Pesquisadores de universidades da China, da Inglaterra e da Austrália analisaram uma combinação de fatores de estilo de vida, genética, estrutura cerebral, imunidade e metabolismo capazes de prevenir a depressão.
Publicada no periódico Nature Mental Health nesta segunda-feira (11), a pesquisa utilizou dados do UK Biobank, uma base de dados biomédica que contém informações anônimas da população britânica.
Ao todo, mais de 290 mil pessoas, das quais 13 mil tinham depressão, foram acompanhadas durante nove anos.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), um a cada 20 adultos sofre com depressão, e a condição representa um fardo significativo para a saúde pública em todo o mundo.
Os fatores que influenciam no transtorno ainda são nebulosos — podem envolver questões biológicas e de estilo de vida.
Na nova pesquisa, porém, a equipe internacional conseguiu identificar sete fatores de estilo de vida saudável associados a um menor risco de depressão.
O que demonstrou ser mais eficaz é dormir bem, entre sete e nove horas por noite. No estudo, o hábito reduziu em 22% o risco de desenvolver um quadro depressivo.
Em segundo lugar está o contato social frequente, capaz de reduzir em 18% o risco do transtorno mental.
Outros fatores que contribuem para a boa saúde emocional estão consumo moderado de álcool, dieta saudável, atividade física regular e nunca fumar.
“Alguns desses fatores de estilo de vida são coisas sobre as quais temos certo controle, portanto, tentar encontrar maneiras de melhorá-los – garantindo uma boa noite de sono e saindo para ver amigos, por exemplo – pode fazer uma diferença real na vida das pessoas”, comenta Barbara Sahakian, professora do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, em nota.
Definido o estilo de vida dos voluntários, cada um foi classificado em um destes três grupos: estilo de vida desfavorável, intermediário e favorável.
Os indivíduos que se enquadram no grupo intermediário demonstraram risco 41% menor de desenvolver depressão em comparação com aqueles no grupo desfavorável. Já os pertencentes ao time de estilo de vida favorável foram 57% menos propensos a sofrer com a tristeza profunda.
Questões genéticas
O próximo passo dos pesquisadores foi examinar o DNA dos participantes, atribuindo a cada um uma pontuação de risco genético.
A contagem foi baseada no número de variantes genéticas associadas ao risco de depressão presente em cada indivíduo. Aqueles com pontuação de risco genético mais baixa tinham probabilidade 25% menor de desenvolver depressão quando comparados com aqueles com mais suscetíveis geneticamente.
O estudo observou também que, independentemente do nível da depressão, o estilo de vida saudável pode atuar contra a condição. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores analisaram imagens de ressonância magnética do cérebro de pouco menos de 33 mil participantes.
Eles identificaram regiões do cérebro onde um volume maior – mais neurônios e conexões – estava ligado a um estilo de vida saudável. Essas regiões incluíam o globo pálido, o tálamo, a amígdala e o hipocampo.
Os cientistas investigaram ainda marcadores sanguíneos que indicassem problemas no sistema imunológico ou no metabolismo associados ao estilo de vida.
Entre os encontrados estavam a proteína C reativa, molécula produzida no corpo em resposta ao estresse, e os triglicerídeos, uma das principais formas de gordura que o corpo utiliza para armazenar energia.
“Estamos habituados a pensar que um estilo de vida saudável é importante para nossa saúde física, mas é igualmente importante para a saúde mental.
É bom para a saúde e cognição do cérebro, mas também indiretamente, ao promover um sistema imunológico mais saudável e um metabolismo melhor”, explica Christelle Langley, também do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Cambridge