Pesquisa 27/04/2023 08:07
Pesquisa constata altos coeficientes de suicídio em população masculina
A região Nordeste apresenta um cenário similar, com aumento do número total na década de 1980 e entre 2000 e 2009, mas redução no risco de morte por instrumento letal em todos os períodos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, globalmente, uma pessoa morre por suicídio a cada 42 segundos.
Países de baixa e média renda, como o Brasil, por exemplo, concentram 77% das ocorrências globais.
Pesquisa da UFRN mostra que, no cenário nacional, existe uma predominância entre os homens, que apresentam um risco 3,8 vezes maior de morte por essa causa em relação às mulheres.
Os dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, foram levantados por Weverton Rodrigues em sua pesquisa de mestrado desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Demografia da UFRN (PPGDem), sob a orientação da professora Karina Cardoso Meira.
O pesquisador analisou os números de suicídio de homens brasileiros no período de 1980 a 2019.
Os resultados sugerem uma dualidade: houve a redução do risco de morte por arma de fogo, mas uma tendência de aumento da mortalidade total.
No período contemplado, o Brasil registrou 36.895 casos por armas de fogo (2,5 mortes a cada 100.000 homens) e 231.821 suicídios totais (9,05/100.000 homens).
A letalidade dos meios utilizados é um fator importante para a pesquisa.
Segundo a orientadora da investigação e professora da UFRN, Karina Meira, esse recorte leva em consideração a criação do Estatuto do Desarmamento, em 2003, sendo esta uma potencial medida preventiva que pode ter influenciado as taxas de mortalidade.
“Quando se fala sobre medida preventiva, um dos principais aspectos é reduzir o acesso do indivíduo aos métodos. Nós percebemos redução na tendência de mortalidade por arma de fogo no início dos anos 2000, mas, nos números totais, o que vimos foi uma inclinação de aumento porque existe a substituição dos métodos”, explica a pesquisadora.
Na região Norte houve maior possibilidade de morte nos períodos de 1980 a 1994 e de 2010 a 2019, considerando o total de suicídios, mas para os causados por arma de fogo, os dados não foram estatisticamente significativos em nenhum período.
A região Nordeste apresenta um cenário similar, com aumento do número total na década de 1980 e entre 2000 e 2009, mas redução no risco de morte por instrumento letal em todos os períodos.
E nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, houve diminuição da probabilidade de suicídio nos períodos de 2005 a 2014 e de 2000-2019 para o mesmo ato com uso de arma de fogo.
A pesquisa ressalta que, em locais com alta vulnerabilidade socioeconômica, o SIM apresenta limitações de registro.
Em contraste, existem os casos em que a morte é registrada, mas a causa não, fato atribuído ao estigma presente principalmente em classes socioeconômicas mais altas.
O estudo buscou minimizar essas limitações aplicando técnicas de correção dos registros e das subnotificações.
Os maiores percentuais de aumento nas taxas de suicídio após o processo de correção foram observados nas regiões Norte (+43,08%) e região Nordeste (+27,92%) e os menores, no Sul (+6,95%) e Sudeste (11,44%).
Em todas as regiões, houve um aumento progressivo da mortalidade total conforme a população masculina envelhecia, enquanto o coeficiente para gerações mais jovens demonstrava redução.
A partir do final dos anos 1990 e no início dos anos 2000, os suicídios causados pelo uso de armas de fogo apresentaram menores índices de óbitos em todas as faixas etárias, mas, em contraste, no mesmo período, foi observada uma tendência de maior mortalidade total entre as pessoas mais velhas.
O intervalo de idades em que houve o aumento mais acentuado no período foi a de homens de 35 a 49 anos.
Para pessoas idosas, os índices de suicídio também são expressivos e, no mundo todo, chegam a ser oito vezes maiores em comparação com os de pessoas jovens.
Apesar disso, os autores frisam que o aumento das taxas entre pessoas mais novas parece ser uma propensão global e que se esperava uma diminuição mais significativa nas causas de morte por arma de fogo de indivíduos com idade entre 20 e 24 anos; no entanto, os dados revelam números elevados tanto em grupos de 20 a 24 anos como de 25 a 29 anos.
Esse cenário sugere que a restrição do acesso legal a armas de fogo não tem sido suficiente para promover a redução desse problema em grupos etários com menos idade.
A restrição do acesso a meios letais como uma iniciativa preventiva é uma das conclusões evidenciadas pelos dados, embora não seja suficiente para diminuir os índices, já que se observa um cenário de substituição dos métodos quando há dificuldade de obtenção de armamento bélico.
A pesquisa de Weverton Rodrigues conclui que políticas públicas, atenção psicossocial e programas educacionais são medidas necessárias para o processo de prevenção.
“É importante, ainda, treinar profissionais da saúde, familiares e educadores para identificarem os riscos do adoecimento psíquico em pessoas próximas, para que possam prestar o apoio e o cuidado adequados”, esclarece o pesquisador.
Além de Weverton Rodrigues e da professora Karina Cardoso Meira, participaram do estudo os pesquisadores Taynãna César Simões (Instituto René Rachou, da Fiocruz), Carinne Magnago (Universidade de São Paulo), Eder Samuel Oliveira Dantas (Hospital Universitário Onofre Lopes, da UFRN), Raphael Mendonça Guimarães (Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca), Jordana Cristina de Jesus (PPGDEM/UFRN) e Sandra Michelle Bessa de Andrade Fernandes (Escola de Saúde da UFRN). O artigo foi publicado na revista científica PLOS One.
A professora Karina Meira ressalta que essa investigação faz parte de um projeto maior intitulado “Suicídio no Brasil: qual o efeito contextual da pobreza, desigualdade social e acesso aos meios de perpetração?”, coordenado por ela.
Outros três artigos foram publicados pelo grupo, um sobre suicídio em mulheres no Nordeste brasileiro, suicídios no estado do Rio Grande do Norte sob a perspectiva de gênero e suicídio de mulheres no Brasil: necessária discussão sob a perspectiva de gênero.
Descrição Jornalista
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