Uma taça de vinho tinto gera aquele “quentinho” relaxante por dentro, mas também pode causar dores de cabeça. O efeito adverso é relatado desde a época dos romanos — e talvez até mesmo antes. Em busca de entender o porquê disso acontecer, pesquisadores da Universidade da Califórnia investigaram as possíveis substâncias químicas “culpadas”.

Surpreendentemente, não foram os suspeitos conhecidos pela ciência — como os sulfitos, aminas biogênicas e o tanino — e sim outro composto que também está relacionado ao rubor após a ingestão da bebida.

Qual químico do vinho tinto gera a dor de cabeça?

Depois de uma dose de vinho tinto, algumas pessoas podem ficar avermelhadas e logo em seguida sentir uma dor de cabeça. Isso acontece porque o processo metabólico de decomposição do álcool no organismo desses indivíduos fica mais lento do que o normal.

Normalmente, quando ingerimos a bebida, o etanol é convertido em acetaldeído. Após isso, uma enzima chamada ALDH converte esse composto em acetato, uma substância comum e inofensiva. No entanto, em pessoas com problemas de rubor, a enzima não funciona tão bem e gera o acúmulo de acetaldeído, que pode ser tóxico e provocar sintomas da ressaca.

Investigando mais a fundo, pesquisadores encontraram uma substância que pode estar inibindo a ALDH, desacelerando o metabolismo, aumentando os níveis de acetaldeído e, consequentemente, provocando as dores de cabeça.

As cascas das uvas possuem quercetina na composição – Imagem: Rostislav_Sedlacek/Shutterstock

quercetina é um composto fenólico encontrado nas cascas das uvas, que já foi considerado um bom inibidor de ALDH em outros estudos. Para produzir o vinho tinto, as frutas são fermentadas por mais tempo, dando à bebida abundância dessa substância.

Experimentos com substância comprovam a sua “culpa”

  • Durante a fase de experimentos, os pesquisadores testaram o quão rápido a enzima ALDH quebra o acetaldeído.
  • Neste processo, também inseriram substâncias suspeitas — incluindo a quercetina — para entender se o processo era retardado.
  • Entre os químicos estudados, a quercetina foi a vencedora em inibir a atividade metabólica. Mais especificamente, o glicuronídeo de quercetina.
  • No nosso corpo, a quercetina é transformada pelo fígado em glicuronídeo para eliminação rápida.
  • Essa substância pode afetar o processo de decomposição do álcool, gerando o acúmulo de acetaldeído que causa as dores de cabeça.
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A quercetina tem sua parcela de responsabilidade nas dores de cabeça pós-ingestão de vinho tinto – Imagem: Rostislav_Sedlacek/ Shutterstock

Próximos passos

A partir desses resultados, podemos declarar que a quercetina tem sua parcela de responsabilidade nas dores de cabeça pós-ingestão de vinho tinto. Porém, novos estudos ainda precisam ser feitos para entender melhor a relação.

O próximo experimento pode consistir em comparar os efeitos de pessoas que beberam vinho tinto normal com aquelas que tomaram uma versão com baixo teor de quercetina. Se a primeira opção causar mais dores de cabeça, será mais uma forte evidência de que o químico é o principal culpado.

Considerando a descoberta, se você sofre com dores de cabeça depois de uma taça de vinho tinto, procure alternativas mais leves e baratas. Geralmente, eles são produzidos com uvas menos expostas ao sol, que possuem baixo teor de quercetina.

Os resultados da pesquisa foram relatados no Scientific Reports e em artigo publicado no The Conversation.

Deu em Olhar Digital