Trabalho. 12/11/2024 10:15
Este país da Europa seguiu na contramão do mundo e adotou a escala 6×1 em 2024
Criada com o pretexto de aumentar os lucros, a medida, segundo especialistas, pode levar a um efeito contrário, com maior esgotamento dos funcionários e diminuição da produtividade
Enquanto o Brasil discute o fim da escala de trabalho 6×1 (expediente de seis dias, seguido por apenas um de descanso), a Grécia implementou recentemente uma nova lei que permite com que empregadores obriguem os seus funcionários a assumirem cargas semanais de até 48 horas.
De acordo com o governo, a medida tem como objetivo aumentar a produtividade e a competitividade no mercado.
Essa mudança, no entanto, não é bem vista pela população — muito menos pela ciência.
A Lei n° 5053/23 é válida para os setores que oferecem serviços 24 horas por dia.
Pelo dia extra, a política exige o pagamento de um adicional de 40% no salário diário regular do trabalhador. Isso quer dizer que, se o funcionário recebe 100€ por expediente, no 6º dia ele deverá ganhar 140€; aumentando o seu salário semanal de 500€ para 640€, por exemplo.
Por mais que não seja obrigatória, se a empresa optar por adotar a mudança, ela deve ser aplicada uniformemente a todos os seus funcionários. No caso de trabalhadores com dois empregos, a lei indica que eles poderão trabalhar por até 13 horas diárias, em um regime de 65 a 78 horas semanais.
Como aponta o jornal Aljazeera, a medida foi promulgada pelo governo de direita e pró-empresariado do primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis.
Pouco antes de ser aprovada, em 2023, ele chegou a descrever a legislação como de “núcleo favorável aos trabalhadores e profundamente orientado para o crescimento”.
O governante afirma que o envelhecimento da população do país é uma “bomba-relógio”, assim como a escassez de trabalhadores qualificados. “Tornou-se um esquema necessário”. Mais de 500.000 gregos deixaram o país desde 2010, quando a crise da dívida estourou.
Há mais de 10 anos, a Grécia sofre com um agrave econômico. Mesmo que a região tenha conseguido se recuperar em alguns aspectos, com uma diminuição expressiva nas taxas de desemprego, por exemplo, os números ainda são muito destoantes em relação a outros membros da União Europeia.
Em 2013, o país chegou a bater quase 28% de desempregados, hoje já são aproximadamente 11%, destaca o site Entrepreneur.
Segundo os apoiadores do Estado, com a mudança, a produtividade será aumentada e a Grécia se tornará mais competitiva no mercado global.
O argumento é que, além de gerar mais lucro, a medida resolverá o problema dos funcionários que não recebem horas extras e possuem vínculos empregatícios não declarados.
Apesar de quaisquer benefícios potenciais a curto prazos indicados pelo governo e seus apoiadores, diversos especialistas sugerem que estender a semana de trabalho pode, pelo contrário, reduzir a produtividade.
Isso porque cargas horárias mais longas podem levar a problemas de saúde mental, como o esgotamento psicológico e a diminuição da satisfação com o ambiente de trabalho.
Um estudo de 2014 da Universidade de Stanford descobriu que a produtividade por hora diminui significativamente quando a semana de trabalho se aproxima de 50 horas semanais.
Nos casos em que ainda ultrapassa esse teto, a pesquisa revela que a qualidade dos serviços cai tão bruscamente que não faz nem mais sentido tentar trabalhar, pois nada sairá bem feito.
Ao jornal Aljazeera, Elizabeth Gosme, diretora da ONG COFACE Families Europe, acrescenta que a lei também afeta desproporcionalmente as mulheres.
Além das demandas formais, muitas delas também possuem duplas ou triplas jornadas de trabalho em casa, onde fazem as tarefas domésticas e cuidam dos filhos.
“Onde as pessoas – especialmente as mulheres – vão encontrar tempo para uma função de cuidador?”, questiona. “Sem horários flexíveis, muitas delas podem ser forçadas a até parar de trabalhar completamente”.
Durante a pandemia de Covid-19 e as medidas de distanciamento social, análises indicaram que uma agenda equilibrada entre trabalho e vida pessoal foi chave para manter e potencializar os negócios. Por isso, inclusive, que a tendência mundial tem sido nos últimos anos de experimentar modelos de trabalho com menos horas de expediente.
Testes de rotinas com apenas quatro dias úteis mostraram repetidamente níveis aumentados de produtividade. Com o trabalho melhor concentrado, os funcionários estão mais dispostos e focados em executar suas funções.
Reino Unido, Alemanha, Japão, África do Sul e Canadá, por exemplo, já implementaram esquemas pilotos desse regime, pontua o jornal The Guardian. Nas terras britânicas, o teste sucedeu em uma redução de 71% no esgotamento dos funcionários e um aumento médio de 35% nas receitas.
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