

Ao The Economist, Kosiniak-Kamysz disse que manter o envolvimento dos Estados Unidos na Europa é fundamental. “Sem os EUA, a Otan não funciona”, afirmou. A Polônia busca ser uma ponte entre Washington e Bruxelas, onde fica a sede da União Europeia, consolidando-se como um ator-chave na arquitetura da segurança do bloco.

Deu em R7
Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista