Idosos 15/01/2025 13:46

Teste rápido prevê risco de queda de idosos com 6 meses de antecedência

Estudo com 153 pessoas entre 60 e 89 anos sugere alterações em teste clínico consagrado para avaliar equilíbrio de idosos, tornando-o mais eficiente, acessível e com capacidade preditiva

O roteiro é comum.

idoso está aparentemente bem de saúde até que um dia sofre uma queda e, a partir daí, sua qualidade de vida começa a piorar.

Isso acontece porque, mesmo quando não ocorrem consequências sérias, como ferimentos, fraturas ou traumatismo craniano, as quedas geralmente levam à diminuição da mobilidade e, por consequência, à perda de independência e autonomia.

A questão é tão preocupante – as quedas são a segunda causa de morte relacionada a ferimentos entre adultos com 65 anos ou mais – que a recomendação é que pessoas idosas realizem anualmente testes de equilíbrio e mobilidade como parte de suas consultas de rotina, independentemente do profissional de saúde responsável.

Um estudo, apoiado pela FAPESP e realizado com 153 pessoas entre 60 e 89 anos, conseguiu de uma tacada só apontar mudanças para tornar esse tipo de teste mais simples, efetivo e ainda demonstrou sua capacidade preditiva, ou seja, indicar o risco futuro de queda mesmo entre aqueles que apresentaram boas condições de equilíbrio e mobilidade.

Os resultados da pesquisa foram publicados na revista BMC Geriatrics.

“O modelo vigente do teste de equilíbrio é simples e requer apenas que a pessoa idosa permaneça em cada uma das quatro posições – pés paralelos [bipodal], com um dos pés ligeiramente à frente do outro [semi-tandem], com um pé na frente do outro [tandem] e equilibrado em um pé só [unipodal] – por 10 segundos para assim verificar problemas de equilíbrio e mobilidade.

No entanto, nosso estudo demonstrou algo que já desconfiávamos: 10 segundos em cada posição é pouco”, afirma Daniela Cristina Carvalho de Abreu, coordenadora do Laboratório de Avaliação e Reabilitação do Equilíbrio (Lare) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de são Paulo (FMRP-USP).

O estudo com os 153 voluntários mostrou que a avaliação pode ser muito mais efetiva quando o teste é resumido em observar se o indivíduo consegue permanecer em apenas duas das posições mais desafiadoras (preferencialmente tandem e unipodal) e por 30 segundos em cada uma delas.

“No trabalho descobrimos ainda que, para cada segundo a mais [dos 30 segundos] que a pessoa idosa conseguia ficar na posição de tandem ou unipodal, a chance de cair nos seis meses subsequentes diminuía 5%.

Com isso é possível predizer qual o risco de queda para o período de seis meses, algo importante visto que o teste pode ser realizado na clínica, de forma rápida e sem a necessidade de equipamentos”, completou.

Abreu ressalta que, tanto no modelo atual quanto no proposto pelo grupo de pesquisadores da USP, o teste segue sendo encarado prioritariamente como uma triagem.

Isso porque, a partir do resultado do teste de equilíbrio em quatro posições, são recomendadas avaliações mais detalhadas e multifatoriais para entender se o desequilíbrio está relacionado à fraqueza muscular, alterações no alinhamento postural, comprometimentos sensoriais, problemas articulares ou outros fatores.

“O que acontece é que com a realização do teste mantido por 30 segundos conseguimos não só identificar os indivíduos com problemas sutis de equilíbrio, mas também predizer qual o risco de o idoso cair nos próximos seis meses – o que torna a investigação posterior sobre a causa desse desequilíbrio ainda mais importante”, conta.

Para chegar à nova abordagem de testagem, o grupo de pesquisadores avaliou os 153 voluntários por meio dos testes convencionais e com o tempo ampliado, acompanhando os participantes por seis meses.

Quando os pesquisadores dividiram a amostra entre aqueles que caíram e os que não caíram, o grupo que sofreu uma queda nos seis meses subsequentes ao teste foi capaz de permanecer na posição unipodal por um tempo médio de 10,4 segundos e na posição tandem por 17,5 segundos.

Já os que não caíram se mantiveram na posição unipodal por 17,2 segundos e na tandem por 24,8 segundos.

“Nossos resultados mostram, portanto, que o teste com tempo de permanência de apenas 10 segundos só consegue detectar quem está com problemas muito graves de equilíbrio, deixando passar uma parcela importante de indivíduos com risco elevado de queda. Com isso, sugerimos que o limite de tempo para o teste de equilíbrio de quatro estágios deve ser definido para mais de 23 segundos”, disse Abreu.

O trabalho também usou uma plataforma de força – equipamento utilizado para medir as oscilações do indivíduo sobre uma plataforma durante a manutenção das posições. O objetivo era verificar se era possível predizer o risco de queda somente pelo tempo que o indivíduo conseguia ficar em uma posição ou se a magnitude de oscilação corporal era um parâmetro essencial a ser considerado.

Ainda em relação ao limite de tempo, os resultados mostraram que todos os participantes conseguiram manter a posição bipodal por 30 segundos, e a maioria dos idosos também conseguiu manter a posição semi-tandem por 30 segundos.

“Na predição de quedas em seis meses, apenas a oscilação – amplitude medial-lateral do deslocamento do centro de pressão [medida na plataforma de força] – na posição unipodal e o tempo mantido em posições tandem e unipodal foram associados à ocorrência de quedas em idosos da amostra e, portanto, sem quaisquer condições neurológicas”, completou.

Dessa forma, embora a oscilação corporal medida na plataforma de força tenha se mostrado um preditor para o risco de queda do idoso em seis meses, o problema também pode ser verificado pelo tempo de permanência nas posições mais desafiadoras (tandem e unipodal).

“Isso é importante, porque simplifica o teste e garante acesso a ele em qualquer consultório ou posto de saúde, já que a plataforma é um equipamento caro”, diz.

Os pesquisadores esperam agora que os resultados do estudo sirvam de base para a implementação da avaliação de risco de quedas em pessoas a partir de 60 anos, abrangendo desde a atenção básica até as consultas com especialistas.

“Nosso estudo avançou muito, trazendo resultados importantes para a prática clínica. Apesar de as quedas serem a segunda causa de morte por lesão não intencional no mundo entre os idosos, e haver a indicação de realização de teste de equilíbrio anualmente, ele pouco é praticado na clínica. Por isso, era importante acharmos um modelo que não precisasse de equipamentos, fosse simples [com apenas duas posições], rápido [60 segundos no total] e com a possibilidade de predizer a queda”, completa.

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista