Governo Federal 07/03/2023 10:00

Desenrola: confira o que se sabe sobre programa que vai renegociar dívidas de 37 milhões de brasileiros

O objetivo é cobrir um total de R$ 50 bilhões em débitos. Os detalhes foram fechados ontem entre Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o programa Desenrola, de renegociação de dívidas, deve alcançar 37 milhões de pessoas.

O objetivo é cobrir um total de R$ 50 bilhões em débitos. Os detalhes foram fechados ontem entre Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. De acordo com o ministro, o programa será lançado após a conclusão da plataforma que vai reunir devedores e credores.

Para garantir que os juros sejam atraentes para quem tem dívidas em atraso, o governo fará um aporte de R$ 10 bilhões no Fundo de Garantia de Operações (FGO).

Trata-se do mesmo fundo garantidor usado para abastecer o Pronampe, programa criado durante a pandemia para financiar micro e pequenas empresas. Ele será usado para cobrir a inadimplência nas operações voltadas para quem tem renda de até dois salários mínimos.

Segundo Haddad, o fundo garantidor é justamente um dos pontos fortes do programa. Ao cobrir o risco de não pagamento na baixa renda, o mercado poderia oferecer juros menores a este segmento. A partir de dois salários mínimos, porém, não haveria cobertura, o que tende a deixar os juros maiores.

— Os credores vão entrar num programa pelo tamanho do desconto que se dispuserem a dar para os devedores, justamente aqueles que estão com o CPF negativado na Serasa ou empresas semelhantes a essa. O desenvolvimento do sistema vai ser contratado. E nós vamos lançar o programa quando o sistema estiver pronto — disse.

O ministro afirmou que a proposta envolverá uma medida provisória a ser aprovada pelo Congresso Nacional. Ele explicou que, assim que o desenho for fechado, será apresentado a Lula e encaminhado ao Legislativo. Haddad informou que não haverá linha de corte — ou seja, todos que estiverem endividados poderão procurar o programa.

O objetivo do programa será renegociar dívidas de até R$ 5 mil, incluindo beneficiários do Bolsa Família, e isso vai incluir todo tipo de débito, menos as dívidas com o setor público.

Hoje, a maior parte das dívidas negativadas do país (66,3%) não é com bancos, e sim com varejistas e companhias de água, gás e telefonia. As dívidas poderão ser refinanciadas em até 60 meses.

A ideia é que bancos, varejistas, companhias de água, luz, telefonia e outras empresas participem das negociações. Os credores só poderão acessar o programa se concederem descontos na dívida. Essa será uma condição obrigatória para participar do Desenrola.

O programa que está sendo desenvolvido pelo governo vai concentrar em uma mesma plataforma devedores, credores e bancos. Hoje são dados que estão descentralizados e ainda precisarão ser unificados. Essa plataforma será gerida pelos bureaus de crédito, como a Serasa e o SPC.

Haverá um site em que o consumidor, com o uso do CPF, irá consultar suas dívidas e demostrar interesse em negociar. As empresas credoras poderão fazer uma oferta de desconto. O programa só refinancia até R$ 5 mil por pessoa.

Se um interessado tem dívidas de R$ 10 mil, por exemplo, ele não pode refinanciar todo esse montante. Será dada prioridade à instituição que oferecer maior desconto. Ou seja, se ele tem débitos com bancos, varejistas e empresas de consumo, passa na frente a que oferecer maior abatimento.

De outro lado, o credor oferece desconto único para todo tipo de devedor. Ou seja, se um banco oferece 40% de abatimento e outro oferece 30%, o primeiro passa na frente.

O ministro destacou que o programa não envolve dívidas com o setor público, mas apenas junto ao setor privado. Enfatizou que, quanto maior for o desconto, mais chances o credor terá de receber. O programa ficará sob o comando de Marcos Barbosa Pinto, secretário de Reformas Econômicas do Ministério da Fazenda.

O mais recente levantamento da Serasa, com dados de janeiro de 2023, indica que a inadimplência no Brasil voltou a crescer. Com um aumento de mais de 600 mil pessoas, o indicador de inadimplência aponta 70,09 milhões de brasileiros com o nome restrito. Os brasileiros de 26 a 40 anos se destacam na faixa etária, representando 34,8% do total dos inadimplentes.

Além de ser uma promessa de campanha, um programa que dê alívio para famílias endividadas pode ajudar o governo a aumentar o consumo. Com previsões de crescimento neste ano próximas a zero, a gestão Lula busca formas de alavancar a economia. A possibilidade de crescimento baixo é um dos motivos que levaram o presidente a centrar fogo no Banco Central, por causa da taxa de juros de 13,75% ao ano.

Para especialistas, ainda há dúvidas quanto à adesão de bancos, varejistas e ao abatimento que estão dispostos a oferecer.

— Para a renegociação ter sucesso, é preciso que as varejistas e os bancos participem, oferecendo bons descontos que possam atrair os clientes com débitos em atraso — afirmou Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac).

Ele lembra que os bancos tiveram os balanços afetados pelo aumento da inadimplência — o que até poderia levá-los a oferecer descontos, para reduzir as perdas — e pela crise da Americanas — que, por outro lado, os deixa mais cautelosos na hora de negociar.

Outro ponto é que as próprias instituições financeiras lançaram este mês um programa de renegociação de dívidas por meio da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban).

A Serasa também lançou mais uma edição do seu mutirão nacional de negociação de dívidas, com descontos de até 99%, que vai até o dia 31.

Oliveira classifica o programa do governo como um avanço, que pode ser benéfico para todos, já que os clientes terão 60 meses para pagar. Para os credores, há o fundo garantidor de R$ 10 bilhões para amortizar a inadimplência, o que também ajuda a impulsionar o programa.

— É melhor ter isso do que nada. Mas vai depender muito do tamanho do desconto que será ofertado. É isso que pode ajudar a atingir o objetivo, que é reduzir o número de pessoas no cadastro de inadimplentes. Mas é preciso lembrar que as dívidas estão em atraso e, portanto, corrigidas com juros e multas elevados. Então, mesmo com desconto, elas ainda podem ficar com um valor alto, inviabilizando uma negociação e um acordo. Por isso, é preciso ver qual será a adesão e quais os percentuais de desconto e juros a serem ofertados para seduzir o cliente — diz Oliveira.

Para César Bergo, economista e professor de Mercado Financeiro da Universidade de Brasília, e conselheiro do Conselho de Economia do DF, o programa é importante porque a inadimplência está muito alta. Além disso, ele em foca em famílias de baixa renda. A renegociação vai ajudar as pessoas a voltarem ao mercado e a gerir seus orçamentos.

— Para os credores, há dificuldade de receber os recursos e é vantagem reaver uma parte, em função do tamanho do desconto oferecer. É importante o governo entrar nessa negociação como mediador. É necessário este programa em termos de recomposição de renda — diz Bergo.

Ele observa que seria importante exigir uma contrapartida de quem aderir ao programa, como fazer um curso sobre educação financeira.

Deu em Yahoo

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista