Religião 01/11/2024 08:37

Estudo de brasileiro diz que o corpo de Jesus jamais tocou o Santo Sudário

Para o designer Cicero Moraes, tecido de linho guardado a sete chaves pela Igreja Católica não envolveu um corpo humano

Santo Sudário é uma das peças mais valiosas (e polêmicas) da fé cristã.

O pedaço de linho que teria envolvido o corpo de Jesus Cristo após a sua crucificação é guardado a sete chaves pela Igreja Católica.

Diversos estudos já se debruçaram sobre a sua autenticidade, que alimentam teorias que pregam que o Sudário não passa de uma farsa religiosa ou que impulsionam a fé de quem acredita que realmente se trata de um registro do corpo — e talvez da ressurreição — do nazareno condenado por Pôncio Pilatos, de acordo com a Bíblia.

Agora, um estudo conduzido pelo brasileiro Cicero Moraes que ganhou fama mundial reconstruindo o rosto de personagens famosos da História, concluiu que nenhum corpo tocou o linho.

Em conversa exclusiva com o PAGE NOT FOUND, o designer de 41 anos disse que a impressão no tecido foi obtida por uma técnica que não envolve o uso do corpo de um ser humano como modelo.

PAGE NOT FOUND: O que o levou a se interessar pelo Santo Sudário? Foi o desafio de tentar provar que ele pode ser falso?

CICERO MORAES: O que me levou à pesquisa foi um bate-papo em um grupo de pessoas com altas habilidades e superdotação. As opiniões eram diversas, inicialmente o foco era entendermos quanto tempo tinha o sudário, depois me interessei pela questão da estrutura dele, pois quando passei a analisar a imagem, percebi que o padrão da marca não correspondia aquela que um corpo deixa em tecido, e também a anatomia não me soava muito natural. No entanto, eu não vejo como uma falsificação, me parece um ícone religioso, uma obra da arte cristã medieval.

PAGE NOT FOUND: O que você descobriu exatamente no estudo, publicado inicialmente pela Social Science Research Network?

Cicero Moraes alega que o resultado do Santo Sudário foi uma 'pintura ou baixo relevo', não uma obra que envolve modelo em 3D — Foto: Divulgação
Cicero Moraes alega que o resultado do Santo Sudário foi uma ‘pintura ou baixo relevo’, não uma obra que envolve modelo em 3D — Foto: Divulgação

CICERO MORAES: Que a fonte da imagem pode ser uma pintura ou um baixo relevo, como um entalhe na madeira ou em metal. Tive que ler muitos artigos publicados sobre o assunto e entender o estado da arte relacionado a projeção no tecido e o que li, posteriormente à experiência digital, corroborou com as conclusões iniciais. Quando você envolve um objeto 3D, volumetria compatível com um corpo humano, com um tecido, e esse objeto deixa um padrão como manchas de sangue, essas manchas geram uma estrutura mais robusta e mais deformada em relação à fonte. Então, falando grosso modo, o que vemos como resultado da impressão de manchas de um corpo humano seria uma versão mais inchada e distorcida dele, não uma imagem que parece uma fotocópia. Um baixo-relevo, no entanto, não causaria a deformação da imagem, resultando em uma figura que se assemelha a uma fotocópia do corpo.

PAGE NOT FOUND: Alguns estudiosos classificaram o Santo Sudário como uma obra que remonta à Idade Média. Porém em pesquisa de diferentes áreas científicas – da espectrometria à química – ficou atestado que era impossível que aquilo fosse uma obra fabricada por um artista ou artesão da Idade Média. Como você se posiciona em relação a essa polêmica?

CICERO MORAES: Há contovérsias. O estudo de carbono-14 no fim dos anos 1980 foi bem conduzido, com a presença de representantes da igreja e de especialistas em tecelagem. O representante da Igreja na oportunidade, depois de receber o resultado, afirmou que não tinha motivos para duvidar do que foi apresentado. Os outros estudos não foram oficiais e carecem de algumas estruturas tanto argumentativas quanto técnicas. Mas, mesmo aceitando que o tecido era do período em que Jesus poderia ter vivido, ou ter sido adquirido nas regiões onde ele viveu, o problema da deformação anatômica ainda permanece, então mesmo que a fonte seja antiga, o elemento que gerou a impressão ainda seria uma base em baixo relevo, por exemplo. A minha posição corrobora com a de Dale (em estudo de 1987), a de que o Santo Sudário poderia ser reconhecido como uma obra prima da arte cristã.

Cicero Moraes alega que o resultado do Santo Sudário foi uma 'pintura ou baixo relevo', não uma obra que envolve modelo em 3D — Foto: Divulgação
Cicero Moraes alega que o resultado do Santo Sudário foi uma ‘pintura ou baixo relevo’, não uma obra que envolve modelo em 3D — Foto: Divulgação

PAGE NOT FOUND: Então, com base no seu estudo e na sua análise de outros estudos dá para dizer que o corpo de Jesus jamais tocou o linho do Santo Sudário? Você chamaria de uma farsa religiosa?

CICERO MORAES: Não vejo uma possibilidade de um corpo ter tocado o tecido, mas também não acho que seja uma farsa, o que vejo é uma obra de arte cristã, que serviu e está servindo bem aos seus propósitos religiosos de passar uma mensagem a um público específico.

Cicero Moraes mostra como seria o resultado caso um corpo tivesse sido envolvido pelo linho do Santo Sudário (par de imagens de cima) e o resultado real guardado pela Igreja (figuras inferiores) — Foto: Divulgação
Cicero Moraes mostra como seria o resultado caso um corpo tivesse sido envolvido pelo linho do Santo Sudário (par de imagens de cima) e o resultado real guardado pela Igreja (figuras inferiores) — Foto: Divulgação

PAGE NOT FOUND: Você acredita que a Igreja Católica deveria dar mais acesso ao tecido a fim de dirimir as dúvidas quanto à sua autenticidade?

CICERO MORAES: Creio que não. O ícone tem sido bem sucedido em seu propósito.

PAGE NOT FOUND: Ou seja, você acredita que, para a Igreja, manter essa aura de mistério é mais benéfico para a fé cristã?

CICERO MORAES: Não, o que eu vejo é que o propósito do ícone foi alcançado e que a própria Igreja já se posicionou sobe isso. Talvez haja uma expectativa por parte de alguns fiéis, mas isso está fora do controle da instituição, que, tem sido neutra acerca do sudário.

Deu em Page Not Found

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista